Páginas

Wiliane Maine

O ENSINO DE HISTÓRIA: NOVAS LINGUAGENS E RECURSOS METODOLÓGICOS
Wiliane Maine do Nascimento
UFRN

Introdução
Quando analisamos o contexto da sala de aula, vemos que ainda é predominante a ideia entre alunos, e a indagação dos mesmos, para que serve o ensino em suas vidas. Isso ocorre com todas as disciplinas, inclusive História. Infelizmente ao longo dos anos criou-se a ideia de que o Ensino de História nada acrescenta na vida dos estudantes, e que no processo de aquisição de conhecimento, a mesma só serve para a memorização de grandes nomes, fatos e datas marcantes. Todavia, essa posição favorece que o Ensino de História desperte pouco interesse dos alunos, dificultando o ensino-aprendizagem.
Após o fim da Ditadura Militar no Brasil, ocorreram transformações significativas e a Educação Brasileira passou por momentos de revisão, segundo Schmidt e Cainelli o Ensino de História ganhou novas finalidades, e com isso:
Contribuição para a construção da cidadania; Desenvolvimento de raciocínios historicamente corretos; Aquisição da capacidade de análise da relação passado–presente e vice versa; Apreensão da pluralidade de memórias, e não somente da memória nacional, preocupação com as finalidades do ensino da História no mundo contemporâneo. (SCHIMIDT; CAINELLI, 2004, p.15)
É a partir das décadas de 80 e 90 que profissionais se empenham na (re) valorização da disciplina, como conhecimento fundamental na formação critica-reflexiva de um cidadão. Uma dessas novas estratégias fundamenta-se em colocar em evidências, novos temas e novos objetos para a construção do conhecimento histórico. Nessa perspectiva, surgem novas abordagens teórico-metodológicas que praticam a chamada “história vista de baixo” ou ainda “excluídos da história”. Dado isso, tornaram-se objetos e sujeitos do conhecimento histórico temas que fazem referência à história da mulher, da criança, do negro, do Índio, do trabalhador e assim por diante. Portanto,
Procura–se dar voz aos excluídos, ora tentando introduzir novos materiais, novas fontes, novas questões sobre os esquemas preexistentes. (...) As propostas expressam a necessidade histórica de trazer para o centro da reflexão, ações e sujeitos até então excluídos da História ensinada na escola fundamental. (FONSECA, 1993, 109).
Diante do que foi apresentado, é interessante e imprescindível propor um ensino no qual, desperte no aluno novas visões de mundo, deixando de lado aquela velha concepção de uma história memorizada, e propor novas linguagens e recursos pedagógicos que incentivem e contribuam para o desenvolvimento critico-reflexivo e social do aluno tanto no ambiente escolar, como no mundo em que o rodeia.

O ensino da história e os novos meios midiáticos
É no espaço escolar que professores e alunos passam a maior parte do tempo, trocando experiências que vão desde assuntos pertinentes à escola, a conflitos pessoais. É nesse ambiente que ocorre troca de informações, e com a globalização o mundo está evoluindo cada vez mais, se modernizando principalmente, mas, a questão é, será que os professores de hoje em dia estão conseguindo acompanhar essas novas mudanças que ocorrem no meio midiático? Como introduzi-las em sala de aula? Isso facilita ou interfere no ensino-aprendizagem?
As Novas Tecnologias da Informação e Comunicação – NTIC – que vão desde jornais, televisão, cinema, vídeos, fotografias, computadores, celulares, dentre outros mais recentes como a internet, disponibilizam uma gama de oportunidades que quebram com aquela rotina livresca, decorativa e enfadonha. É ai o grande desafio do professor, principalmente de História, repensar práticas que levem a melhoria do seu trabalho, tornando-o instigante/incentivador. Desde a última década do século XX, professores de História têm a chance de pesquisar e “navegar” em acervos riquíssimos, como museus e bibliotecas virtuais. Isso não quer dizer que, o livro didático seja deixado de lado, pois continua sendo a principal ferramenta do seu trabalho e atende a muitos anseios do profissional, o que se sugere é que o professor possa abrir espaço para essas novas tecnologias que facilitam e ajudam no processo de construção de conhecimento. “[...] é preciso utilizar materiais que permitam a construção do texto histórico e atividades intelectuais que encaminhem o aluno para o desenvolvimento do pensamento histórico.” (ABUD; SILVA; ALVES, 2010, p. 13).
A sociedade não é a mesma há tempos, é notório como a mesma passa por transformações, dia após dia, e assim como as pessoas, tudo muda. É dever do historiador perceber essas mudanças e usá-las ao seu favor. É imprescindível que o professor de história articule novas formas de aproximação à realidade presente com o ensino da disciplina em que o mesmo leciona. Não podemos deixar de observar que a sociedade está oferecendo muito mais do que imaginamos aos alunos, e se os profissionais não acompanharem essas mudanças, dificilmente conseguirão ter êxito no trabalho, e a história ainda continuará sendo considerada pura nostalgia. É importante despertar nos educandos a curiosidade e o prazer de se estudar História.
Essas novas tecnologias vieram para transformar o ensino, uma vez que, se usados de forma correta, tornam o ambiente escolar um local prazeroso, instigante e que promove e partilha solidariedade.

O ensino de história e a utilização de várias linguagens
Como já mencionado anteriormente, para desvencilhar aquele velho modelo tradicional de se estudar História, os professores podem fazer uso de novas tecnologias ou introduzir novas práticas metodológicas na sala de aula, dentre elas, trabalhar com fotografias, imagens, filmes e músicas. Bittencourt (2005) aponta diversas linguagens que podem auxiliar o professor em sala de aula, abrindo um leque de possibilidades tanto para pesquisadores quanto para professores de história:
Imagens diversas produzidas pela capacidade artística humana também nos informam sobre o passado das sociedades, sobre suas sensações, seu trabalho, suas paisagens, caminhos, cidades, guerras. Qualquer imagem é importante, e não apenas aquelas produzidas por artistas. Fotografias ou quadros registram as pessoas, seus rostos e vestuários e são marcas de uma história. Produções modernas, como filmes, registram a vida contemporânea e reconstroem o passado, revivendo guerras, batalhas e amores de outrora, ou ainda imaginam o tempo futuro [...] Os filmes não são registros de uma história tal qual aconteceu ou vai acontecer, mas representações que merecem ser entendidas e percebidas não como diversão, mas como um produto cultural capaz de comunicar emoções e sentimentos e transmitir informações. (BITTENCOURT, 2005, p. 353)
Essa nova forma de se estudar História, é bastante instigante uma vez que além de tornar melhor a relação de aluno com professores – no âmbito do diálogo e interatividade, o educando deixa de ser apenas um mero receptor de informações e passa a ser um sujeito ativo na sua própria aprendizagem. Enfim, para que tudo isso aconteça, deve haver uma cooperação entre a escola, professor e alunos. Pois, se houver interesse de ambas as partes, será possível um aprendizado gratificante e com vários resultados positivos.

Considerações finais
Diante do que já foi exposto aqui, fica claro que a modernidade chegou a nossas casas, nas pessoas, nos objetos, nas instituições. Não há mais como negar o quanto o uso de novos recursos/linguagens possibilitam um melhor aprendizado. A utilização de uma nova metodologia pode acrescentar muito na prática da docência em História. Ainda que essas renovações que estão acontecendo no Ensino de História sejam relevantes para o ensino, ainda iremos encontrar profissionais, os quais mantêm abordagens tradicionais, tornando a aula de História árida e monótona. Entretanto, o Ensino de História, ao estimular o contato com o real, prepara os alunos para os diferentes segmentos da sociedade, e assim com o uso dessas novas metodologias, o ensino se tronará significativo.

Referências
ABUD, K. M.; SILVA, A. C. de M.; ALVES, R. C. Ensino de História. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
BITTENCOURT, C. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005.
FONSECA, S.G. Caminhos da História Ensinada. 7. ed. Campinas: Papirus, 1993.

14 comentários:

  1. Boa noite!
    Excelente texto que nos instiga à reflexão concernente aos métodos de ensino de História. Considero imprescindível sempre lembrarmos o papel das aulas de história para a formação da cidadania, principalmente num país como o nosso onde a mídia possui um domínio avassalador sobre os jovens... e cujo sistema educação é um tipo de adestrador para processos seletivos (e só!). Nessa perspectiva, o professor deve seguir um programa, muitas vezes arcaico e distante da realidade do estudante. Portanto, esse texto me fez pensar na seguinte questão: Como fazer o estudante se "sentir em casa" se a grade curricular exige que eu ensine a ele o Egito Antigo, por exemplo? Como convidá-los a refletir sobre os processos históricos que desembocou em guerras de facções em nossa cidade se eu devo fazer o estudante ler sobre As Cruzadas?
    JOSÉ JANILTON GONÇALVES DA SILVA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá caro José Janilton!
      Bom, primeiramente obrigada pelo elogio ao texto, e vamos a questão.
      Atualmente é notório percebermos o quanto as mídias vem influenciando os nossos jovens estudantes. As mídias tem lá os seus benefícios bem como os seus malefícios. É aí que nós enquanto educadores desses jovens temos que pensar uma maneira de instigá-los a ver com outros olhos tanto a disciplina de História, quanto as demais. Todavia, o livro didático é um instrumento imprescindível no processo de ensino aprendizagem, mas, não o único. Realmente a grade curricular tem lá alguns assuntos que não agradam a muitos, mas, Imagine um professor de História que não gosta de falar por exemplo, sobre as civilizações, como acha que os alunos reagiram ao ver na figura do professor em total desinteresse pela matéria, ao usar somente leituras e exercícios na aula? É aí que devemos repensar nossa profissão, que embora seja um trabalho árduo, é também muito gratificante. Como você mencionou acima, na minha opinião, fazer os alunos "se sentirem em casa" é você abrir as portas para o que lhes mais chama atenção na contemporaneidade. Que tal em uma aula sobre Egito, você trabalhar com paródias sobre o tema? que tal mostrá-los um vídeo retratando aquele período? mostrar em slide a diferença da religião egípcia em relação as que conhecemos hoje. Em relação aos processos históricos que você citou, eu acho importante enquanto professores, fazer com que os alunos tenham consciência desses grandes acontecimentos da História. Seja lá de qual período for, é imprescindível terem a noção de que a História trabalha com temas que já foram reais, que aconteceram e é por meio desse estudo que queremos que alguns acontecimentos não ocorram mais, embora não é o que vemos atualmente.

      Excluir
  2. Texto rico em conhecimento, tendo me passado um grande leque de possibilidades do ensino de História na sala de aula. Fico profundamente agradecido.

    Agora vamos à pergunta, com toda a sua dissertação e a citação de Bittencourt, eu pude compreender a importância de uma inovação no ensino. Visto que há interdisciplinaridade entre História e outras matérias, eu posso usar pinturas, como a de Rugendas, para retratar cada período ou tema em questão com os alunos?

    Agradecido,
    Maicon Alan Santos Ventura.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Caro Maicon,
      Fico feliz com sua participação, e que o texto tenha te ajudado a pensar novas possibilidades para o ensino de História.
      Bom, Com certeza, Rugendas tem obras fantásticas!Como toda linguagem, as imagens são criações culturais que comunicam
      ideias e sentimentos. Por isso, existem métodos de leituras de imagens, metodologias que se dedicam a interpretar os documentos iconográficos. Ao problematizar uma imagem você consegue extrair dela muitos "fatores" do período em questão como por exemplo, vestimentas, como viviam etc.
      Cordialmente

      Excluir
  3. Parabéns pelo texto, Wiliane. Diante de tudo o que você expôs no seu texto, como você acha que os professores de História podem agir para provocar o verdadeiro interesse dos alunos pela disciplina? Como podemos convencer os alunos de que conhecer História é fundamental para sua formação cidadã?
    Digo isso porque temos convivido com uma realidade em que o alunado (reproduzindo aquilo que recebe do meio) vê a escola apenas como uma fase preparatória para seu futuro emprego, não conseguindo enxergar a oportunidade de formação mais profunda que tem diante de si.

    GUILHERME CYRINO CARVALHO

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Obrigada Guilherme!
      Para muitos alunos História é apenas um amontoado de dados e fatos referentes ao passado. Nós professores dessa área, temos que transformar essa mentalidade que ainda predomina, onde colocam o ensino de História como um ensino memorizado. O ensino da história vai além de transmitir conhecimentos de determinada localidade, ambiente em que os alunos vivem, por exemplo, é fundamental que o mesmo conheça a história de seu cotidiano, da sua família, como também de seu Estado, País e do mundo, por que temos essa política, esta economia, essa língua, para assim compreender o porquê e como chegamos até aqui,. Enfim, é imprescindível mostrar ao aluno que ele é um sujeito histórico. Pereira (2013, p. 13) relata o porquê é importante estudar história: O conhecimento da história da civilização é importante porque nos fornece as bases para compreender o nosso futuro, permite-nos o conhecimento de como aqueles que viveram antes de nós equacionaram as grandes questões humanas.

      Excluir
    3. Olá. você comenta acima que o aluno é um sujeito histórico? Essa não é uma concepção bem positivista não? E se trocássemos sujeito por objeto histórico?

      Excluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Olá,
    No caso da utilização de várias linguagens historiográficas que podemos utilizar dentro de sala de aula, quais os principais problemas encontrados pelos professores? Percebemos que o livro didático, embora questionado e mesmo limitado, ainda apresenta ferramentas da mais alta importância para a atuação do professor no planejamento das aulas, o que você acha?
    Rodrigo Henrique Araújo da Costa

    ResponderExcluir
  6. Boa tarde, professora. Gostei muito de seu texto. Como, também professor de História, percebo que é importante o de outras ferramentas para a assimilação dos conteúdos. Diante do seu texto gostaria de saber qual seria o caminho mais "correto", se assim podemos dizer, de utilizar as multimídias, no seu ponto de vista?

    Dione Pereira Barbosa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Dione! Fico feliz que tenha gostado!
      As multimídias são interessantes pois induzem os estudantes a tirarem conclusões próprias. Estes objetos instrucionais aproximam o conhecimento da vida do aluno, habituado à linguagem digital. Sabemos que "prender" a atenção dos alunos é uma tarefa difícil. Você conhece aquele ditado: "se não puder vencê-la, junte-se a ela"? pois então, a tecnologia vem nos proporcionando algo novo, capaz de transformar o ensino, quando usada adequadamente. Como por exemplo, caso em um aula você vá utilizar slides, tenha cuidado com o amontoado de informações, procure resumir e use combinações de cores simples, não esqueça das imagens. Outro exemplo é o vídeo, filmes, reportagens sobre os assuntos que você está tratando,são ótimas opções, só tenha atenção em relação aos filmes, indicação de idade e etc. O importante é você transformar sua aula, levá-la além da lousa e leituras no livro didático. Verás que os resultados serão positivos.
      Espero ter ajudado.

      Excluir
  7. Oi , Wiliane!

    O seu texto sinaliza a utilização das múltiplas linguagens no ensino de História. No entanto, sabemos que as tendências teóricas acerca desses procedimentos metodológicos são recentes, que estes referenciais teóricos muitas vezes não chegam nas escolas, não chegam aos professores. Que a maioria dos cursos de licenciatura em história não ampliam o debate sobre o que e como ensinar os conteúdos de história na educação básica, legando essa responsabilidade tão somente as disciplinas chamadas "pedagógicas". O que fazer para motivar os professores e alunos de graduação a se apropriarem desses materiais e tornarem o ensino de história mais interativo e significativo do ponto de vista prático para os estudantes de história da educação básica.
    Abraços e bom termino de evento!
    Parabéns pela exposição do texto!
    Antônio

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.