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Prisciéle Maicá

ENSINO DE HISTÓRIA: NARRATIVAS DE ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, UEL
Prisciéle Maicá Silveira
Mr. História UEL

Introdução
Este artigo é parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvido em 2014 com orientação da Profa. e Dra. Maria de Fática da Cunha no curso de licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina (UEL). O objetivo geral do trabalho foi investigar o que os alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da UEL pensavam sobre o mesmo, suas expectativas, questionamentos e a concepção de história das duas séries. A coleta de dados foi através de questionário diferenciado para cada série, e as respostas foram analisadas e categorizadas de acordo com a análise de discurso de Laurence Bardin (1977).
Apresentamos aqui parte dos resultados da pesquisa realizada em 2014, destacando as narrativas produzidas pelos alunos do 1º ano em resposta às questões 4, 6 e 8 do Questionário, com a intenção de identificar se os ingressantes no curso possuem como meta a docência, ou se pretendem/ou gostariam de trabalhar exclusivamente como pesquisadores, se fosse possível. Importante destacar que recebemos 12 questionários respondidos pelos alunos (matutino e noturno) do primeiro ano do curso e substituímos os nomes pelos códigos de G1 à G12.

Questionário entregue aos alunos do 1º ano do curso de História da UEL 2014
1.      Por que escolheu o curso de História?
2.      O curso de História é muito diferente do que você imaginava no ensino médio?
3.      O que é História para você?
4.      Você gostaria de dar aulas de História (ensino fundamental, médio ou superior)? Por quê?
5.      Você gostaria de iniciar um trabalho de pesquisa? Em qual área e por quê?
6.      Se fosse para lecionar História, qual conteúdo você acharia mais interessante de trabalhar? Por quê?
7.      O que você achou mais difícil até agora no curso de História?
8.      Se fosse possível, você preferiria não dar aulas? Por quê?

Quanto à docência
Considerando que o curso de História na UEL é de licenciatura, o objetivo, portanto, é formar professores, diante disso nos questionamos: Os alunos do primeiro ano estão alinhados com esse propósito? O objetivo deles é formarem-se professores e atuarem na área? Analisando as respostas em relação à questão nº 4 (Você gostaria de dar aulas de História (fundamental, médio, ou nível superior)? Por quê?), observamos os seguintes resultados.
Todos os 12 graduandos disseram que “sim”, querem dar aula de História, sete desejam dar aula para o ensino médio, quatro gostariam de dar aulas para o ensino fundamental, e sete tem interesse em lecionar no ensino superior. Os graduandos G5 e G10 não responderam em qual nível gostariam de dar aulas.
Os motivos que levaram a escolha do nível de ensino foram basicamente três: Primeiro, participar do processo de construção de conhecimento do aluno e poder ver sua aprendizagem (narrativa G1). Segundo, fazer com que os alunos gostem de História e entendam sua importância (narrativa G2):
G1 Sim e em qualquer um dos 3 níveis de escolarização, pois acredito que a aula é o momento em que o professor solidifica o seu próprio conhecimento, além de mediar a construção do conhecimento do aluno também, e acredito que deva ser muito gratificante poder participar desse processo. (grifos nossos).
G2 Sim. Meu desejo em fazer/cursar história surgiu com o interesse de dar aula, mais especificamente no ensino médio. O motivo é fazer com que os alunos gostem de história e entendam a sua importância. (grifos nossos).
E terceiro, para aqueles que escolheram o ensino superior, a justificativa está no fato de dar aulas para adultos que escolheram estar ali e tem interesse pela História:
G11 Superior. [...] é que no ensino superior o professor convive com adultos, que teoricamente estão ali porque querem e por interesse próprio e se não, tem liberdade de não escutá-lo. Aluno e professor estão em sala por um interesse em comum: o estudo da história, o que torna o “trabalho” muito mais prazeroso. (grifos nossos).
Em relação à questão nº 6 do Questionário (Se fosse para lecionar História, qual conteúdo você acharia mais interessante de trabalhar? Por quê?) nota-se um interesse maior pelos conteúdos contemporâneos, o que podemos dizer, está diretamente ligado à concepção de História desses alunos, que não pensam mais a História como o estudo do passado, e sim o estudo de um contexto a partir de questionamentos do presente, com interesses que partem do presente, daí o interesse por questões contemporâneas que se relacionam diretamente com a realidade desses alunos, seu contexto histórico, a sociedade moderna.
G1 Conteúdos relacionados à História Moderna e Contemporânea, pelos mesmos motivos citados na resposta anterior, mas principalmente, Revolução Francesa, Revolução Russa, as 2 grandes guerras mundiais e Guerra Fria. (grifos nossos).
Quando G1 faz referência à sua resposta à questão anterior (a saber, questão nº 5 do Questionário) ele fala justamente do interesse em trabalhar com conteúdos que estudem a organização contemporânea da sociedade na qual está inserido e deseja pesquisar.
Em números temos o seguinte quadro, dos doze alunos, oito acreditam ser mais interessante trabalhar com História Moderna e/ou Contemporânea, e escolheriam estes períodos para lecionar. Um aluno gostaria de lecionar Teoria, mas não respondeu o porquê, e outro não respondeu essa pergunta no Questionário. Dois alunos escolheriam o conteúdo de Antiga e Medieval, segundo eles porque são períodos que fascinam.
G2 História Medieval, porque é uma matéria cheia de curiosidades que não foram bem explicadas para mim antes de entrar na faculdade. (grifos nossos).
G8 Antiga, porque é a época que mais me encanta, com suas cidades belas como Cairo, Atenas e Roma. Tanto em sua apresentação como sua forma de governo e segmentação social. (grifo nosso).
Em relação à questão nº 8 do Questionário (Se fosse possível, você preferiria não dar aulas? Por quê?), foi quase unânime. Apenas quatro dos doze graduandos, se pudessem escolher, não dariam aulas e prefeririam a pesquisa ou “outros caminhos profissionais” nas palavras de G11. Os outros oito alunos ainda que pudessem optar por não dar aulas, escolheriam lecionar. Isso é no mínimo animador, pois mesmo tendo consciência dos desafios de ser professor, há um real interesse em ministrar aulas de História.
G2 Não, porque dar aula foi e é o objetivo para eu fazer esse curso.
G6 Não. Um dos interesses é dar aulas, por isso escolhi o curso.
G9 Não, pois entrei nesse curso justamente por ser licenciatura.
Os motivos que alavancam essa decisão incluem uma preocupação em “passar o conhecimento adiante”. Os alunos acreditam que aprender e guardar para si, produzir conhecimento e não compartilhar é errado e injusto, fazer pesquisa apenas para a pesquisa é limitar ou restringir a História que deve ser ensinada. G1 e G3 expressam isso quando dizem:
G1 Não, porque para mim, o conhecimento deve ser transmitido, e acho que a forma mais democrática de transmitir esse conhecimento é nas escolas. Pois, pelo o que eu vejo, os historiadores que não estão em sala de aula, se limitam muitas vezes a escrever para acadêmicos ou pessoas que já conhecem determinado assunto, ou seja, para poucos. (grifos nossos)
G3 Não. Dar aulas é um processo continuo de atividades, o que acredito que um profissional de História deva passar, [...] e não se fechar em um mundo de teorias, as quais não possam ser compartilhadas. Por isso acredito que seja importante dar aulas, e tenho interesse. (grifos nossos)
Consciente do desafio que é ser professor, e assumindo grande interesse pela pesquisa, G4 fala da importância e do papel do professor em sala de aula:
G4 Não. Eu gostaria de dar aula sim. Como disse na outra pergunta, eu vejo a dificuldade que é ser professor hoje em dia e é verdade que eu gosto muito mais da área de pesquisa. Mas acho que todo o conhecimento que conseguimos desenvolver na pesquisa, deve ser passado para os outros, deve ser ensinado nas salas de aula. Gosto da ideia de poder ajudar outras pessoas, no caso alunos, a descobrirem e compreenderem coisas que eles nunca saberiam se não fosse por um professor. (grifos nossos)
O alvo é a licenciatura, um dos graduandos escreve que a oportunidade de fazer o curso de História em uma universidade pública e gratuita deve ser valorizada no exercício da função como professor, ele diz o seguinte: “meu principal objetivo é lecionar, [...] poder repassar todo o conhecimento que recebemos gratuitamente [...] mudar a realidade e a forma de pensar de muitos jovens de hoje.” (G8, grifos nossos).

Referências Bibliográficas
ABUD, Kátia. Conhecimento histórico e ensino de História: a produção de conhecimento histórico escolar. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora e CAINELLI, M. R. (orgs.) II Encontro Perspectivas do Ensino de História. Curitiba, Aos Quatro Ventos, 1995.
BARCA, Isabel. O pensamento histórico dos jovens. Universidade do Minho: Braga Editora, 2000.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.
BITTENCOURT, Circe F. Aprendizagens em História. In: Ensino de História: fundamentos e métodos.  São Paulo, Cortez: 2004.
CAINELLI, Marlene. “Educação Histórica: perspectivas de aprendizagem da história no ensino fundamental” In: Educar em Revista. Curitiba: Ed. UFPR, 2006 (Dossiê Educação Histórica).
FENELON, Déa. A formação do profissional de história e a realidade de ensino In: Cadernos CEDES, n. 8, São Paulo: Cortez/CEDES, 1987.
LEE, Peter. Progressão da compreensão dos alunos em História. In: BARCA, Isabel (Org.). Perspectivas em educação histórica. Universidade do Minho. CEEP, 2001. p.131-150.
LEE, Peter. Em direção a um conceito de literacia histórica. In: Educar em Revista, Ed. UFPR, Curitiba, 2006.
MELO, Maria do Céu de. O conhecimento tácito substantivo dos alunos: no rasto da escravatura In: BARCA, Isabel (org.). Perspectivas em Educação Histórica. Centro de Estudos em Educação e Psicologia, Universidade do Minho: 2001.
RÜSEN, Jörn. Didática – Funções do Saber Histórico.In: História Viva, Teoria da História III, formas e funções do conhecimento histórico. – Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2007. (Tradução de Estevão de Resende Martins).

SILVEIRA, Prisciéle Maicá. Narrativas de alunos do 1º e 4º ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Londrina: um olhar sobre o curso (2014). 2014. 62 fls. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História). Centro de Letras e Ciências Humanas. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, 2014.

8 comentários:

  1. Você já pensou em fazer o mesmo tipo de pesquisa relacionado aos estudantes do EaD (Ensino à Distância) de História? Você acha que teria diferença?

    Jean Vieira Ramos

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    1. Bom Dia Jean Vieira Ramos,
      Primeiro fico agradecida pela contribuição, de fato não havia pensado em fazer uma pesquisa assim no EAD de História, mas acredito que teriam algumas importantes diferenças, tanto na metodologia da própria pesquisa, como no resultado, já que os alunos do EAD vivem uma experiência de formação diferente de um curso tradicional presencial, podemos formular algumas hipóteses aí, sem dúvida seria uma pesquisa muito interessante e importante para esse novo campo que é o ensino a distância.
      Grata,
      Prisciéle Maicá Silveira

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Boa noite Prisciéle Maicá Silveira,
    Primeiramente gostaria de dizer que seu texto está muito bem escrito, o que facilita bastante a compreensão do mesmo. Achei extremamente interessante sua pesquisa e para ser sincera fiquei muito feliz com os resultados. Digo isto porque é nítido que os alunos possuem consciência da importância do papel do professor para os diferentes níveis de ensino. Isto posto, gostaria de realizar uma pergunta a respeito da metodologia utilizada para a categorização dos dados. O que exatamente Laurence Bardin (1977) defende em sua metodologia de análise do discurso?
    Desde já agradeço!
    Heloisa Pires Fazion

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    1. Boa Tarde Heloisa Fazion,

      Agradeço por ter feito a leitura do texto, pelos elogios e por sua contribuição com o comentário. Também fiquei animada com os resultados considerando uma turma de primeiro ano, estou desenvolvendo uma pesquisa para o quarto ano, espero que em breve eu tenha novos resultados.

      Respondendo ao seu questionamento, Laurence Bardin possui a Análise de Discurso e a Análise de Conteúdo, são duas propostas diferentes, a análise do discurso é uma metodologia quantitativa, já a análise de conteúdo é qualitativa. Na pesquisa que apresentei aqui utilizei a análise de conteúdo que defende uma metodologia parecida com a teoria fundamentada no que diz respeito a levantar as categorias durante a própria pesquisa conforme vão surgindo evidências, e não a priori. Há vários passos que a autora define para sua proposta de análise, mas basicamente ela parte da estrutura do texto para analisar seu conteúdo. Já na análise do discurso ela parte da enunciação do discurso para depois o discurso em si, em outras palavras podemos dizer que ela vê o contexto, depois o texto.

      Espero que tenha respondido a sua questão e ajudado a esclarecer de modo geral a metodologia proposta por Bandin.

      Grata,
      Prisciéle Maicá Silveira

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  4. Boa noite.

    Parabéns pelo trabalho e gostaria de levantar o seguinte questionamento:

    * Até que ponto você percebe o envolvimento efetivo das Universidades na Educação Básica, fomentando inquietações que propiciem uma diminuição do distanciamento entre a Academia e Escola? Buscando dialogar teoria e prática, porque sabemos que os respectivos Sistemas de Ensino não conseguem suprir a demanda teórica, com discussões que maximizem a melhoria na sala de aula.

    Atenciosamente,

    Maria Raquel Moreira Leite.

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    1. Boa Tarde Maria Raquel Leite,

      É difícil mensurar esse envolvimento de todas as universidades brasileiras nas escolas, o que posso afirmar é que estávamos vivenciando um período de incentivo com algumas ações e iniciativas que fomentavam o envolvimento da pesquisa com o ensino, muitas bolsas foram concedidas e projetos como o PIBID, por exemplo, aproximou as universidades das escolas, infelizmente hoje temos visto um movimento contrário a esses incentivos. Diante disso, precisamos nos lembrar que a "academia" e a "escola" são lugares onde pessoas trabalham, convivem e aprendem, ou seja, como pessoas nós precisamos tomar iniciativas, enquanto professores conscientes da importância dessa aproximação é fundamental promovermos esse diálogo, tanto buscando na academia a atualização que o campo exige, quanto atuando na escola de forma a desenvolver nos alunos a capacidade de produzir novos conhecimentos, essa seria uma relação ideal, é claro que fazem parte dessa dialogia uma gama de dificuldades, o que não podemos é esperar de outros ou de entidades as pequenas ou grandes iniciativas e projetos que precisam de nós professores. É na sala de aula da escola e da academia que se pode fomentar inquietações que propiciem a diminuição desse distanciamento, como você bem colocou.

      Agradeço muito seu questionamento, me fez refletir sobre isso no que diz respeito a minha própria caminhada como professora que está só começando.

      Prisciéle Maicá Silveira

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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