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PRÁTICA DE HISTÓRIA E TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: POSSIBILIDADES PARA O PROCESSO DE ENSINO E PESQUISA ATRAVÉS DA INTERNET
Paulo Henrique de Souza Martins
Dnt. História UFC

Enquanto professor da disciplina de “Prática IV – Prática de História e Novas Tecnologias”, integrante da matriz curricular do curso de licenciatura em História da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, em Sobral-CE, tive a oportunidade de desenvolver vários experimentos de ensino e pesquisa mediados por aplicativos, redes sociais, plataformas, em suma, tendo a internet como espaço de realização. O relato que aqui se faz procura apresentar algumas questões relacionadas a essas experiências.
Um primeiro elemento digno de nota é que a maioria dos alunos que ingressam na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA são residentes em municípios da zona noroeste do Ceará e deslocam-se para Sobral todos os dias em viagens longas e exaustivas. A possibilidade de desenvolver uma disciplina em que as discussões, leituras, atividades individuais e em equipe possam ser realizadas sem a necessária reunião presencial e sincrônica da turma, através da utilização da internet, surge como uma perspectiva não só de inovação cada vez mais premente nos dias atuais.
A disciplina é ofertada no 7º semestre da matriz curricular, logo, na reta final do curso de graduação, em que os alunos já passaram por praticamente todas as disciplinas “de conteúdo”. Embora em todas as atividades propostas houvessem temas ligados à história das sociedades brasileira, europeia, americana, os exercícios procuravam mesmo desenvolver-se enquanto aprendizado metodológico, visto que almejávamos simular situações e desafios que os futuros licenciados encontrarão nas turmas de educação básica com crianças e adolescentes.
Uma das atividades procurou simular um debate em sala de aula. Para tanto, criamos um grupo fechado no Facebook. Ali postei uma matéria publicada na revista de História da Biblioteca Nacional, e levantei um questionamento/provocação para os alunos debaterem, com o compromisso de todos apresentarem pelo menos uma contribuição original e duas interações com os demais colegas. A atividade durou uma semana e foi um sucesso, visto que da questão original, outras perspectivas foram surgindo à medida em que o debate ia avançando. De forma virtual, conseguimos desenvolver um debate que também poderia ocorrer presencialmente, mas agregamos sugestões de matérias, vídeos no youtube, referências de pesquisas acadêmicas, etc.
Outra atividade foi a de produção de um material audiovisual para servir subsídio a aulas de história do ensino médio. As equipes selecionaram seus temas, pesquisaram, produziram o roteiro, filmaram e editaram o material de maneira criativa e descontraída. O resultado foi uma playlist de vídeos que além de exercitar a capacidade de produção autoral em outras linguagens que não a escrita, bem poderiam chegar facilmente aos estudantes do ensino médio e transmitindo mensagens, dicas e incentivos que dinamizariam os estudos na disciplina. Os futuros licenciados poderiam reproduzir experiência com seus alunos no ensino médio ou fundamental, estimulando-os a se apresentarem como sujeitos criadores de conteúdos por meio da pesquisa, do trabalho coletivo e das redes sociais.
Outra atividade buscou incorporar os jogos virtuais no processo de aprendizagem. A proposta era que cada equipe pesquisasse jogos virtuais cujo conteúdo tivesse fundamentação histórica e possa ser utilizada numa aula. As equipes descobriram vários jogos, uns mais simples, outros mais complexos, que permitiam discussões sobre a Independência do Brasil, a Primeira Guerra Mundial, a Idade Média europeia, Roma Antiga, etc. Tomando os devidos cuidados com a apresentação do conteúdo e com a condução da aula, os jogos ofereceriam uma sistemática lúdica e atrativa para aproximação com conteúdos históricos tradicionalmente tratados nos livros didáticos.
Outro recurso utilizado foi uma atividade de produção textual colaborativa, em rede e com tecnologia de acesso em nuvem. Criei um documento editor de texto para cada uma das equipes existentes em sala na plataforma google drive. Com os convites via email, agreguei todos os membros de cada equipe em seu respectivo documento, sendo eu mesmo integrante de todas as equipes. A proposta é que virtualmente, cada equipe fosse capaz de desenvolver um texto único sobre uma temática ligada à história, dialogando entre si, corrigindo-se mutuamente, numa palavra, interagindo sem as “amarras” de terem que se encontrar no mesmo lugar físico ao mesmo tempo. Cada um, ao seu tempo, apresentaria suas contribuições no processo de construção do texto. Como cada edição feita por qualquer dos integrantes ficava registrada no histórico de modificações, ainda era possível para mim verificar a efetiva participação individual dos membros numa produção que era afinal, coletiva.
Pensando na dificuldade logística que seria proporcionar uma visita aos principais museus de história no Brasil, propus uma atividade que basicamente seria levar os museus para sala de aula, através do recurso virtual. Nessa atividade cada equipe pesquisaria na internet museus virtuais, “visitando-os” para compreender seu funcionamento. Após isso, preparariam uma aula expondo para os demais colegas as características do espaço, acervo, histórico da instituição e outras informações que se fizessem necessárias. Desse modo, a turma poderia fazer uma incursão num museu através da internet, de modo que vários assuntos trabalhados em aulas do ensino fundamental e médio poderiam ser planejadas levando em consideração esse recurso. O site eravitual.org se mostrou como uma interessante ferramenta nessa atividade.
Sobre o campo da produção do conhecimento historiográfico, realizado por meio das pesquisas acadêmicas, é de conhecimento geral que a internet facilitou bastante o trabalho dos historiadores com a disponibilização de acervos de fontes primárias anteriormente acessíveis somente presencialmente nos locais em que se encontravam depositados. Pensando nessa realidade propomos a realização de uma atividade de pesquisa na internet, cujo escopo basicamente gira em torno de encontrar bancos de dados para pesquisa histórica. Projetos como a hemeroteca digital brasileira da Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional Torre do Tombo de Portugal ou a iniciativa Center for Research Libraries nos EUA são apenas três exemplos de uma tendência importante na nossa área de atuação. Uma vez realizada a investigação sobre os bancos de dados, cada equipe deve apresentar os resultados para as demais, destacando as ferramentas encontradas, os recursos, condições, limites e possibilidades.
Ainda na perspectiva da pesquisa, mas não somente restrita a essa, pensamos noutra atividade que somente é possível graças à internet: redes de interação entre profissionais de história. Esperamos desenvolver uma atividade que explore recursos abertos pelo site http://www.cafehistoria.com.br/que reúne professores, historiadores e alunos de todos os níveis interessados na área. Outra rede social interessante é o https://www.academia.edu/mais voltado para o compartilhamento de papers e estabelecimento de contatos e interações entre profissionais e instituições de todo o mundo.

De alguma maneira, o desenvolvimento dessas práticas na graduação se insere num quadro mais amplo do devir profissional do historiador. Muita das vezes a escrita da história por parte de historiadores é realizada para atingir somente aos seus pares e o conhecimento histórico para o grande público é aquele que é produzido por escritores, jornalistas e profissionais das áreas mais distintas. Antes de nos pormos a reclamar de uma suposta “invasão de campo”, é necessário que reconheçamos nossa deficiência em tornar nosso conhecimento receptível ao público não especialista. As searas discursivas abertas pela chamada “história pública” são, no meu entendimento, uma das fronteiras mais dinâmicas que os profissionais de história estão a expandir. Certamente, as redes sociais e as tecnologias de informação e comunicação têm enormes potenciais nessa área. Essa é uma perspectiva que a disciplina de “Prática de História e Novas Tecnologias” que ora ministro pela segunda vez ainda vai desbravar.

6 comentários:

  1. A utilização de mídias e novas tecnologias em sala de aula pode ser uma experiência proveitosa, tanto para professor quanto para alunos. Vivemos em um mundo cercado de tecnologia e negar que vivemos esta realidade pode tornar o ambiente escolar ainda menos chamativo para o aluno. Um professor com um livro, um giz e a vontade de ensinar também faz a diferença. Mas por que não integrar a tecnologia para facilitar o processo de ensino-aprendizagem? Não podemos negar que as escolas, principalmente em nosso país, mantêm as raízes das escolas do século XIX, transformando-a em um lugar pouco atrativo para o aluno. A geração Z, pessoas nascidas depois de 1994, e que compõem boa parte da parcela dos alunos do ensino médio e fundamental, é uma geração que se acostumou com o dinamismo e com o ritmo acelerado das coisas. Neste sentido, ficar mais de quatro horas sentado em uma cadeira por vezes desconfortável parece se tornar mais um desafio para o professor. A tecnologia pode ser utilizada tanto para aproximar professores e alunos, além de ser útil na pesquisa de novos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Com isso, é inegável a necessidade de adequação aos novos tempos com novas práticas e metodologias pedagógicas. Diante disso, faço minha pergunta: como lidar com a falta de infraestrutura em tecnologia presente na maioria das escolas públicas?

    Renan Everton Bezerra de Souza

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    1. Oi Renan. Obrigado por sua intervenção e questionamento. Creio que os trabalhadores da educação que se enveredam por essa área, principalmente os da rede pública, de fato, enfrentam grandes dificuldades. Dificuldades essas que por vezes transforma-se em desestímulo quando não, barreiras mesmo. Penso que o caminho ideal para superação dessa situação deve perpassar pelo Estado, com a formulação de políticas públicas que visem atender às necessidades infraestruturais, aliadas a uma séria política de "alfabetização" digital para professores e demais trabalhadores da educação. Não resolvida essa questão de base, os esforços que felizmente vemos crescer e ter êxito, continuarão a ser quase aventuras isoladas, desperdiçando um enorme potencial de crescimento coletivo.

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  2. Entendendo que essa atividade de trabalhar o ensino de história é um desafio e tanto no ensino regular, me questiono, como é que métodos são possíveis de utilização e quais mecanismos para ampliar as possibilidades de aprendizagem ser fazer com que os alunos se "percam" no meio do caminho? Sabemos que existem muitas coisas que aparentam ser mais atrativas que o estudo, como as redes sociais. Como desenvolver atividades, no contra-turno, por exemplo, e conseguir a interação dos estudantes?

    Francisco de Souza Lima Filho

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    1. Se permite a opinião, acho que um meio viável e atrativo para esses jovens estudantes utilizado por meio das redes sociais, seriam jogos com conteúdo didático, tipo aqueles que tem no facebook, que poderia ser de perguntas e respostas, com fases de fácil a difícil, talvez esse mecanismo poderia atrair este público e ajudar na aprendizagem.

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  3. Esse mecanismo de utilizar novas tecnologias, ou seja, a internet como recurso para ampliar a aprendizagem é proveitoso e interessante para os alunos, independente do nível de ensino que esteja, é atrativo e prazeroso. Porém é necessário indagar como poderá ser utilizado esse meio em certos espaços (escolas) que não tem infraestrutura para tal ensino? Quem terá a oportunidade de dispor desses meios, todos os alunos, tanto das escolas privadas e públicas?

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  4. Cada vez mais os meios tecnológicos estão nos aproximando dos acontecimentos pele mundo a fora. Noticias surgem em tempo real, algo que há muito tempo a trás seria bem mais complexo. Essas ferramentos proporcionam um mar de conhecimento e descobrimentos. Sabemos que essas tecnologias podem ser utilizadas para diversos fins, sejam para o conhecimento ou difusão de mentiras e ódio. No meio escolar essas ferramentas são bem uteis pois, o professor como mediador entre os alunos e conhecimento poderá usufruir do equipamento que dispõem para planejar uma aula bem dinâmica e atrativa. As vezes levar os alunos a um lugar fora da escola é bem complicado devido diversos processos burocráticos. A internet aproxima essa realidade de conhecer vários locais sem sair da sala de aula. Ainda muito pode ser melhorado, mas as praticas poderão ajudar a facilitar esse encontro dos alunos com o mundo a fora.

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