Páginas

Maxuel Soares; Patrícia Azeredo; Jumara Carla

JOGOS E BRINCADEIRAS AFRO-BRASILEIRA: UMA AÇÃO DO PIBID NAS TURMAS DO 6°ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Maxuel Soares de Oliveira
Patrícia Azeredo
Jumara Carla Azevedo Ramos Carvalho
UESC

Introdução
O Brasil tem uma grande parcela de população de origem africana. Os negros que aqui chegaram muitos sofreram durante o período da escravidão. Mesmo com a Abolição dos Escravos eles continuaram a viver nesta terra formando suas famílias, suas histórias e lutando pelo reconhecimento de sua cidadania burlada pela lei e por seus “irmãos brancos”.
Como o passar de mais de 200 anos de liberdade, ainda é visível em suas atividades cotidianas pessoas que deparam com diversas situações que provocam intimidação ao ser coagido com os insultos raciais, apelidos e piadinhas racistas maquiadas com a justificativa de ser apenas uma simples “brincadeira”. Conformando-se com essas condições de racismo e preconceito, muitas vezes o negro sente-se humilhado e vítima de uma situação que remete ainda ao período da escravidão, outros já lutam pelos seus direitos de igual para igual não deixando que essas ofensas cresçam sem uma devida punição.
Esses atos preconceituosos podem ser encontrados em vários ambientes e um desses espaços é a escola que ao mesmo tempo que proporciona a aprendizagem torna-se também um ambiente de exclusão e proliferação do bullying, pois nos espaços livres ou até mesmo na sala de aula situações de preconceito e racismo acontecem com muita frequência.
Neste sentido, Érica Garrutti et. All (2004, p. 5) salienta que:
A escola possui a função de integrar o educando à sociedade, auxiliando-o na construção da identidade pessoal, em detrimento de ser mecanismo de alienação. O relacionamento flexível com a comunidade favorece a compreensão de fatores sociais e culturais que se expressam na escola.
Nesse sentido, a escola deve abordar, fundamentalmente, questões que interferem na vida dos alunos e com as quais se confrontam cotidianamente. As problemáticas sociais como: ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e sexualidade, são conteúdos essenciais nas diversas disciplinas, independentes da área da disciplina.
Partindo do pressuposto que a escola é um dos principais lugares onde as crianças e jovens possam aprender a conviver com a diversidade cultural, o respeito mútuo e a valorização do ser humano é que se pensou em desenvolver com os alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, do Colégio Tereza Borges de Cerqueira a prática de jogos de origem africana com o objetivo de trazer para o ambiente escolar ações que possam desmistificar alguns conceitos e ampliar a compreensão sobre a cultura afro-brasileira proporcionada a partir de uma aprendizagem lúdica.

Importância da cultura africana
Durante escravidão a população negra foi tratada no Brasil de forma desumana, eram definidos como um produto comercial, sem qualquer importância para sociedade, pois não eram considerados cidadãos e deles só queriam a força braçal como forma de mover a economia. Mas eles lutaram muito, obtiveram várias forma de resistência sejam elas das mais sutis até as mais violentas e esperaram bastante até que as leis se arrastassem para um desfecho final e no dia 13 de maio de 1888 foi declarado o “fim da escravidão” sem que nenhum de seus direitos fossem pagos ou a eles dada a condição de sobreviver dignamente. Porém, infelizmente, a população recém liberta ainda sofreram muito diante dos preconceitos (aos quais ainda são vitimas até nossos dias) e a eles foram designados os mais baixos trabalhos, as piores moradias e excluídos ficaram a margem da sociedade.
Jogados a própria sorte, criaram meios de sobrevivência e lutaram por dias melhores, expandiram sua cultura e fizeram valer o seu grito de liberdade, infelizmente ainda pouco reconhecido devido ao estigma da escravidão, mancha que ainda os persegue os negros são desvalorizados em sua cultura e sua religião.
Como forma de valorizar essa cultura e sua religião que o trabalho foi pensado e desenvolvido para que os alunos em contato com os jogos e brincadeiras tradicionais possam trazer benefícios para o corpo e a mente, além do mais pode-se mencionar o convívio com o outro no ato de brincar que estabelece inúmeras relações sociais com o propósito de amenizar os conflitos e criar um espaço onde eles possam respeitar a diversidade e ao mesmo tempo de forma harmoniosamente aprender com a ajuda do outros a solucionar desafios e enfrentar os problemas. Pois como cita, PIAGET (1967, p. 25) “o jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”.
Nota-se ainda, que o contato do educando com jogos e brincadeiras de interação com o outro além de proporcionar momentos de entretenimentos, proporciona incentivos a sua imaginação intelectual, a sua afetividade, ajuda mútua e a troca de experiência são elementos essenciais para atingir o campo da aprendizagem. Pois para Vygotschy (1984, p.109) “da mesma forma que uma situação imaginária tem que conter regras de comportamento, todo jogo com regras contém uma situação imaginária”, este talvez seja o grande sentido do brincar sendo que, tanto a brincadeira como o jogo no espaço escolar é de suma importância para o desenvolvimento do imaginário e sua transposição para uma situação real onde as regras do jogo tem que estar em conformidade com o vivido para que de fato eles se efetivem.
É no planejamento diário de cada disciplina que o professor tem a possibilidade de inserir em sua prática pedagógica atividades lúdicas que proporcionam a aprendizagem “brincando” uma forma mais “divertida” e “prazerosa” de mediar o conhecimento. Diante dessa possibilidade eis a disciplina de Educação Física repleta de jogos e brincadeiras que proporcionam o desenvolvimento físico, motor e social com atividades bem planejadas o professor pode mudar a sua prática pedagógica através de um bom planejamento contextualizado e de acordo com cada série.
Pois segundo Sílvia Finck:
A Educação Física proporciona às crianças competências e conhecimentos que lhe permitam chegar a ser autônomos e aprender de forma independente. Aliada ao esporte, oferece a cada criança a oportunidade de escolher, de formar valores e aptidões que favorecem a aprendizagem de forma independente, desenvolvendo a autodisciplina. (FINCK, 2011, p.79)
Ao utilizar das aulas de Educação Física como medida isolada para se trabalhar as diretrizes curriculares corre o risco de desenvolver micro-ações como salienta AGUIAR:
“É importante ressaltar que mesmo com a presença de materiais de apoio e as diretrizes curriculares que orientam a sua prática pedagógica, ainda encontramos a atuação de professores de forma isolada, sem o comprometimento da escola como um todo” (AGUIAR, 2010, p. 97)
É nesse não envolvimento da escola como um todo que perde a oportunidade de trabalhar a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade como forma de fortalecer e transmitir conhecimentos referentes a cultura africana, indígena e até mesmo a história do lugar em que vive o que também cai no esquecimento. Estar atento a essas possibilidades é oportunizar aos alunos um trabalho em conjunto, um diálogo constante e um debate acirrado, pois cada professor em sua área de atuação trarão novos elementos.
A partir dessa premissa, pensou na inserção dos jogos e brincadeiras africanas para as turmas do 6º ano A, (vespertino) do Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira no intuito de trazer para a sala de aula o universo africano e o entrelaçamento das culturas respeitando cada indivíduo em particular e incentivando os alunos a conviverem com isso, desfazendo assim antigos estereótipos que se arrastam há anos.
Através dessas práticas lúdicas pode-se desenvolver o conhecimento do continente africano trazendo para o palco da sala de aula elementos da cultura, da religiosidade, da economia, da sociedade de um povo que nos livros didáticos ainda são vistos como submissos. Contudo, convém lembrar, que a inserção dos temas da África tornou-se obrigatório nos currículos escolares com a lei 10.639 no ano de 2003 e que agora com uma nova proposta de reformulação do Ensino Médio desfaz toda essa obrigatoriedade sobre a Cultura Africana, bem como as disciplinas de Sociologia e Filosofia.
Dessa forma, temos que procurar alternativas e estratégias de manter esse ensino da História da Cultura Afro Brasileira com a intenção de expandir os conhecimentos no ambiente escolar independente de disciplina e ao mesmo tempo extrapolar os muros das instituições para que nosso alunos descobrir e aprender cada vez mais sobre a diversidade cultural que o cerca.

Referências bibliográficas
AGUIAR, Janaina C. Teixeira; AGUIAR, Fernando J. Ferreira. Uma reflexão sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana e a formação de professores em Sergipe. Revista Fórum, Itabaina, v.7, jan-jun 2010. Disponível http://200.17.141.110/periodicos/revista_forum_identidades/revistas/ARQ_FORUM_IND_7/FORUM_V7_06.pdf>. Acesso em 25 out. 2016.
BRASIL. Marcos Legais da Educação Nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007.
DIRETRIZES Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília, DF: MEC, 2004
FINCK, Silvia Christina Madrid. A Educação Física e o esporte na escola, cotidiano, saberes e formação. 2.ed. Curitiba: Ibpex, 2011.
GARRUTTI, Érica Aparecida; SANTOS, Simone Regina dos. A interdisciplinaridade como forma de superar a fragmentação do conhecimento. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 2, 2004.
PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


4 comentários:

  1. O que se percebe nas escolas (da cidade onde moro) é uma certa resistência (preconceito) no que concerne ao cumprimento da 10.639. Pais e profs., ainda têm certo estigma sobre o estudo da cultura etc. afro-brasileira na escola. Na aplicação do projeto, houve alguma resistência por parte dos funcionários da escola e dos pais em relação a temática africana utilizada nos jogos?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Oziel, durante a realização das atividades não ficou nada evidente por parte dos familiares ou escola quanto a resistência aos temas trabalhados, porém observamos que muitos alunos detinham uma visão estereotipadas de muitos conceitos quando nos referimos ao continente africano, principalmente na parte cultural.

      Maxuel Soares de Oliveira.....

      Excluir
  2. Muito interessante a comunicação de vocês. O "brincar" inserido no cotidiano escolar é uma excelente maneira de conectar x alunx à escola. Lendo a texto de vocês, me lembrei do documentário "Tarja Branca", que trata justamente dessa questão. Outra discussão mencionada por vocês é sobre a interdisciplinaridade. Eu gosto muito de utilizar jogos em minhas aulas, mas sinto falta de uma comunicação com professores e professoras de outras disciplinas, que poderiam auxiliar as atividades, o que seria um ganho para todxs nós.
    Minha pergunta, na verdade, é um pedido: quais brincadeiras africanas e afro-brasileiras podem ser inseridas no cotidiano escolar? Vocês poderiam indicar alguma? Eu conheço apenas uma, a mankala.

    ResponderExcluir
  3. Boa noite!
    Sou formado em Educação Física pelo IFCE.
    Na Educação Física existem inúmeras possibilidades para se trabalhar o tema "Jogos e Brincadeiras Afro-Brasileira", inclusive no meu estágio supervisionado tive a oportunidade de apresentar algumas brincadeiras que pesquisei na internet e pude contextualizar com uma gama de assuntos relacionados a África. Além das que foram citadas, em quais outras fontes posso pesquisar para enriquecer a minha aula de jogos e brincadeiras afro-brasileiras?

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.