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Márcia Cleide

HISTÓRIA PRA QUÊ?
Márcia Cleide Lustosa de Aguiar
UFPI

Este texto foi baseado nas observações feitas por uma estudante do oitavo período do curso de Licenciatura em História da UFPI, e as observações que sustentam as ideias e críticas levantadas aqui foram realizadas durante a disciplina de Estágio Supervisionado Obrigatório no ensino fundamental, o qual realizei entre os meses de setembro e dezembro de 2016 em uma escola pública municipal de Teresina.
Durante este período inicialmente procedi observando algumas aulas do professor titular da turma de 8º do fundamental e só depois iniciei a ministrar as aulas. E foi através desses contatos com a turma e com o professor que fiz observações dentre as quais venho aqui apresentar algumas.
Devo dizer que este texto se faz bastante resumido, inclusive por conta das próprias normas do evento, e que por tanto muitas colocações e discussões importantes não foram feitas da maneira como deveriam. Também optei por não citar os nomes dos alunos, do professor e da escola devido essas observações terem sido feitas de maneira informal durante uma experiência de estágio de uma disciplina obrigatória da universidade, a qual me exigia uma postura completamente formal.
Por tanto, este texto possui aqui o intuito maior de mostrar algumas das situações reais que perpassam o ensino da disciplina de história nas escolas públicas de educação básica e também buscou levantar algumas ideias e críticas a respeito da forma de introduzir a matéria e abordar os seus assuntos de maneira a argumenta-se que devem ser incorporadas novas e diferentes práticas de explorar os conteúdos de história para que os estudantes compreendam melhor a sua importância, se situem dentro dela e assim tenham vontade de aprender.  
História pra quê? Esta pergunta me foi feita certo dia pelos estudantes do 8º do ensino fundamental da escola pública municipal onde realizei meu estágio docente obrigatório na cidade de Teresina.
No decorrer do período do estágio durante as aulas os estudantes estavam sempre inquietos e dispersos e desde o início demonstravam desinteresse pela matéria e pelas aulas. Até que um dia já na metade das nossas aulas um dos estudantes mais inquietos olhou para mim e perguntou em um tom descontente e de desdenho: professora, pra quê estudar história? Não serve pra nada! Fui impactada pela pergunta seguida de uma afirmação tão forte e descabida. Porém ao mesmo tempo isto não me era uma surpresa, pois como afirmei eu já havia percebido o desinteresse da turma pelas aulas de história.
Neste ponto, se observarmos a percepção e a concepção que os estudantes têm sobre a disciplina de história em relação ao que propõe os dispositivos legais que visam orientar as práticas, os conteúdos e os objetivos do ensino na educação básica percebemos que existe uma grande disparidade entre o entendimento e os objetivos sociais propostos e a realidade que encontramos nas escolas.
Nos PCNS, por exemplo, afirma-se que no terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental “o ensino de história possibilita o aluno refletir sobre seus valores e suas práticas cotidianas e relacioná-las com os problemas históricos inerentes ao seu grupo de convívio, a sua localidade, à sua região e à sociedade nacional e mundial” (PCNS, 1988, p.34).
Isto demonstra a concepção de história contida nos documentos oficiais que buscam afirmar a sua relevância no processo educativo o qual visa construir sujeitos críticos e ativos na sociedade.
Nesta perspectiva de entendimento sobre a história observa-se que ela exige que os estudantes consigam se reconhecer enquanto agentes da mesma, e que compreendam a sua dinâmica através de noções cognitivas construídas pelo estudante durante o processo de ensino aprendizagem, noções básicas de diferença e semelhança, transformação e permanência, etc. De acordo com os PCNS noções básicas como essas ajudam na identificação, distinção e reflexão sobre as práticas e valores dos indivíduos em diferentes épocas.
A segunda versão revista da proposta da Base Nacional Curricular Comum lançada em 2016 também afirma a necessidade dos estudantes compreenderem os processos históricos percebendo os elos existentes com as outras áreas como a Geografia e Linguagens por exemplo. A Base propõe ainda para os anos finais do ensino fundamental que sejam incorporados “novos recursos de pesquisa a consulta de fontes e documentos que circulam em esferas mais ampliadas, inclusive em ambientes virtuais, o trabalho com diferentes linguagens [...]” (BNCC, 2016, p. 461).
Dessa forma, de maneira geral no 8º ano do ensino fundamental especificamente os objetivos da aprendizagem na área de história visam de acordo com a BNCC que os estudantes conheçam processos históricos de formação, compreendam especificidades, analisem consequências e relações sociais e políticas e etc.
Assim, observando as disparidades existentes entre a percepção real os estudantes sobre a história a qual muitas vezes constrói uma concepção errônea e negativa da mesma enquanto área de saber e a concepção contida nos dispositivos oficiais. Percebe-se que as noções cognitivas que esses sujeitos necessitam construir para compreender a dinâmica dos processos históricos e assim o significado e a importância da história precisam ser proporcionadas durante a prática pedagógica por meio de uma metodologia que aproxime os conteúdos da disciplina da dinâmica real vivida, através de analogias, levantamento de questões que interessem aos alunos e que possam se relacionar com os conteúdos. Discutir situações e atos do passado e do presente relacionando-os dentro da dinâmica histórica, além disso, também o próprio estudo dos dispositivos legais que orientam os projetos educacionais ajudaria na explicação da função e da importância do estudo da história nas escolas.
Nesse sentido entendemos que a incorporação de algumas maneiras de iniciar as aulas de história com a devida explicação de que para que ela serve e abordar os assuntos de forma dinâmica durante as aulas além de buscar inserir diferentes recursos de pesquisa como adverte a BNCC, durante as aulas possibilita os estudantes a compreender qual o sentido dessa área de conhecimento para que estes possam respeitá-la e dar-lhe a devida importância, pois o que pudemos perceber a partir da simples observação das atitudes de desinteresse dos alunos frente à disciplina durante o período de estágio docente obrigatório é que o desinteresse desses alunos está ligado ao desconhecimento, um desconhecimento gerado pela própria forma de ministrar os assuntos.
Logo, através das duas observações das aulas de história ministradas pelo professor titular antes de assumir, eu pude notar que a metodologia clássica de “ensinar” história apenas repassando conteúdos apenas repassando fatos e acontecimentos impossibilita que os estudantes compreendam e aprendam história. Assim, às vezes nos deparamos com situações como esta, os estudantes não entendem, e querem saber, pra quê estudar história?

Referências
Parâmetros Curriculares Nacionais: história/Secretaria de Educação Fundamental- Brasília: MEC/SEF,1988.
BASE CURRICULAR NACIONAL COMUM. 2ª versão revista. MEC, CONSED, UNDIME. Abril/2016.

7 comentários:

  1. A proposta do Curso prevé o estágio supervisionado nas etapas iniciais da licenciatura? O estágio como perspectiva de uma formação docente estribada somente na observação e posterior imitação de modelos seria um fator que contribui para a falta de interesse discente pelos conteúdos da disciplina?

    Natanael de Jesus Santos - Marabá - PA
    Estudante do Curso de História/2014 - UNIFESSPA

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    1. Boa noite Natanael Santos. Bem, na grade curricular do curso de História da Universidade Federal do Piauí os estágios supervisionados são quatro e estão dispostos já nos últimos períodos do curso, o que as vezes gera muitas decepções de alguns alunos que dizem não se identificar com a docência e percebem isso no final do curso ao encarar a realidade das salas de aula. Mas isto também seria pauta para outras discussões. Quanto a segunda pergunta, a resposta é sim. Quando os estagiários chegam já nervosos e meio perdidos nas salas de aula e já instruídos pelos seus supervisores a seguir um modelo padrão: observação depois regência, de maneira que não "quebre o ritmo" do professor titular da disciplina, que não tente fazer uma revolução "pois somos apenas estagiários" e os alunos já possuem um "ritmo próprio". Isto vai no caminho contrário das discussões sobre os novos modelos de ensino que nós, a nova geração de professores conscientes do seu papel enquanto formadores de cidadãos pensantes e críticos queremos e, com efeito reforça o que os nossos desejos e discursos acadêmicos tentam transformar.
      Obrigada pelas suas perguntas e espero que eu as tenha respondido como você gostaria. Ass: Márcia Cleide Lustosa de Aguiar.

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  2. Kaíque Lessa de Souza4 de abril de 2017 às 11:32

    Olá, sou estagiário de História do VIII semestre da UNEB e gostaria de saber se na sua opinião esse desinteresse, por parte dos alunos, se deve ao fato deles não verem a História como algo útil profissionalmente falando?

    Kaíque Lessa de Souza, Caetité - BA
    Estudante de História UNEB - Caetité

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    1. Olá Kaíque, boa noite.
      Acredito que muitos são os motivos do desinteresse dos alunos do ensino básico e, principalmente no ensino fundamental menor e maior. E nestes dois últimos contextos, os quais tive a oportunidade de observar em três escolas diferentes durante os estágios. Me pareceu logo a primeira vista que os estudantes desses níveis nem se quer pensam sobre esta questão profissional, eles não vêem ligação nenhuma entre a História e o contexto da realidade vivida, é como se fosse uma matéria de fantasias. Já no ensino médio acredito que alguns possam pensar nesta questão profissional sim. Obrigada pela sua pergunta e um abraço Kaíque. Ass: Márcia Cleide Lustosa de Aguiar.

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  3. Márcia, em se tratando de situar os alunos sobre a importância de se aprender História, além de explicar para eles, no começo das aulas os motivos pelos quais precisamos estudar a disciplina, você sugeriria alguma outra forma prática para as turmas compreenderem o "pra quê estudar História"?

    Andrea Cristina Marques

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    1. Olá, boa noite Andrea.
      Eu acredito que o diálogo sincero com os discentes desde o início das aulas é importantíssimo e que dentro dessa conversa cabe muitas questões, como explicar o porquê precisamos estudar e saber História, mas também conversar com eles sobre o cotidiano e o contexto em que vivemos atualmente e como eles se relacionam com a História. Devemos usar mais da prática de analogias, deve-se ouvir os estudantes e a partir disso situar as suas demandas dentro do pensamento histórico para que eles possam compreender o que é a História, como ela ocorre e a sua importância. Eu acredito na capacidade da utilização da própria narrativa do cotidiano social e cultural dos estudantes para integrá-los ao pensamento histórico. Ass: Márcia Cleide Lustosa de Aguiar.

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  4. Boa tarde Márcia!
    O título do material é excelente! rs
    Em meio a tantas informações, relatos, pesquisas, "achismos nas opiniões", como poderíamos combater estas atitudes (que até hoje reinam) de não se importar em estudar e conhecer o que se passou ...?
    (estou no 1º semestre de História, rs)
    Obrigado!

    Jônatas Fernandes Pereira

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