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Maicon Roberto

NOVO ENSINO MÉDIO: PRIMEIROS DEBATES
Maicon Roberto Poli de Aguiar
Prof. Mr. UDESC

No decorrer do processo de ensino-aprendizagem, partindo desde seu planejamento, passando pela sua execução e concluindo com sua autoavaliação, o (a) professor (a) precisa sempre levar em consideração as experiências vivenciadas pelo corpo discente, o qual traz consigo uma gama variada de conhecimentos, que deverão permear todo esse processo, seja apontando caminhos de pesquisa e/ou questões a serem analisadas/debatidas por todo o grupo. Também é princípio básico da prática docente debater as questões cruciais, que surgem ao longo desse processo, as quais afetam o cotidiano de instituição escolar e não podem ser negligenciadas, principalmente aquelas trazidas pelos (as) estudantes, uma vez que essa relação professor-estudante “dinamiza e dá sentido ao processo educativo. [E que] apesar de estar sujeita a um programa, normas da instituição de ensino, a interação do professor e do aluno forma o centro do processo educativo” (MÜLLER, 2002, p.276). Nesse sentido, no último bimestre do ano passado, desenvolvemos um primeiro debate com os (as) estudantes da E.E.M. Profª Elza H. T. Pacheco, dentro da disciplina de história, acerca da medida provisória 746, promulgada pelo Governo Federal, a qual estabeleceria profundas mudanças na estrutura do Ensino Médio e, da resolução do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina, que instituiria a progressão parcial para os (as) estudantes das escolas públicas e privadas do estado. [Utilizo-me dos verbos no futuro do pretérito, uma vez que a medida sofreu alterações antes de sancionada e a resolução ainda não foi oficializada].

A medida provisória 746 trouxe como principais mudanças: a ampliação gradativa da carga horária mínima do Ensino Médio de oitocentas para mil e quatrocentas horas; flexibilização das disciplinas cursadas, na qual parte da grade curricular é comum e após o (a) estudante deverá optar por uma entre cinco áreas de conhecimento [Linguagens, Matemática, Ciências Humanas, Ciências Naturais e Ensino Técnico]; a autorização para a contratação de profissionais que possuem notório saber para o quadro docente; e, a exclusão de artes e educação física como disciplinas obrigatórias da grade curricular. (DIAS; SALDAÑA, 2016). Já a resolução estadual instituiu a progressão parcial, na qual estudantes que reprovarem em uma ou mais matérias [o limite não foi ainda determinado] serão aprovados (as), devendo passar no ano seguinte, nas disciplinas que reprovou, por uma nova avaliação, nos conteúdos que o (a) professor (a) compreender que o (a) estudante necessita ou teve maiores dificuldades. (WENZEL, 2016).

Com essas ações governamentais amplamente divulgadas através das mídias e a consequente curiosidade por parte de alguns (mas) estudantes acerca das opiniões do corpo docente acerca das mesmas, elaboramos dentro da Escola de Ensino Médio Professora Elza H.T. Pacheco, localizada na cidade de Blumenau/SC, um pequeno conjunto de atividades a fim de debater os pontos mais polêmicos dessas medidas, selecionados conjuntamente pelos corpos docente e discente. Um dos objetivos dessas atividades, considerando as limitações de tempo e dos compromissos já previamente assumidos, dentro do contexto de um quarto bimestre já bastante curto, foi iniciar o debate problematizando os possíveis motivos, objetivos e consequências dessas ações empreendidas tanto no âmbito federal como no estadual.

Partindo desse princípio, sem aviso preliminar, iniciamos o conjunto de atividades com a solicitação, em sala de aula, de um parecer pessoal por parte de cada estudante, acerca das referidas medida e resolução anunciadas, elaborado através de um texto dissertativo. A primeira intenção aqui foi diagnosticar os (as) estudantes que buscaram ou não se inteirarem das mesmas, pesquisando a respeito para além do que foi anunciado na televisão ou comentado nas salas e corredores da escola. Desta forma, observou-se que cerca de setenta e nove por cento dos trezentos e seis estudantes entrevistados (as) não desenvolveram nenhuma pesquisa complementar para a ampliação dos seus conhecimentos. Esse é um dado que aponta para a importância do (a) professor (a) em conectar suas aulas com aquilo que é veiculado através das mídias, em especial, a televisão e as redes sociais.

Utilizada como instrumento de manipulação a serviço de interesses particulares, [a mídia] reordena percepções, faz brotar novos modos de subjetividade, o que traz vantagens e/ou desvantagens, tanto no aspecto individual como no aspecto social. A mídia, com todas as suas ferramentas, hoje detém o poder de fazer crer e ver, gerando mudanças de atitudes e comportamentos, substituindo valores, modificando e influenciando contextos sociais, grupos, constituindo os arquétipos do imaginário, criando novos sentidos simbólicos como árbitros de valores e verdades. (SILVA, 2010, p.2).
Também sabemos que a percepção dos (as) estudantes, acerca de possíveis necessidades de mudanças para o ensino médio, não se restringe aos anúncios realizados através das mídias, existindo também todo um conjunto de saberes construídos em outros espaços de experiência e interlocução com diferentes grupos e concepções. Nesse sentido, um outro diagnóstico apontado pela atividade foi que cerca de sessenta e seis por cento dos estudantes entrevistados concordam com a resolução estadual que promove o progresso parcial, tendo como principais argumentos a não concordância pela reprovação por poucos pontos ou em matérias em que os (as) estudantes não consideram possuir afinidade, mas principalmente, a desmotivação causada pela reprovação, o que segundo os (as) mesmos (as) motivaria o abandono escolar. Um dado fundamental a ser acrescido nesse contexto é de que cerca de oitenta e um por cento destes que defendem a resolução, já precisaram repetir de ano uma ou mais vezes. Entre aqueles que são contrários à resolução, a principal argumentação é de que seria injusto estudantes que não se dedicaram aos estudos, serem aprovados tanto quanto aqueles que se dedicaram ao longo de todo o processo.

Ainda com base no texto dissertativo produzido, diagnosticamos que cerca de cinquenta e dois por cento dos entrevistados concorda com a especialização do ensino médio por áreas de conhecimento, justificando que a escolha ampliaria a dedicação do corpo discente, uma vez que não precisariam estudar temáticas que não consideram interessante para seu cotidiano ou úteis para a carreira profissional que almejam seguir. Contrários a esse quesito da medida provisória defendem, principalmente, que deixariam de aprender assuntos, que mesmo não diretamente ligados à profissão que pretendem seguir, podem trazer informações pertinentes a outros aspectos da sua vida, como o convívio com familiares e amigos, além de uma melhor compreensão sobre tudo aquilo que os cercam.

Quanto à ampliação da carga horária do ensino médio, trinta e dois dos quarenta e um estudantes que mencionaram esse item em seu texto dissertativo, são contrários à essa medida, pois consideram maçante ficar em período integral dentro da escola, preferindo, na opinião de alguns destes, a realização de cursos ou entrada no mercado de trabalho como estagiários ou menores aprendizes no contraturno.

Acerca da não obrigatoriedade das disciplinas de artes e educação física, cerca de noventa e oito por cento dos estudantes se posicionaram contrários, argumentando principalmente que a segunda é uma das disciplinas mais adoradas pelos (as) mesmos (as) e, que a sua exclusão desmotivaria ainda mais a frequência escolar. Outros argumentos levantados foi de que são disciplinas tão importantes quanto às demais existentes na grade curricular, desenvolvendo outras formas de habilidades junto ao corpo discente.

Por fim, o texto dissertativo trouxe também como diagnóstico, que dos dezesseis estudantes que citaram o dispositivo do notório saber em suas argumentações, todos foram contrários ao mesmo, pois consideram que apenas profissionais habilitados podem lecionar nas escolas, com exceção das áreas do ensino técnico.

A partir desse primeiro diagnóstico realizado, lançamos nas redes sociais – dentro do grupo do facebook que mantemos para compartilhamento de materiais utilizados pela disciplina – uma série de debates problematizados através de fontes textuais (artigos e reportagens) e audiovisuais (charges e vídeos), diretamente ligados aos principais pontos de divergência existentes entre os (as) estudantes. Dentro das publicações online e dentro da sala de aula, criamos pequenos espaços temporais de debate das ideias levantadas, alcançando aquilo que foi o objetivo principal – considerando o pequeno espaço de tempo que possuímos – desse projeto inicial: incentivar os (as) estudantes ao constante diálogo acerca de tudo aquilo que o cerca, principalmente, naquilo que diretamente relaciona-se ao seu papel dentro do espaço escolar, buscando uma fundamentação concreta de seus argumentos e, consequentemente, uma ação menos passiva frente aos desafios do cotidiano.
A continuidade de projeto encontra-se atualmente em fase de replanejamento frente às incertezas ainda persistentes, visto que pontos divergentes fundamentais a serem implantados não foram levados ao amplo diálogo com os profissionais da educação, levantando um enorme questionamento quanto ao uso da medida provisória como instrumento na melhoria da educação. Há muito por debater na busca pela melhoria e fortalecimento de toda a infraestrutura do processo educacional e, isso apenas ocorrerá de forma satisfatória se os argumentos de todos os personagens inseridos no contexto escolar forem devidamente ouvidos.

Referências:
DIAS, Natália C. M.; SALDAÑA, Paulo. Plano do ensino médio abre mão de artes e educação física e repete meta. Folha de São Paulo. 22.09.2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/09/1815828-novo-ensino-medio-usa-meta-antiga-e-exclui-artes-e-educacao-fisica.shtml>. Acesso em: 25.09.2016.
MÜLLER, Luiza de Souza. A interação professor-aluno no processo educativo. Revista Integração, ano VIII, nº 31, novembro 2002. Disponível em: <https://www.usjt.br/proex/arquivos/produtos_academicos/276_31.pdf>. Acesso em: 28.02.2017.
SILVA, Ellen Fernanda Gomes da. O impacto e a influência da mídia sobre a produção da subjetividade. Disponível em: <http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/447.%20o%20impacto%20e%20a%20influ%CAncia%20da%20m%CDdia.pdf>. Acesso em: 11.09.2016.

WENZEL, Karine. SC muda regra para aprovação escolar, e aluno poderá passar de ano mesmo reprovado em disciplina. Diário Catarinense. 20.09.2016. Disponível em: <http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2016/09/sc-muda-regra-para-aprovacao-escolar-e-aluno-podera-passar-de-ano-mesmo-reprovado-em-disciplina-7516613.html>. Acesso em: 25.09.2016.

19 comentários:

  1. Qual o ponto de vista do autor à respeito da reforma no ensino médio? Você acredita que a flexibilização do ensino pode contribuir com a educação, partindo do pressuposto de uma maior proximidade dos alunos com matérias afins? E por que as Escolas Particulares não incorporaram tais modificações? (Reinaldo Glusczka)

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    2. Olá Reinaldo,

      Primeiramente, sou contrário ao processo de como se construiu essa nova forma de ensino médio, uma vez que, não trouxe para o âmbito do debate, profissionais diretamente ligados ao contexto escolar, ou pelo menos não foram ouvidos.

      Dito isso, dentro dos moldes apresentados, compreendo que o objetivo central da proposta é direcionar os (as) estudantes secundaristas ao mercado de trabalho tecnicista. Discordo dessa proposta, pois acredito que o ensino médio deve abrir ao seu público-alvo uma gama significativa de opções, para além da carreira profissional, devendo ser em si mesmo, uma processo de formação cidadã para todos os aspectos da vida.

      Acredito que o ensino médio precisa passar por uma reforma, que melhor articule a relação entre as áreas de conhecimento, utilizando-se de projetos inter e multidisciplinares, rompendo assim o isolamento disciplinar, mas sem impedir ao mesmo tempo suas especificidades. Ou seja, mantém-se as disciplinas, mas ampliam-se suas relações.

      Escolher aos dezessete anos um curso a frequentar numa universidade não se configura numa tarefa fácil ou simples. Escolher aos quinze, que área de conhecimento priorizar exige uma maturidade ainda maior, que acredito que poucos estudantes possuem. Concordo com a ideia de AMPLIAR as opções de matérias afins, mas NÃO EXCLUINDO outras áreas de conhecimento, uma vez que, todas contribuem direta ou indiretamente para a formação de uma pessoa, tanto em sua vida particular como profissional. O Estado precisa garantir que a profissão do (a) estudante ao longo da educação básica (até com possível extensão na quantidade de séries/anos) seja única e exclusivamente: APRENDER e ENSINAR.

      Quanto às escolas particulares, compartilho da hipótese discutida com alguns colegas, de que o não cumprimento da lei por parte das mesmas, está vinculado a uma maior preparação para o vestibular/ENEM, ampliando a exclusão dos (as) estudantes de escolas públicas das cadeiras universitárias, restando aos mesmos o ensino tecnicista (não como uma opção ruim ou menor, mas limitadora).

      Vamos discutindo. Obrigado por sua contribuição!

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  2. Entendo que o ensino médio necessita de reforma, mas da forma que o mesmo foi "proposto" através da MP não reflete as mudanças necessárias a qual o ensino no Brasil precisa. Desta reforma educacional o ponto mais significativo ao meu ver foi que a União enxergou a necessidade de mudança. Para que haja transformação é necessário uma transformação no sistema educacional, porém da maneira que está sendo feito me parece sim uma reforma, mas uma reforma para a educação reprodutiva do período ditatorial, onde a criticidade nas escolas eram podadas.
    É dito que o objetivo do governo federal é incentivar que as redes de ensino ofereçam ao aluno a chance de dar ênfase em alguma dessas cinco áreas, e se bem implementada, dará ao jovem as escolhas de que ele necessita para reconhecer na escola um local em que ele possa receber a formação mais adequada a suas aspirações. Por meio disso, o que será do aluno caso a escola não opte por ter especialização na área na qual o aluno tem afinidade? Na cidade ele terá a opção de mudar de escola. E no interior onde se tem poucas escolas, como funcionaria esta sistematização?
    Wesley Sousa do Nascimento

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    1. Olá Wesley,

      São muito pertinentes seus questionamentos. É evidente, principalmente nas escolas estaduais de Santa Catarina, que não há infraestrutura adequada para que todas as escolas consigam ofertar as cinco modalidades - inclusive leciono numa escola que nem se quer tem sede própria, utilizando-se de uma limitada quantidade de salas de uma outra unidade escolar, que não é suficiente para nenhuma delas. Posso te afirmar, assim, que a infraestrutura existente, não comporta nem as necessidades atuais.

      Quanto às escolas localizadas no interior, a situação me parece ainda mais caótica. Desde o ano passado, visando economia (inclusive de qualidade - opinião minha), o governo estadual fechou unidades escolares com pequeno contingente escolar, por considerar ser mais barato pagar pelo transporte para outras escolas, em outras cidades, do que mantê-las. Dentro dessa perspectiva, imagino que as opções para estes serão ainda menores.

      Vamos discutindo. Obrigado pela sua contribuição!

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  3. Marcos Roberto como você percebe a medida prevista no novo ensino médio onde o aluno poderá não conseguir êxito em todas as disciplinas e ainda assim poderá ser aprovado para a cursar a série seguinte mesmo que este aluno tenha as notas/aulas que ficaram pendentes ?Isso não servir para aumentar ainda mais o desinteresse dos discentes com relação as disciplinas que eles tem mais dificuldades ,visto que essas não serão empecilhos para que eles avancem para a série posterior?

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  4. Oi Miss Lene,

    Cumprimindo com compromissos assumidos com órgãos internacionais, como o BID, o governo brasileiro foca na redução dos "gastos/investimentos" com a educação, em especial, eliminando sumariamente a reprovação. Ainda que não de forma clara e aberta a população, essas e outras medidas tomadas nos últimos anos, a nível estadual, municipal e agora, federal, traçam seus passos nesse caminho. A meu ver fica claro, o interesse de evitar a reprovação, garantindo uma formação não integral dos estudantes. Concordo contigo que a perspectiva é o aumento do desinteresse, principalmente nesse cultura que preocupa-se mais com as aparências (nota), do que com o real aprendizado.

    Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  6. Primeiramente a reflexão é bem conduzida o que nos dá vontade de seguir até o fim da leitura com gosto. Muitas questões podem ser colocadas, mas nessa situação aqui vai o meu direcionamento: Como, dentro da realidade a qual o estudo foi realizado, você vê o implemento progressivo de carga-horária que resultará em um ensino em tempo integral? Tem estrutura e programas para manter o aluno dentro da escola com qualidade e eficiência? Ass: Manoel Caetano do Nascimento Júnior

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    1. Oi Manoel,

      Onde trabalho não há infraestrutura suficiente nem para a atual demanda e, a progressiva ampliação da carga horária só tornará a situação ainda pior.

      Particularmente, havendo a infraestrutura necessária completa (tanto física, quanto humana), defendo a implantação do ensino integral. No entanto, a organização do tempo e da dinâmica de distribuição das aulas é também muito importante. Para a nossa disciplina, por exemplo, precisaríamos ampliar a quantidade de aulas, destinando parte delas - talvez no contraturno - à prática (leitura, interpretação, exercícios, representação dos conhecimentos através de atividades audiovisuais, musicais, teatrais, etc). Não podemos nos limitar a aula expositiva-dialogada e isso também serviria às demais disciplinas. Acredito que assim, poderíamos tornar a escola mais atraente e com qualidade frente aos objetivos da mesma.

      Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  7. Boa noite Maicon. Primeiramente parabéns pelo trabalho, concordo com tudo que você escreveu. Gostaria de saber, a sua opinião sobre a disciplina de história nesse contexto do novo ensino médio e qual os possíveis desafios que a mesma deverá passar nesse novo contexto. Acreditas que a carga horária da disciplina irá diminuir e consequentemente terá menos demanda para os novos profissionais?

    Grato. Wallysson Klebson de Medeiros Silva.

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    1. Oi Wallysson,

      Acredito que a disciplina muitas vezes não é valorizada pelo próprio profissional, que enxerga sua função mais como emprego do que sua função social. Credito parte dessa situação à formação em escala industrial de profissionais, que "pipocaram" por diversas universidades Brasil a fora, em especial, na rede privada e pela modalidade à distância. Assim, penso que mais importante do que a quantidade de pessoas que se interessem pela carreira de historiador ou professor-historiador, precisamos questionar como esses são "formados". Profissionais comprometidos são muito mais fundamentais, do que a quantidade. No entanto, também acredito que haverá uma redução pela demanda, pois a perspectiva de oportunidades de carreira no ensino se limitarão, afungentando comprometidos e "oportunistas".

      Nós, enquanto profissionais comprometidos, estando ou não diretamente vinculados ao espaço escolar, precisamos mais do que nunca criar espaços de discussão com toda a comunidade escolar, argumentando com todo o contexto desse processo, incluindo não só a reforma como a "Escola Sem Partido" e demais desmontes em forma de projeto que estão se alastrando pelo nosso país.

      Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  8. Oi Maicon!

    Gostei muito da proposta com a garotada! São estudantes que já estão no Ensino Médio ou que ainda entrarão? Penso que pode haver diferença de opiniões diante de algumas questões levantadas, dependendo desse fator.
    Bom, sobre a reforma, há muito se discute o papel do Ensino Médio na realidade educacional e profissional brasileira, se deve-se priorizar um ensino mais propedêutico, com um ensino técnico complementar, ou se o aprendizado dos saberes é segundo plano e o necessário é mesmo fomentar mão de obra para o mercado de trabalho. Enfim, dentre as disputas, e mesmo por causa delas, alguns autores chegam a apontar a existência de uma crise identitária desse nível escolar. Afinal, serve pra quê o Ensino Médio?
    Diante das propostas tecidas, a de integralização desponta como carro-chefe. Na reforma aprovada pelo Senado, no entanto, a integralização não figura no sentido da formação onilateral de molde marxista, já que o marxismo tornou-se tabu por aqui. Minha pergunta para você é: será que o governo e seus estudiosos se confundiram ao propor como integral a extensão da carga horária ou, para você, essa é só mais uma forma de nos chamar de idiotas?
    Para além da indignação fantasiada de ironia, fica aqui a necessidade de refletir: como uma proposta rejeitada por 95% da população, em enquete realizada pelo Senado, pode ser aprovada por esse mesmo Senado? Ou melhor, por que?

    Um abraço,
    Caroline Trapp de Queiroz.

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    1. Oi Caroline,

      Entrevistei estudantes dos primeiros, segundos e terceiros do Ensino Médio. Encontrei diferenças, principalmente, dos primeiros e segundos em relação aos terceiros anos, uma vez que, a grande maioria dos últimos estava mais antenada com informações midiáticas em decorrência do vestibular/ENEM.

      Concordo com seu argumento acerca da existência dessa crise de identidade no Ensino Médio. Acredito que essa discussão nem se efetua no cotidiano escolar. Observo muitos exercendo um emprego, não uma profissão com função social. Particularmente, compreendo o Ensino Médio como uma continuação de processo de aprimoramento pessoal - somado às ações familiares e de outras instituições - que se destinam a todos os aspectos da vida, para além do mercado do trabalho.

      Acredito que o governo e os estudiosos "contratados" para fudamentar suas ideologias visam uma formação para o mercado de trabalho, de profissionais melhor habilitados e condicionados à lógica de exploração de mão-de-obra, que a dissolução da CLT visa alcançar efetivamente. Há uma grande reclamação dos setores industriais (Entidades Patronais) que a mão-de-obra que está chegando ao chão da fábrica, não se apresenta satisfatoriamente pronta a preencher os requisitos por eles esperados. Talvez por isso o aumento da carga horária (Hipótese que levanto).

      Por fim, compartilho da ideia de que a melhor forma de instituir um governo autoritário é transvesti-lo de democrático. Utilizamos os dados que nos interessam. Se esses dados (enquete) não condizem com as ações que pretendemos legitimar, os ignoramos e, assim podemos bombardear a opinião pública através de uma propaganda massante (Intitulada: Quem conhece o novo ensino médio, aprova!), contendo apenas os dados que nos convém para alcançarmos o nosso objetivo, tanto na implantação da lei, como no suposto convencimento da opinião pública.

      Espero que tenha respondido satisfatoriamente.

      Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  9. Você acredita que essa reforma do ensino médio proposto pela MP, pode contribuir de forma significante com a educação, sendo que o conhecimento proposto por ela oferece inúmeros desafios? Desafios que vão desde infraestrutura a estabilidade profissional dos professores. E como os estudantes se intenderão nesse processo?

    Ass.: Ingrid Ribeiro de Oliveira

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    1. Olá Ingrid,

      Acredito que Ensino Médio, a educação básica como um todo precisa passar por profundas transformações, principalmente do ponto de vista pedagógico, comcomitantemente com uma infraestrutura física e material que dê suporte às necessidades existentes e que ainda surgirão.

      A medida provisória sancionada aponta caminhos, que pedagogicamente são contrários aos objetivos que deveriam conduzir as práticas educacionais, focando muito mais no mercado de trabalho do que não formação integral dos (as) estudantes. E a mesma não responde como as necessidades físicas e materiais serão supridas, principalmente com a defasagem que hoje se apresenta nas mesmas. Corremos um sério risco de maior sucateamento, que legitimaria uma transferência ainda maior da educação pública para a iniciativa privada, talvez parcialmente sustentado por recursos públicos (Uma hipótese que levanto).

      Precisamos urgentemente ampliar o debate com toda a comunidade escolar acerca dessas mudanças. Talvez, dentros de nossos limites, descontruir a proposta, argumentar acerca das perdas e ganhos e principalmente ressignificar a concepção de nota, para além da ideia de resultado, como parte do diagnóstico do processo de ensino-aprendizagem, tirando talvez assim, parte do fator competitivo.

      Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  10. Maicon, na sua opinião qual a postura de um professor de história frente as mudanças do ensino médio? Como enfrentar a enxurrada de comerciais e noticiários que divulgam maravilhas desta reforma? Até onde vai nosso poder de influência? Parabéns pela temática!
    Abraço,
    Anderson Carlos Meira Rodrigues, professor de história pela UFPE

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    1. Olá Anderson,

      Acredito que nosso maior papel enquanto professores (as) é trazer essa discussão para o âmago da escola. Pontuar os argumentos, fazendo uso inclusive dessa propaganda massante a qual todos são diariamente bombardeados.

      Somos uma voz, em meio a tantas outras, dentro desse processo. Não é possível mensurar se existe ou não, ou qual seria o nosso poder de influência. Acredito, particularmente, que esta é pequena, uma vez que, as pessoas nos dias de hoje (e isso muitas vezes também nos inclui) não estão abertas ao debate, buscando apenas as opiniões e fundamentações alheias que corromborem com as ideias que pretendem legitimar. Usando uma expressão popular: fazemos um trabalho de formiguinha, em terra de tamanduás. Mas precisamos manter a caixa de pandora. Mesmo havendo tantos obstáculos, precisamos acreditar que é possível mudar!

      Obrigado pela contribuição. Vamos discutindo!

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  11. O ensino médio precisaria sim urgentemente ser reformando, porém discordo totalmente com retiradas de disciplinas afim de deixar o currículo escolar mais flexível, isso é falácia do governo atual. Outra questão bem complexa trazida por essa reforma, é o ensino de tempo integral que deverá ser implantado em todas as escolas de ensino médio do Brasil, mas como funcionará esse ensino integral? As escolas brasileiras ja estão preparadas e adaptadas para essa nova modalidade de ensino?

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