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Lídia Baumgarten

APRENDIZAGEM HISTÓRICA NO ENSINO DE HISTÓRIA: PONTUANDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Lídia Baumgarten
Prof. Adj. UFAL

O presente artigo apresenta algumas reflexões acerca da compreensão sobre o ensino de História, suas relações entre o passado e o presente e a relação com a vida cotidiana de alunos de uma turma da educação básica do município de Assis, Estado de São Paulo. A atividade consistiu em aplicação de questionários, com alternativas de respostas, sim ou não e a necessidade de justificar a resposta em algumas delas. A turma selecionada foi um 7º Ano do Ensino Fundamental, com a participação de 35 alunos. Foram seis questões elencadas no questionário: 1. Você gosta da matéria de História? O que te faz gostar ou não dessa matéria? 2. Quais matérias você gosta mais e por quê? 3. Para você, a matéria de História traz alguma relação entre presente e passado? 4. Você acha que a matéria de História serve para a sua vida fora da escola? Ou seja, ela serve como instrumento de orientação para tomar decisões da vida prática? 5. Como é a sua relação com a professora? O que você acha da forma como ela ensina? E os temas são interessantes? 6. Como você gostaria que fosse a aula de História? Foram utilizados como base teórica, Schmidt (2004), Cainelli (2006), Rüsen (1992), Guimarães (2003), Monteiro (2001) e Bittencourt (2005).
Nossas reflexões foram fundamentadas com base nas respostas dos alunos das questões 3 a 6, e no referencial teórico mencionado.
Na terceira questão, dos 35 alunos, vinte e nove (29) responderam SIM e seis (6) responderam NÃO. Dos vinte e nove (29) alunos que responderam sim, destacamos as justificativas que se referem à possibilidade de compreender as transformações que ocorreram ao longo da história, relacionando passado e presente, levando à reflexão das diferenças. Temas, tais como escravos, gregos, guerras, religião, cidade e tecnologia foram mencionados nas justificativas dos alunos. Outro aspecto a ser ressaltado foi a justificativa de que a História não é usada somente na escola. Portanto, essa resposta se aproxima de uma consciência histórica crítico-genética. Dos alunos que responderam não, a maioria não vê nenhuma relação entre passado e presente, pois consideram o passado diferente do presente e sem nenhuma relação com a sua vida cotidiana.
Dos 35 alunos, dezesseis (16) responderam SIM, e dezenove (19) responderam NÃO, na quarta questão. As justificativas dos alunos que responderam sim se aproximam de consciência histórica crítico-genética. Uns destacaram a possibilidade de conhecer e identificar eventos, construções, costumes, valores, objetos antigos, entre outros. Outros pensam na História como uma forma de conhecer o passado, dar significado à existência no passado e, assim, refletir sobre as transformações que ocorreram ao longo da história e suas consequências no presente. Outro grupo de alunos já vê na História uma forma de compreender e refletir sobre os conflitos, seja nas questões religiosas ou em relação às disputas de territórios, para não cometerem os mesmos erros do passado, auxiliando nas tomadas de decisões que envolvem a sociedade em geral e a vida cotidiana de cada um. O passado servindo de espelho e orientação da vida prática, constituindo-se em possibilidades concretas de mudanças de atitudes. O grupo de alunos que respondeu não se baseou em dois aspectos. De um lado os alunos tem pouca afinidade com os conteúdos trabalhados na aula de história. Os motivos são aqueles destacados nas questões anteriores e tem como característica marcante o fato de as aulas serem entediantes, cansativas e pouco dinâmicas. Por outro lado, os alunos não fazem nenhuma relação da sua vida cotidiana com o passado e, por isso, não veem nenhuma utilidade da História na sua vida prática e, portanto, ela não serve de orientação em nem para tomada de decisões.
Na quinta questão, vinte e seis (26) alunos responderam que a relação com o professor é boa e que ele explica bem. Os alunos ressaltaram aspectos positivos, tais como tirar as dúvidas, procurar diversificar as aulas e motivar os alunos a participarem da aula. Sobre o item que se refere aos temas, a maioria dos alunos acha que são interessantes. Outros já acham que são desinteressantes e, por isso, a aula acaba sendo cansativa. Nove (9) alunos questionaram de forma negativa os itens perguntados. Sete (7) alunos destacaram que a relação com o professor nem sempre é boa e os temas também não são sempre interessantes, mas que ele explica bem a matéria. Apenas dois (2) alunos disseram que, além da relação com o professor não ser boa, ele também não explica bem e não gostam de história. Podemos concluir, a partir dessas informações, que o bom relacionamento com o professor influencia no interesse pela matéria e pelos temas de História e vice e versa. Exceto os dois alunos que disseram que não tem boa relação com o professor e que ele não ensina bem, todos os demais alunos (dos nove que destacaram aspectos negativos) ressaltaram a forma de o professor ensinar. Ou seja, embora eles não tenham uma boa relação com o professor e não acharem os temas interessantes, os alunos destacaram que o professor explica bem.
Os alunos se dividiram nas justificativas da sexta e última questão. As respostas dos alunos se fundamentaram basicamente no fato de que gostariam de aulas mais práticas e mais dinâmicas. Dentre as sugestões podemos destacar a visita a museus, assistir filmes, trabalhos em grupos e ao ar livre, temas mais interessantes e atividades que relacionassem a vida dos seus antepassados com as suas próprias histórias de vida. Embora nas perguntas anteriores a maioria dos alunos tenham respondido que o professor explica bem e que os temas são interessantes, nesse momento eles destacaram que as aulas acabam sendo cansativas, pois o professor não foge muito do livro didático. Ou seja, a aula se baseia na leitura do texto do livro didático, o professor explica e, em seguida respondem as questões do livro didático que estão intimamente relacionadas com a prova que será dada para avaliar os alunos. Alguns alunos (5) responderam que gostariam que as aulas ficassem como está. Um (1) aluno questionou a obrigatoriedade de leitura dos textos (creio que seja a leitura coletiva dos textos, na qual cada aluno lê um trecho). Três (3) alunos aproveitaram a oportunidade para se referir a algumas regras impostas pelo professor e que gostariam que fosse permitido em sala de aula, tais como chupar balar, mascar chiclete e beber água. Um aluno questionou sobre os pontos negativos dados pelo professor.
Pontuando algumas considerações
Embora seja consenso entre a maioria dos professores que uma aula de História deve necessariamente relacionar passado e presente, propiciando ao aluno reconhecer as transformações históricas ocorridas, a aula tradicional/expositiva, compreendendo atividades de leitura do texto e explicação, perguntas e respostas ainda têm sido desenvolvidas na sala de aula.
Sendo assim, acreditamos que o ensino de História deve ter como objetivo central instrumentalizar o aluno a produzir o seu próprio conhecimento. A função social da História deve ser a de aproximar os seus conteúdos com o cotidiano do aluno, propiciando assim, a formação da Consciência Histórica Crítico-Genética (Rüsen, 1992).
É primordial evitar apresentar as respostas prontas aos alunos, mesmo que os professores percebam as dificuldades de aprendizagem dos alunos nas diferentes atividades e tenham a preocupação de que eles aprendam.
É necessário partir da realidade do aluno, o que ele sabe sobre o tema a ser abordado, procurando fazer um diagnóstico e trabalhar com as representações sociais dos alunos. Do mesmo modo, se faz necessário articular os temas ao cotidiano do aluno, o que mais se aproxima, mesmo que seja um conteúdo de um passado distante. É fundamental apresentar os objetivos de cada aula.
Ressaltamos aqui a necessidade de utilizar diferentes metodologias, para além do livro didático. A possibilidade de trabalhar com eixos temáticos que abarcam os conteúdos a serem trabalhados, elaborando atividades com diferentes metodologias/linguagens e documentos ao longo de um bimestre/semestre propicia um aprendizado reflexivo e questionador.
Projetos com temas interessantes e linguagens diferenciadas nem sempre propiciam um aprendizado significativo. É preciso que os professores repensem o seu conceito de História, de aluno e de sociedade/cidadania, com intuito de propiciar aos alunos que eles se vejam como parte do processo e participação ativa na sociedade. Que eles se interessem pelas questões políticas e sociais do país e tenham a possibilidade de transformar a sua realidade. Ou seja, aprender História para servir de orientação da vida prática.
Acreditamos que o papel da História é o de ser uma ferramenta de atuação do aluno na sociedade e não como mera disciplina de assimilação de conteúdos, que privilegia a memorização. O professor não deve se preocupar tanto em esgotar o conteúdo, evitando a fragmentação dos mesmos. O professor deve dominar o conteúdo/teoria, com o objetivo de “filtrar” o conhecimento para a compreensão do aluno. Não se deve apresentar a História como verdade absoluta, pronta e acabada. O ensino de História se torna significativo a partir do momento que propiciamos aos alunos confrontar diferentes ideias e concepções, o que resultará numa aprendizagem histórica que os oriente na vida cotidiana.

Referências
BITTENCOURT, Circe (Org.). Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2005.
CAINELLI, M. Educação histórica: perspectivas de aprendizagem em História no ensino fundamental. Educar. Curitiba. Número especial, 2006.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados.Campinas-SP: Papirus, 2003.
MONTEIRO, A. M. F. C. Professores: entre saberes e práticas. Educação e Sociedade, v. 22, n. 74, p. 121-142, abr. 2001.
SCHMIDT, M. A. ; BARCA, I.; MARTINS, E. R. (Orgs.) Jörn Rüsen e o ensino de História. Editora UFPR, 2010.

SCHMIDT, M. A. M. S.; GARCIA, T. M. F. B. A formação da consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de História. Cadernos Cedes,Campinas, vol. 25, n. 67, p. 297-308, set./dez. 2005.

2 comentários:

  1. Olá Lídia,
    primeiramente parabéns pelo ótimo texto. Muitas vezes ficamos discutindo o ensino de história entre nós professores e especialistas, e acabamos esquecendo, de perguntar para o público alvo, o que eles acham sobre a História que lhes está sendo ensinada. Essa sua pesquisa, demonstra o quanto, necessitamos rever muitas práticas, já que não basta usar os melhores métodos, os recursos didáticos mais atrativos, se não damos significado - sentido a História. Desse modo, gostaria de saber, se em alguma das respostas dos discentes referente à questão 2, a disciplina de História foi mencionada?

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    1. Olá Kamila, boa tarde ! Muito obrigada! Essa foi uma das minhas inquietações em relação a como se ensina e se a História serve pra algo da sua vida cotidiana. Sobre a segunda questão,nove (9) alunos responderam que gostam de história, sendo que três (3) deles ressaltaram a forma de explicação do professor. Os outros destacaram o fato de poderem saber coisas dos nossos antepassados, por ter relação com a mitologia e por gostarem de ler, por acharem interessante e fácil de aprender. Apenas um (1) deles respondeu que gosta um pouco, pois só escrevem e nunca fazem uma atividade livre, somente na sala de aula. Com base nas respostas e justificativas dos alunos, podemos ressaltar três aspectos. O primeiro é que o aprendizado de História tem a ver com afinidade com a disciplina. Gostar ou não faz parte das aptidões e habilidades dos alunos em compreender os conteúdos. O segundo, é que a relação com o professor é algo que pode contribuir para o aprendizado. Por último, a forma como acontece esse aprendizado deve ser dinâmica. Ou seja, as atividades devem fugir de uma aula tradicional, entediante e monótona. Em face disso, creio que o professor pode e deve explorar espaços fora da sala de aula e utilizar todo o tipo de linguagem, fontes e das novas tecnologias para o aprendizado histórico, e que este faça sentido na vida do aluno para além da sala de aula.
      Contudo, há que se considerar que não basta apenas rever os conteúdos e metodologias, ou despertar senso crítico dos alunos, ou ainda, introduzir novas tecnologias e substituir material didático. É necessário rever a concepção de história que está sendo introduzida no espaço escolar, conforme sinaliza Schmidt (2009). Jaime Pinsky (1992), também ressalta a necessidade de repensar acerca do sentido político e social da disciplina de História. Assim, as diferentes técnicas de ensino e metodologias desenvolvidas em sala de aula terão um papel imprescindível na construção do saber histórico.

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