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Leonardo Leal

O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS E O ENSINO DE HISTÓRIA: A LEI DE ANISTIA EM PERSPECTIVA
Leonardo Leal Chaves
Mnt. História UEMA

Muito se tem discutindo sobre a utilização de novas tecnologias como recurso pedagógico para o ensino de história, especificamente embasada nas premissas dos Parâmetros Curriculares Nacionais ou diretrizes curriculares, e sobre o impacto destas no processo de ensino-aprendizagem dos processos históricos. As TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) podem ser analisadas aqui como capazes de proporcionar um acesso livre à informação, possibilitando o compartilhamento de experiências e a produção/circulação de conhecimento.   
Sobre a temática aqui explorada, a Lei de Anistia de 1979, ainda predominam em sala de aula, filmes, produção bibliográfica ou nos livros didáticos as leituras do período ditatorial que tem no Centro-sul do país o palco por excelência dos principais acontecimentos históricos. Nesse sentido, são nacionalizadas explicações que dão conta do universo histórico de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, mas que não contemplam as especificidades das demais regiões do Brasil, como por exemplo, o Maranhão. A proposta deste estudo caminha em outra direção. O que está sendo aqui proposto é a recuperação das especificidades do período ditatorial no Maranhão como forma de, não só elaborar um texto meramente acadêmico, mas como e, principalmente, promover algum tipo de intervenção nas práticas pedagógicas vigentes.
Nesse sentido, propõe-se aqui a construção de um canal direto, dinâmico e interativo, ou seja, um blog histórico (como parte de um repositório digital) capaz de fornecer ao corpo docente, e quiçá discente, múltiplas ferramentas que possibilitem o repensar e a reelaboração das estratégias pedagógicas no ensino das singularidades maranhenses durante o período ditatorial, nesse estudo, concernentes  à Lei de Anistia.            No campo da cibercultura (LEVI, 1999, p. 46), mais exatamente na web (ou ciberespaço), encontram-se trabalhos pioneiros e audaciosos, espécies de mecanismos virtuais de memórias e possibilidades de mobilização em torno do tema da anistia, como a impunidade dos agente oficiais do Estado envolvidos em tortura, desaparecimentos forçados e mortes, voltados para as disputas de memória. Não obstante, mesmo nestes blog e repositórios digitais encontram-se ausentes dados, informações, lugares (virtuais) de memórias que enfoque nas pessoas envolvidas nessa luta por uma anistia "ampla, geral e irrestrita", mesmo que a aprovada tenha sido "parcial e recíproca", anistiando aqueles que cometeram crimes políticos e "conexos" a estes, ao estenderem o benefício da anistia aos próprios militares. Esta produção no ciberespaço ocorreram com mais ênfase após a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade ou tentativa de revisão da Lei de Anistia engendrada pela Ordem dos Advogados do Brasil e rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal  por unanimidade, uma vez mais em nome da pacificação nacional.
No entanto, ao pensarmos este panorama, faz-se necessário destacar que, nas palavras de Jayme Pinsky e Carla Pinsky (2005), o elevado grau de transformação nas esferas políticas e econômicas ocorridas no final do século passado e que acentuaram o ceticismo entre professores e estudantes de História em geral em relação ao próprio conhecimento histórico e seu potencial transformador. Nas escolas, este ceticismo desdobrou-se no questionamento acerca do sentido do ensino de história. Paralelo a tal processo, o próprio livro didático, enquanto instrumento ímpar do processo de aprendizagem, também tem sua validade posta em xeque, principalmente diante da explosão de novas tecnologias que passaram a ser vistas como "sepultadoras" do livro impresso. Sepultados seriam, também, tanto a figura do professor como agente de ensino (tidos como comunicadores inábeis e incompetentes) quanto das propostas curriculares ligadas às realidades nacional e local (vistas como inadequadas e ultrapassadas).
Assim,
procurando acompanhar as mudanças, os novos tempos, muitos professores acabem comprando a ideia de que tudo que não é muito veloz é chato. Na sala de aula, o pensamento analítico é substituído por "achismos", alunos trocam a investigação bibliográfica por informações superficiais  dos sites "de pesquisa" pasteurizados, vídeos são usados para substituir (e não complementar) livros. E o passado, visto como algo passado, portanto superado, tem tanto interesse quanto o jornal do dia anterior (PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla, 2005, p. 17-18).
Em função da longa duração do período ditatorial, será realizado um corte cronológico e temático para que essa proposta se torne viável de realização no período de duração do mestrado. Assim, o blog terá como tema central o processo de transição política da Ditadura rumo à democracia, sendo, portanto, privilegiada aqui a aprovação da Lei de Anistia. Para que as singularidades do Maranhão possam emergir em meio a esse arco de questões aqui anunciadas, esse estudo terá como corpus documental uma multiplicidade de fontes compostas por jornais de circulação local, como O Estado do Maranhão, O Imparcial e O Jornal Pequeno, música compostas por artistas regionais, produção literária, fontes iconográficas, entrevistas como personagens destacados do período e outras possibilidades que poderão vir a ser construídas durante a pesquisa.
Deste modo, a criação/utilização de novas ferramentas pedagógicas para o ensino de história se faz urgente em tempos de blogs, webquests, repositórios digitais, redes sociais, armazenamento de arquivos na nuvem, compartilhamento  de informações e arquivos e uma miríade de possibilidades que poderiam potencializar o envolvimento dos alunos no fosso que separa a produção acadêmica e cotidianos escolar, mais evidente no que diz respeito à produção de conhecimento histórico. Ao relacionarmos essa possibilidade digital/informatizada em rede com a tentativa de transposição didática mediada pelas TICs, voltamos-nos à Jean-Claude Forquin (apud MONTEIRO, 2003, p. 13) e sua reflexão sobre o saber escolar. Assim,
a perspectiva de constituição de um saber escolar tem por base a compreensão de que a educação escolar não se limita a fazer uma seleção entre o que há disponível da cultura num dado momento histórico, mas tem por função tornar os saberes selecionados efetivamente transmissíveis e assimiláveis. Para isso, exige se um trabalho de reorganização, reestruturação ou de transposição didática que dá origem a configurações cognitivas tipicamente escolares, capazes de compor uma cultura escolar sui generis, com marcas que transcendem os limites da escola.
A utilização dessas novas tecnologias e sua inserção no cotidiano escolar não estão isentas de fatores que tornam essa manutenção da distância entre professor x aluno, saber acadêmico x saber escolar, teoria x prática, abissais. São frequentemente apontadas como causas do insucesso a dificuldade dos professores na compreensão e manuseios dessas "ferramentas", a quase impossibilidade se sugestão de atividades fora do livro didático ou do esquema quadro/pincel dentro do espaço físico da sala de aula, bem como a exígua (porém exigente) carga horária escolar. Esta proposta aqui germinalmente exposta direciona seus esforços no sentido de possibilitar a preservação da memória e das especificidades concernentes à Lei de Anistia no Maranhão, disponibilizando através da interface da webe das acessíveis linguagens e programas para construção de site e blogs, dados, suporte, relatos, multimeios, abrindo possibilidades exploratórias sobre o tema por parte dos professores de um recurso atual e dinâmico, (relativamente) acessível e de fácil manuseio/manipulação pelos alunos da geração net.

Referências bibliográficas
LEMOS, Renato. “Anistia e crise política no Brasil pós-64”. Topoi. Revista de História. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ; 7 Letras, n. 5, setembro de 2002, pp.287-313.
LEVI, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 21-110.
MONTEIRO, Ana Maria. A história ensinada: algumas configurações do saber escolar. História & Ensino. Londrina, v.9. p. 09-36, out. 2003
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla. O que e como ensinar. Por uma história prazerosa e consequente. In: KARNAL, Leandro (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2005. p.17-36.
RODEGHERO, Carla Simone. A anistia de 1979 e seus significados, ontem e hoje. In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (orgs.) A ditadura que mudou o Brasil. 50 anos do golpe de 1964. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
SAES, Décio. República do Capital. Capitalismo e processo político no Brasil.Rio de Janeiro. Boitempo, 2001

FERNANDES, Sidneia Caetano de Alcântara. AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA:  POSSIBILIDADES NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO. Dissertação de mestrado. UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO. Campo Grande - MS, AGOSTO – 2012

Um comentário:

  1. Qual seria a especificidade da lei de anistia no Maranhão?
    Priscilla Piccolo Neves

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