Joel Balduino da Silva Junior
Mr. História UNIR
Esse trabalho tem por objetivo investigar duas escolas públicas de Porto Velho, identificando como a História e Cultura afro-brasileiras e africanas são ministradas e recebidas pelos professores e alunos. Ouviremos, portanto, alunos, supervisores, diretores e professores das áreas de história, artes e literatura sobre o ensino de história e cultura afro-brasileiras conforme a Lei:10.639Esta dissertação tem por objetivo investigar duas escolas públicas de Porto Velho, identificando como a História e Cultura afro-brasileiras e africanas são ministradas e recebidas pelos professores e alunos. Ouviremos, portanto, alunos, supervisores, diretores e professores das áreas de história, artes e literatura sobre o ensino de história e cultura afro-brasileiras conforme a Lei:10.639/03, a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Essa lei institui obrigatoriamente o ensino da história e cultura afro-brasileiras e africana no currículo escolar do ensino fundamental e médio.
Este é um trabalho de campo em escolas públicas e optamos por utilizar os seguintes métodos: Grupos Focais, baseados na História Oral Temática defendida por Meihy (1996), Thompson (1992) e Simson (1997). As entrevistas, análises documentais e questionários abertos, as fontes bibliográficas, documentais, audiovisuais e orais fornecem dados para nosso trabalho. Nosso suporte teórico está em autores que discutem resistência à opressão, racismo e discriminação, hibridização de culturas, como Frantz Fanon (1968), Stuart Hall (2002), Petronilha (2004), Munanga (2005), Sodré (1988), Hampâté Bá (1975). Esses teóricos abordam questões relevantes para nossa discussão e propõem diálogos com os estudos culturais. Pretendemos por meio desta pesquisa promover meios de reconstruir a contribuição dos negros nos aspectos históricos e culturais para a sociedade brasileira. Argumentamos que, assim, poderemos enriquecer a percepção de nós mesmos, bem como da diversidade cultural afro-brasileira em Porto Velho. Os resultados da pesquisa revelam que há muito a ser feito nas escolas no sentido de refletir criticamente sobre o patrimônio histórico e cultural dos africanos e afro-brasileiros. A compreensão do patrimônio afro-amazônico em suas dimensões de história e cultura precisa ser inserida em nossas salas de aula. Nossas escolas precisam valorizar o contexto cultural afro-brasileiro e prover os alunos com a conscientização e luta contra o racismo, a intolerância religiosa e a discriminação, que ainda existem no meio escolar.
As questões que me trouxeram à realização desta pesquisa estão relacionadas a uma série de fatores que emergiram ao longo da minha trajetória profissional na educação, seja como aluno, seja como professor e, sobretudo, na atuação no movimento negro e nos contatos com as pesquisas nas comunidades de religiões de matrizes africanas. Devo citar também as intensas e complexas discussões e relatos dos participantes do (GEPIAA) Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares Afro-Amazônicos da UNIR, envolvidos no trabalho desenvolvido sobre o Patrimônio histórico e cultural, a discriminação racial, a intolerância religiosa e o racismo; passando, além disso, pela minha trajetória acadêmica e profissional como professor na rede Estadual e Municipal de ensino em Porto Velho. Dessa forma as questões relacionadas à condição dos negros na sociedade e sua presença na escola sempre receberam minha atenção. Ao longo da minha prática docente presenciei muitos conflitos no interior das escolas e na sala de aula relacionados as questões étnico - racial e ao preconceito. Diante dessas situações sempre procurei desenvolver trabalhos e ações que promovessem a reflexão e a mudança de postura entre os alunos e entre os professores.
Apesar da minha intervenção, percebia a dificuldade da escola e de outros colegas professores em lidar com a questão étnico-raciais. Nesse sentido, a presente dissertação visa ampliar os estudos e debates nas Escolas públicas sobre a história e cultura afro-brasileira, com base na Lei Federal 10.639/03, de acordo com a L.D.B.E.N. Sua relevância está em trabalhar com os nossos educandos e com o corpo docente o contexto cultural de história e cultura afrodescendentes na região amazônica, levamos outras percepções e concepções distintas da lógica do racismo e da invisibilidade social aos alunos e professores no combate ao racismo, intolerância religiosa e discriminação existentes no ambiente escolar. A discussão em sala de aula e também na sala dos professores sempre foi muito polêmica e conflituosa quando se trata das questões afro-brasileiras. Observa-se que quando tocamos no tema das crenças, sobretudo das religiões de matrizes africanas, causa-se certo incômodo. Esse fato foi observado in loco na sala de aula durante muitos anos. Por isso, faz-se necessário trabalhar em sala de aula com os alunos desde o ensino fundamental, juntamente com os professores das áreas de história, literatura e arte, conforme a Lei 10.639/03,a temática, história e acultura afro-brasileira, sobretudo as manifestações culturais religiosas na Amazônia, pois é nessa região que os alunos e professores vivem e convivem. O trabalho cumpriu algumas etapas e foi pautado nos métodos adotados. A primeira etapa foi desenvolvida na busca de informações sobre a Lei 10.639/03 nas escolas e sua aplicabilidade e importância através das entrevistas semiestruturais, utilizando-se da história oral, com os alunos e os professores de duas escolas da Rede Estadual de Ensino.
Na segunda, foi realizada uma análise documental junto ao corpo técnico, supervisores e gestores escolares dentro do estabelecimento de ensino público em Porto Velho. A terceira etapa, por sua vez, consistiu na aplicação de questionários semiestruturados com perguntas fechadas sobre a temática: Reflexão crítica sobre a história e a cultura afro-brasileira, aos alunos, professores e corpo técnico do estabelecimento de ensino público de Porto Velho. Na quarta etapa, foram realizadas rodas de conversas nos grupos focais com os alunos em sala de aula. Na quinta e última etapa, foram realizadas diversas atividades, utilizamos as mídias e vídeos como instrumentos para aguçara memória dos alunos e dos professores sobre as questões da cultura afro-brasileira, com o objetivo de provocar discussões interdisciplinares na escola. Esta dissertação tem como objetivo fundamental apresentar dados de uma pesquisa de campo realizada em duas escolas públicas de Porto Velho, sobre a história e cultura afro - brasileira, ampliando, assim, os estudos sobre a Lei 10.639/03.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio Anísio Teixeira (zona Norte – Centro), situada na Rua Irmã Capeli, nº 66 , e na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio São Luiz (zona Leste – periferia), situada na Rua Mario Andreazza, nº 8.186 - JK II, tendo como foco principal a opinião dos alunos, supervisores, diretores e professores das áreas de história, artes e literatura sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. A escolha das localizações das escolas se deu com o objetivo de realizarmos um estudo comparativo, sociocultural das informações colhidas na pesquisa de campo, nas duas zonas, Norte e Leste de Porto Velho. A escolha das séries e faixas etárias se deu pensando na maturidade dos educandos, fator essencial para o bom desempenho dos trabalhos nos depoimentos e na produção de dados. Além dos elementos citados, a intensa busca pelas origens do patrimônio histórico afrodescendente e os desdobramentos sociais mais amplos que aqui estão sendo apresentados, pude entrar em contato com a temática em questão quando realizei, em pesquisa de pós-graduação em história Regional de Rondônia entre os anos de 2006 a 2008, um estudo sobre as diferenças existentes entre os rituais e o simbolismo das festas das religiões de matrizes africanas na Umbanda e no Candomblé, em Porto Velho. Vale ressaltar que foi através desses fatos e da experiência pessoal com a pesquisa in loco com os cultos afro-brasileiros, no Latu Sensu, que nasceu o interesse, pela pesquisa no campo da etnicidade e culturalidade afro-brasileiras.
Referências
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Boa noite.
ResponderExcluirParabéns pela escrita do texto, pela preocupação com a temática e com as demandas da sala de aula, a qual, ainda encontramos como um espaço de exclusão, segregação e preconceito. (Não sei se concorda com a afirmação tal como foi posta) Na leitura do seu texto, fiquei pensando nas minhas práticas docentes e na construção da identidade ou valorização do legado afro no tocante as questões de patrimônio, pois, em linhas gerais, posso dizer que na minha cidade não há! Existe espaços com referências as etnias europeias, ou pessoas que 'passaram' pela por aqui, contudo, a quem viveu desde os primórdios da cidade, não há registros, como é o caso dos Kaingang e Xógleng que moravam e circulavam por toda essa região. Percebo que as crianças se auto identificam com italianos ou poloneses porque tem um avô ou avó, ignorando qualquer ou laço ou traço que possa ter com alguma população indígena e africana. E a questão é: como se identificar com estes povos que, historicamente, são representados por vieses depreciativos? Ou, no sentido local, como se identificar se 'não existem' na memória e história local? A famosa invenção das tradições apaga e nega a visibilidade desta parcela da população. Logo, gostaria que comentasse um pouquinho sobre estas questões que suscitei aqui. Desde já, muito obrigada.