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Jéssica Mayara

ENSINO E HISTÓRIA: UMA ABORDAGEM ATRAVÉS DE MODOS E MODAS EM SÃO LUÍS (1920)
Jéssica Mayara Santos Sampaio
Mnt./PPGHEN/UEMA

Este trabalho se propõe a analisar as transformações sociais no contexto urbano da cidade de São Luís, por meio da análise da moda e do comportamento no período de 1920, com o intuito de compreender os reflexos do processo histórico e das relações presentes na sociedade, através da questão da moda, um dos traços da relação entre o indivíduo e a sociedade, elucidando as alterações que acompanharam o ritmo de modernização das cidades.
O cenário urbano propiciava para homens e mulheres novos espaços de sociabilidade. No entanto, para as mulheres da elite, que passaram a ter mais contato com o espaço público, era necessário mostrar roupas que não desconstruísse sua moralidade, elegância no modo de andar e falar, a sedução através dos artifícios da beleza, o que era ideal para conseguir um bom casamento e status social.
Em 1920, estar na moda é adequar-se aos novos hábitos de influência, principalmente, francesa, que se instalaram nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e depois chegaram à cidade de São Luís, que não se encontrava no mesmo ritmo de modernização.
Silva (2011, p. 29) entende que, com o crescimento das cidades e o surgimento do modo de viver urbano que se fixou no início do século XX, homens e mulheres tiveram que adaptar-se a vida na cidade. A urbanização e a modernidade criaram um novo ambiente na cidade para a sociedade, porém a infraestrutura caminhava em um ritmo diferente da modernização.
Esse momento de transição de cenários urbanos, costumes e valores, revela as transformações que vão desde a preocupação com a beleza e saúde até a circulação de mulheres da elite na ruas, devido ao desenvolvimento de locais de interação social, cinemas, cafés, praças, bailes.
A moda também é um “instrumento” de rivalidade entre classes.  As classes mais favorecidas economicamente estão em busca da mudança e novidade, com a finalidade de esbanjar, identificar a posição social. O sentimento de pertencimento está relacionado com a aparência, o ter e o ser, o investimento para aparecer nas ruas ou em reuniões é exorbitante, pois além de manter, revigora as relações políticas, econômicas e sociais.
A modernidade representou a novidade do progresso e uma possível ruptura com a tradição, relações sociais e estilo de vida. Lipovetsky (2009, p. 32) afirma que a partir desse momento as mudanças vão precipitar-se; as variações do parecer serão mais frequentes, mais extravagantes, mais arbitrárias; um ritmo desconhecido até então, ou seja, a mudança tornou-se uma característica da modernidade e, além disso, despertou o fascínio pela distinção social e pela (re)construção da tradição e comportamentos.
A beleza, e não o intelecto, era a arma para ser ou se tornar “alguém”, afirma Calanca (2011, p.98). Desse modo, a aparência se tornou uma alternativa às mulheres para estreitar as interações sociais, as mudanças em relação ao destino da mulher, que agora podia participar de outro espaço que não fosse o privado, com nova representação do vestir, através do refinamento e da conduta.
Devido à dinamização da vida social e urbana, as oportunidades de exibição se tornaram mais frequentes, assim como os olhares sob a conduta e as críticas. Diante das transformações do espaço urbano, houve grande preocupação acerca do comportamento e valores tradicionais da sociedade. Para isso, foram estabelecidos novos ideais de comportamento e modelos para que houvesse a possibilidade de enquadramento em novos padrões.
O desenvolvimento da moda produziu no século XX, a busca pelo bem estar, identidade, afirmação social. Os discursos e práticas sociais indicam que a moda, os objetos e o afastamento entre classes diferentes, permitem o entendimento das relações política, social e econômica, já que a moda se torna um elo entre o consumo, aparência e a sociedade.
A História Social da moda e dos costumes é equivalente ao estudo das transformações sociais, culturais e econômicas da sociedade, de modo que estão articulados com as condições das mudanças e a forma como as pessoas se posicionam frente a padrões novos ou modificados.
A abordagem sobre moda, gênero e comportamento é pertinente na medida em que existe a preocupação com o momento de transição do cenário urbano, costumes e valores, que vão desde a manutenção da beleza até os locais de interação social que surgiram com o novo ritmo de vida. Por isso, a importância da utilização de fontes como periódicos e estudos bibliográficos, instrumentos de construção da memória, análise de acontecimentos individuais e coletivos para a compreensão das transformações urbanas e de beleza para compreender os papéis sociais de homens e mulheres, padrões de comportamento, as mudanças urbanas e os discursos de representação que envolvem ideias e experiências de determinado período.
Dentro do ensino da História, os livros didáticos seguem a tradição da narração e  da abordagem reducionista, ainda que apresentem construções históricas conflitantes,  geralmente ficam a disposição do professor para  esclarecer  e apresentar novas informações, para  aumentar as possibilidades de interpretações sobre os temas abordados em sala de aula.
Entende-se que há necessidade de incluir reflexões e investigações sobre modos e modas em conteúdos presentes nos livros didáticos, que não abordam com freqüência, temáticas referentes à questão de gênero, beleza, comportamento, representações, desenvolvimento da cidade, entre outros. De modo que, o livro didático como suporte do conhecimento escolar, representa um “vínculo de um sistema de valores, de ideologias, de uma cultura de determinada época e de determinada sociedade” ( BITTENCOURT, 2004, p. 302).
No entanto, pode-se também recorrer a uma diversidade de fontes para construir ou reinventar um tema, basta que o professor tenha comprometimento e proporcione como afirma Bittencourt (2004, p. 320), “no cotidiano das aulas, as ferramentas básicas para o saber estudar ou saber pesquisar”.
O estudo do passado se desenvolve através de interrogações que surgem no cotidiano, para então interpretar fatos e construir novas reflexões de variados temas. Logo, o livro didático ainda representa importante fonte para o leitor. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( Lei Nº 9394/96 LDB), principal lei que ampara a educação no Brasil, no artigo 26, é possível observar a importância das características regionais e locais que tem por objetivo contribuir com o desenvolvimento do aluno através do conhecimento sobre a cultura, econômica e outros aspectos importantes para o estudo.
O livro didático ainda é o instrumento mais utilizado no processo ensino aprendizagem, no entanto o aprendizado fica a cargo do professor que elabora formas de ver e entender os acontecimentos, seja através da política, da educação, entre outros. A abordagem elucida as transformações sociais por meio da análise da moda e das representações de gênero, o ensino da História deve problematizar os conteúdos, temas e explorar a história local.
O trabalho do professor em sala de aula requer cuidados, é importante organizar os conteúdos e utilizar ferramentas que dinamizem a transmissão de informações sobre determinado assunto, para que exista interação e interesse dos alunos.
É necessário que professores e alunos busquem a renovação dos conteúdos e problematizações históricas, de modo que “estabeleça um elo com o presente através de características e acontecimentos do passado”, bem como afirma Schmidt e Garcia (2005). Desse modo, perceber questões urbanas e sociais através da leitura da moda, seja pela vestimenta ou a sua produção, a estruturação da cidade, a política, entre outros, como um novo instrumento para o olhar do aluno sobre a história de São Luís.
Cada aluno tem de se perceber como um ser social, como sujeito de sua própria história (Pinsky. In: KARNAL, 2005, p. 28). Logo, a aproximação com a História permite a o estreitamento com a cultura, a educação, entre outros, e o desenvolvimento de um cidadão que responda questionamentos que duram décadas, como as relações de gênero por exemplo, e a cultura. Sendo assim, o ensino da história pode proporcionar ao aluno a problematização de conceitos, a contextualização de problemas e as condições para buscar possíveis soluções.

Referências
BITTENCOURT, Circe Maria F. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo. Ed Cortez, 2004. 
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília-DF: 1996
CALANCA, Daniela. História Social da Moda. 2 ed. São Paulo: Editora Senac, 2011.
FREYRE, Gilberto. Modos de homem e modas de mulher. 2 ed. rev. São Paulo: Global, 2009.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das letras, 2009
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma história prazerosa e conseqüente. In.: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2005.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira dos Santos; GARCIA, Tânia Maria F. Braga. A formação da consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de história. Caderno Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 297-308, set./dez. 2005.

SILVA, Camila Ferreira Santos. “A mulher deve ser bela, deve ter graças e encantos”: educação de salão na São Luís republicana (1890-1920). Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2011.

3 comentários:

  1. Olá Jéssica, parabéns pelo seu trabalho. Eu gostaria de perguntar a você como a moda funcionava como um instrumento de rivalidade entre as classes em São Luís/MA? Desde de já agradeço.
    Ass: Edilene Pereira Vale.

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    1. Olá, Edilene! Agradeço o interesse pelo trabalho! Durante a década de 1920, com o processo de modernização da cidade de São Luís, as classes mais favorecidas economicamente, buscavam objetos , símbolos e o convívio em grupos sociais, para se destacar das outras classes e assim manter o prestígio, refinamento e status social. Espero ter respondido sua pergunta.
      Att,
      Jéssica Mayara Santos Sampaio

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  2. Oi Jéssica, muito interessante, muito interessante o seu trabalho. Acho muito bom a ideia de poder mostrar aos alunos como muitas das mudanças vistas nas aulas de História e em livros didáticos, que costumeiramente citam como exemplos o Rio e S. Paulo, tiveram reflexos na sociedade local.

    Você cita que "Em 1920, estar na moda é adequar-se aos novos hábitos de influência, principalmente, francesa, que se instalaram nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e depois chegaram à cidade de São Luís, que não se encontrava no mesmo ritmo de modernização.".

    Meu questionamento é: como você consegue fundamentar fundamentar que esses novos hábitos de influências trazidas para São Luís passavam antes por Rio e S. Paulo? Seria errôneo afirmar que já era comum o fascínio pelos hábitos e modas dos franceses por parte dos ludovicenses? Ou seja, como se dava essa influência existente por Rio de Janeiro e São Paulo sobre São Luís?

    Att,
    Gustavo Barra de Araujo

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