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Jelly Juliane; Cecília Maria

O ENSINO DE HISTÓRIA PRÉ-COLONIAL: ESTUDO DE CASO DOS LIVROS DIDÁTICOS DO 6O ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Mnt. Jelly Juliane Souza de Lima
Arqueologia do Museu Nacional/ UFRJ
Dra. Cecília Maria Chaves Brito Bastos
UNIFAP

Introdução    
  “Ao projetarmo-nos rumo ao passado, acabamos por nós conhecer melhor” (HODDER, 1986, p. 106).
Considerando a citação acima, essa apresentação tem como objetivo mostrar o que têm sido escrito sobre a temática do passado pré-colonial nos livros de História do 6o ano do ensino fundamental distribuídos nas escolas públicas da capital Macapá/AP. Para tanto, alguns livros didáticos selecionados serviram como base para o presente estudo.

Ensino de História e Arqueologia
A produção acadêmica voltada para o processo de ensino-aprendizagem dos diferentes níveis escolares referentes à temática indígena data de 22 anos atrás.  Como exemplo de livros especializados, podemos citar “História dos índios no Brasil”, organizado por Manuela Carneiro da Cunha (1992) e “Temática indígena na Escola. Novos subsídios para professores de 1 e 2 graus”, organizado por Aracy Lopes da Silva e Luiz Donizete Grupioni (1995). Na sala de aula das universidades são essas algumas das obras indicadas como leitura para os acadêmicos, bem como para dar suporte na sala de aula.
Entretanto, a maior parte das publicações especializadas não chegam ao grande público e na universidade. A esse respeito, mesmo nas universidades o conhecimento produzido pela arqueologia é pouco difundido, ficando por vezes reservado aos profissionais dos departamentos que lecionam disciplinas específicas ou ainda dos setores de pesquisa em arqueologia que fazem parte destas instituições (LEITE, 1995), o que também não garante que os acadêmicos formados saiam do curso preparados para lecionar sobre a História Pré-colonial.
A partir da importância do estudo sobre o passado pré-colonial é que se faz necessário que se discuta e se criem estratégias que busquem valorizar a nossa história e a ensiná-la na sala de aula. Nesse sentido, o livro didático é uma das ferramentas que podem ajudar a difundir esse conhecimento. Mas como lecionar esse tema? Onde achar os aportes necessários para torná-lo atraente para os alunos? Voltemos ao livro didático.

Os livros didáticos
As primeiras percepções sobre os ameríndios pode ser encontrada na historiografia. Entre os séculos XVI ao XX, vários discursos acabaram por influenciar a escrita da nossa história. Como o livro didático é por vezes utilizado como material exclusivo, os mesmos não acompanham as discussões produzidas dentro da História, acarretando na propagação de visões tradicionais. Pesquisas sobre a produção e uso de livros didáticos no ensino de História têm proliferado na forma de artigos, monografias, dissertações e teses (BITENCOURT, 2004, p. 296).
Ademais, livros didáticos são importantes documentos utilizados por professores como forma de ensinar e aprender na sala de aula. Por isso, é necessário ter atenção e fazer leituras críticas antes de utilizá-lo. Um outro ponto a ser levantada recai sobre o governo e editores. Ambos se aproveitam do despreparo dos professores e das condições de trabalho nas escolas e assim encontram um espaço lucrativo para vender os “pacotes educacionais” (BITTENCOURT, 2004, p. 295).
Em decorrência dessas deficiências podem ser encontrados conteúdo defasados, lacunas e erros conceituais. Além disso, quando se trata das produções didáticas, os assuntos são muito variados, o que torna complicada a missão de escrever um livro com temas tão diversos. Na própria graduação em História, por exemplo, é difícil ser conhecedor de todos os temas, fator pelo qual a formação se restringe, usualmente, a um campo do saber (BARROS, 2004).
Os livros usados para fazer o diagnóstico são: História temática: diversidade cultural e conflitos, 2004; História: sociedade e cidadania, 2006; História das cavernas ao terceiro milênio. Dos primeiros seres humanos à queda do império Romano, 2006; Amapá: vivendo a nossa História, 2008; Projeto Araribá história: ensino fundamental, 2010; Estudar história: das origens do homem à era digital, 2011; História viva e integrada 6 ano, 2011 e Projeto Radix: raiz do conhecimento-História-6 ano, 2011, todos usados no 6o ano do ensino fundamental.  
Para fazer o diagnóstico fez-se uso da referência “Ensino de História: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004”, principalmente o capítulo “Livros e Materiais didáticos de História”. Em geral todos os livros usados em 2013 já estavam desatualizados. Quanto as teorias existe a presença do etnocentrismo, primitivismo, evolucionismo e determinismo. O uso de conceitos é extremamente equivocado. Em relação aos sítios citados, predominam como conhecidos os de Minas Gerais com o achado do crânio de Luzia, Piauí com a Serra da Capivara e Santa Catarina com os Sambaquis. Na região Amazônica são citados apenas os sítios marajoara do Pará.

Alternativa
Dentre os demais Estados do Brasil, o Amapá é um dos que se destaca pela quantidade de sítios arqueológicos e de suas características singulares, o que atesta uma riqueza cultural do nosso passado pré-colonial. Para enfim responder as perguntas feitas inicialmente: como lecionar esse tema? Onde achar os aportes necessários para torná-lo atraente para os alunos?, poisnão bastava apontar as falhas dos livros didáticos do 6oano do ensino fundamental.
A alternativa encontrada foi trabalhar com os eixos temáticos e a chamada História local bem como as proposta da Educação Patrimonial. Além disso, fez-se a produção de uma cartilha didática sobre a História Pré-Colonial do Amapá sistematizando as informações sobre a arqueologia da região. Com a cartilha, montou-se um kit didático contendo réplicas de artefatos arqueológicos que fazem parte das atividades propostas. Desta forma, ao apresentar ao aluno o objeto, o mesmo fará parte da etapa do processo de ensino-aprendizagem.

Considerações finais
É necessário que cada vez mais as pesquisas se voltem para o livro didático a fim de que contribuam com propostas de criação de estratégias que desconstruam os discursos cristalizados na História do Brasil. Contudo, nesse momento, ressalto que um livro ideal é sempre questionável. Esses lacunas vão continuar a perdurar enquanto não haver uma articulação entre o conteúdo e metodologia; professores, governo e editoras, bem como entre História e Arqueologia.

Referências Bibliográficas
DA SILVA, Aracy; GRUPIONI, Luís & MACEDO, Ana. A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1o. e 2o. graus. Mec, 1995.
BARROS, JOSÉ. O campo da história: especialidade e abordagem. Petrópolis: Vozes, 2004.
BITTENCOURT, Circe. Identidade nacional e ensino de história do Brasil. In: História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 2 ed. São Paulo. Contexto, 2004.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
CUNHA, MANUELA. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

LEITE, NÍVEA. O ensino da Pré-História nas escolas de 1 a 2 graus. IN: KERN, Arno Alvez. Anais, 8ª Reunião Científica da SAB-Sociedade de Arqueologia Brasileira, Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. 

Um comentário:

  1. Parabéns pelo paper,

    Este é um lembrete muito importante sobre a importância do livro didático e como construir discursos mais inclusivos, desconstruindo discursos engessados e ultrapassados através dessa interação e um esforço constante de sempre discutir e atualizar os discursos criticamente.

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