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Israel de Lima

IMAGEM EM MOVIMENTO: ASPECTOS SOBRE O CINEMA NO ENSINO DE HISTÓRIA
Israel de Lima Miranda

Introdução
Atualmente a sociedade vive um momento em que as mídias visuais tomam cada vez mais espaço nas relações de convivência e de aprendizagem. Podemos destacar como os principais meios de mídias visuais: o cinema, a televisão e, o mais atraente, a internet. Dentre todas estas mídias destacamos o cinema e sua relação com o meio social. Sobretudo, podemos identificar a capacidade que as produções cinematográficas têm de encantar o grande público e atrair, também, os jovens para as salas de cinema. Neste sentido muitos pesquisadores/professores vêm desenvolvendo estudos que buscam ampliar a relação entre o cinema e o ensino de História. Mesmo com o crescimento de pesquisas neste tema Cristiane Nova sinaliza que
As relações existentes entre a história e o cinema não são recentes, pois datam do surgimento deste, há um século. No entanto, o seu estudo mais aprofundado remonta há apenas três décadas e ainda se encontra longe de alcançar uma situação de relativo conforto no que concerne à formulação de um arcabouço teórico sólido. (NOVA, s.d.)
O cinema enquanto objeto de estudo para a ciência histórica é algo bastante recente. Somente a partir da década de 1970 é que o filme passou a ter o caráter de fonte histórica, ou seja, começou a ser visto como um possível documento para a investigação histórica. Tal fato é consequência da renovação historiográfica, movimento iniciado pela Escola dos Annales, fundada pelos historiadores Lucien Febvre e March Bloch. Neste contexto, alguns historiadores se debruçaram sobre esta temática buscando dar conta da relação Cinema-História. Podemos destacar, atualmente, entre eles o pioneiro e principal teórico historiador Marc Ferro. Revisitando estes teóricos, temos como objetivo contribuir com uma breve reflexão sobre a importância do cinema para o ensino de História.

O cinema e suas possibilidades no ensino de História
O início da história do cinema nos remonta ao fim do século XIX, na França, quando os irmãos Lumiére produziram e projetaram dois filmes num café parisiense. Foi projetado o famoso filme L’Arrivée d’um train em gare (“Chegada de um trem à estação), pela primeira vez as pessoas tiveram a possibilidade de ver imagens reais em movimento.
Se os franceses foram os pioneiros no cinema industrial e artístico, no final da década de 1910 os EUA já despontavam como o grande pólo de produção cinematográfica mundial, posição mantida ao longo de todo o século XX. (NAPOLITANO, 2009, p.69)
Esta posição consolidada na indústria cinematográfica pelos EUA pode explicar sua força e eficácia na ação de expandir seu modelo cultural, modo de vida e comportamento. Conforme Marc Ferro o filme desde que tornou-se arte, começou a intervir na história e a ser usado para doutrinar pessoas e para glorificar lideres e instituições. (1988, p.203)
Assim como a introdução de novas fontes se deu na construção do conhecimento histórico também houve mudanças no “ensinar história”. Porém “Ainda existem professores que empregam o cinema como divertimento ou como ilustrador do conteúdo.” (LERA; ROSA, 2013, p. 190). Este é um dos pontos principais sobre as discussões a respeito da função das películas no ensino de história. Para romper com esta prática, antes de tudo, o professor de história deve compreender as diversas características que este tipo de instrumento possui. Dentre estas características destacamos: o papel do filme como fonte documental, ou seja, um objeto de determinado período que carrega significados e valores de sua época, e como uma representação do passado histórico.
É importante que o professor compreenda que os filmes de história falam mais do presente e menos do passado. Desta maneira, ao escolher um filme histórico para “ilustrar” o conteúdo, o professor deve levar em consideração que ele é um olhar sobre o passado. (LERA; ROSA, 2013, p. 197)
As produções de Hollywood são outro importante ponto a ser ressaltado, tais produções tradicionalmente valorizam a emoção sobre a razão. É importante frisar para os alunos que o cinema apenas representa o passado, e não tem o compromisso com a verdade histórica. O cinema “Como todas as representações, [...] trazem embutidos em si os elementos da narratividade, da ficcionalidade. Falar sobre o real é produzir um discurso que já é, a priori, ficcional, pois é narrativo, é representação.” (ROSSINO, 2008, p. 139)
Além disso, o cinema é capaz de fazer com que os alunos compreendam de forma mais significativa diversos conceitos, o que é fundamental para a aprendizagem histórica. Como exemplo temos o clássico filme de Charles Chaplin “Tempos Modernos” (Modern Times, EUA, 1936) em que o personagem principal é um operário do início do século XX, Carlitos.
O filme dá ao professor a possibilidade de trabalhar com o conceito de Fordismo, onde o operário trabalha na linha de produção de automóveis, [...] faz uma critica ao sistema de produção, que aliena o operário na fábrica, e ao capitalismo. Indo um pouco além, o filme também proporciona uma reflexão sobre a classe burguesa e o proletariado. (LERA; ROSA, 2013 p. 202)
Dependendo da temática que o professor estiver trabalhando em sala de aula os filmes podem nos mostrar mais do que uma história de ficção, não só os filmes históricos são importantes. “Algumas películas, por exemplo, podem ser muito úteis na reconstrução dos gestos, do vestuário, do vocabulário, da arquitetura e dos costumes da sua época, sobretudo aquela em que o enredo é contemporâneo à sua produção. (NOVA, s.d.) Tais aspectos podem ser de grande valor não só para o historiador em suas pesquisas, mas também para o professor refletir com seus alunos e construir juntos novos caminhos de compreensão do passado.
Refletir sobre a relação entre Cinema-História é de extrema importância para o momento em que vivemos. Trazer os alunos para esta discussão é apresentar a eles novas possibilidades de aprendizagem e ampliar a relação destes com o mundo e a produção de significados que os cercam. É preciso reforçar que os filmes podem dinamizar o ensino da História e também, trazer novos personagens e novos olhares sobre a cultura de um determinado contexto histórico. Neste sentido, o uso dos filmes se torna um desafio, pois se trata de uma busca de compreender outro campo, o cinematográfico, e dar conta de suas linguagens, suas imagens em movimento, as cores, as escolhas do diretor, etc.

Referências:
BARROSO, Vera Lúcia Maciel et al. Ensino de história: desafios contemporâneos. Porto Alegre: EST: Exclamação: ANPUH, 2010. 296 p.
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: História e Imagem. Bauru: EDUSC, 2004, p. 225.
FERRO, Marc. O Filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, Jaques; NORA, Pierre (Orgs.) História: novos objetos. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1988.
LERA, Maria Caparrós; ROSA, Cristina Souza da. O cinema na escola: uma metodologia para o ensino de história. Revista Educação em foco, Juiz de Fora, v.18, n.2, p. 189-2010, jul/out. 2013
NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2009.
NOVA, Cristiane. O cinema e o conhecimento de História. Olho da História, n. 3, [s.d.].
PEREIRA, Nilton Mullet; SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de História? Sobre o uso de fontes no ensino de História. Anos 90. Porto Alegre, v. 15, n. 28, p. 113-128, dez. 2008.

ROSSINI, Mirian de Souza. O Cinema e a história: ênfase e linguagens. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy; SANTOS, Nádia Maria Weber; ROSSINI, Mirian de Souza. (orgs.) Narrativas, imagens e práticas sociais: percursos em história cultural. Porto Alegre: Asterisco, 2008.

6 comentários:

  1. Olá! Quais maneiras, em sua opinião, são mais adequadas para se trabalhar o cinema em sala de aula? Tendo em vista o curto tempo de aulas no ensino básico e que normalmente a duração dos filmes extrapola este tempo, seria melhor uma abordagem fragmentada da obra em sala trazendo pontos chaves inseridas nela para a reflexão histórica?

    Ítalo Nelli Borges.

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    1. Olá Ítalo, Obrigado pela sua pergunta.
      Realmente em virtude do curto tempo das disciplinas de História a abordagem fragmentada se torna um caminho viável para desenvolver uma aula mais dinâmica no ensino de História. Porém ao usar partes dos filmes nunca devemos perder de vista o contexto histórico em que se insere a temática. Acredito que os fragmentos são mais relevantes quando se quer exemplificar detalhes ou representações.

      Israel Miranda

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  2. Olá.

    Em sua opinião, você acredita que essa nova geração (última década) de professores, tenta romper com o estereótipo engessado nas LDBs que limitam a disciplina às aulas teóricas, usando cinema entre outros recursos visuais?

    Iara Medolago Carr

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    1. Olá Iara.
      Realmente a busca por novas metodologias cresce cada vez mais. Acredito que um fator bastante significativo seja a influência da academia, em que os Historiadores já refletem a mais tempo sobre o uso de novas ferramentas para a construção do conhecimento histórico.

      Israel Miranda

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  3. Algo que sempre venho discutindo com meus colegas é sobre a importância do uso dos filmes dentro das salas de aula. Muitos acreditam que não se deve envolver o uso de fantasia para legitimar os fatos históricos. Você acredita que exista alguma diferença pedagógica entre filmes reais, como os que contam a história de determinados ícones (incluindo também os documentários, por exemplo) e filmes com estórias, porém com ambientações não ficcionais, na aprendizagem do jovem?

    Tatiana de Carvalho Castro

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  4. Olá, Israel. Parabéns pelo trabalho.
    O cinema, sem dúvidas, é uma mídia praticamente intrínseca em nossa sociedade, atravessando gerações e cativando continuamente o público.
    Voltado para o ensino de História, o cinema pode ser um atrativo para professores e alunos. Porém, tenho a seguinte dúvida: Como usar um determinado filme sem haver uma rejeição por parte dos alunos? Como sabemos, os filmes, por vezes, os filmes são utilizados como mero entretenimento e para "matar tempo", substituindo as explicações e a construção do saber em sala de aula. Nessa perspectiva, gostaria de saber como lidar com isso.

    Abraços.

    Márcio Vitor Santos.

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