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Ingrid Luane; Ana Livia

HISTÓRIA, RELIGIÃO E ENSINO: BREVES REFLEXÕES PARA A EDUCAÇÃO
Mnt. Ingrid Luane Campêlo de Oliveira
Profª Dra. Ana Livia Bomfim Vieira
UEMA

O espaço escolar em sua diversidade de relações abrange várias questões que devem por sua vez, serem tocadas e refletidas, pois é neste mesmo espaço que os saberes em consonância com o cotidiano para além dos muros, são construídos em parcerias com todas e todos aqueles que são agentes da educação. Dentre outras questões, a questão religiosa é uma constante dentro das temáticas que cercam o dia a dia das salas de aula, pois trata-se de um elemento que minimamente compõe o indivíduo seja através da sua negação ou da sua afirmação.
Os discursos religiosos perpassam e passeiam entre corpo docente, discente e funcionários (as), seja através dos símbolos, de frases, costumes, ditados, ritos particulares, utensílios pessoais utilizados, imagens expostas, ou em falas compreendidas como orientações padrões morais de civilidade. Ou seja, o/a religioso (a), não encontra-se à margem, mas no centro de questões do cotidiano e que precisam serem vistas como pontos centrais de sociabilidades e debates.
Desta forma, seja em menor ou maior grau, os saberes construídos nesses espaços educacionais também confluem com tais práticas individuais que dinamicamente transbordam para o coletivo. É um movimento elástico propiciado pelo o que a própria educação possibilita partindo do seu caráter pluridimensional e sugestivo no que diz respeito à diversidade do “saber ser”. Evidencia-se cotidianamente que nenhum conhecimento é construído de maneira isolada na ação pedagógica, pois com base em Tardiff (2002), o saber é plural, é amálgamo, e é na sala de aula que esses conhecimentos podem ser retraduzidos no processo de ensino-aprendizagem.
 E é nesse contexto em que o âmbito escolar aparece como imprescindível como um espaço de reflexão sobre a disciplina de Ensino Religioso (ER), que destacamos a presença da como parte também da construção de saberes de uma sociedade heterogênea em suas várias dimensões identitárias. Em consonância com Joanildo Burity (2015),
não é possível ignorar que a constatação da presença pública das religiões se revista de tantas possibilidades de contestação. Porque ela não simplesmente se dá, para qualquer um ver. Ela instaura uma nova cena, que perturba um imaginário político solidamente constituído, revelando não somente suas fraturas, mas também a multiplicidade (e portanto, a contingência) de caminhos por meio dos quais tal imaginário (o moderno ocidental) se constituiu.
Nesse sentido, sob mesma medida não podemos dar ao cenário escolar uma caráter descolado de toda essa “nova cena” apontada pelo autor com uma religião que não se faz nos muros do particular, mas se estabelece publicamente, trazendo a tona fraturas sociais e divergências de interesses, ou seja, indica movimentos complexos de (re) estruturações sociais.
Nesse emaranhado de conflitos postos publicamente, que por sua vez, devem ser encarados como dinâmicos, haja vista a confluência entre o particular e o coletivo, encontramos na educação uma via para darmos visibilidade a uma questão pública que permeou construções de sociedades compostas por sujeitos em seus chãos históricos.
E hoje sendo o ensino da religião amparado por medidas jurídicas legais nacionais e legitimadas nos espaços públicos, na mesma medida em que também a laicidade é apregoada, consideramos a pertinência de darmos a temática o seu caráter específico de análise. Para tanto, acreditamos que a formação docente deve ser incentivada em seu sentido diverso e de totalidade, reconhecendo em cada aluno e aluna, um potencial agente construtor de alteridades, alterando cenas de intolerâncias a grupos majoritariamente marginalizados ou silenciados em decorrência de suas práticas religiosas.
Partindo desta questão-problema que cabe ao/a historiador(a) solucionar. Sugerimos a proposta de pensarmos o ensino da religião como também uso e propriedade intelectual do/da profissional da História em sala de aula, dando a esta uma configuração historicizada.
Para tanto, a inserção desta temática nos espaços educacionais não poderia ser simplesmente lançada, reproduzindo assim, por ato contínuo, o que muito já se discute a respeito da temática nestes espaços a partir de um discurso que, em tese, deveria ser despido de qualquer proselitismo, mas que em sua externalização e prática cotidiana escolar, mantém a análise do religioso fora de qualquer perspectiva histórica, isto por falta fundamentalmente de um suporte teórico-metodológico que este educador possa ter acesso e, assim, conduzir tal debate.
Neste sentido, acreditamos que academia e os espaços educacionais devem, por sua vez, encontrar parcerias na perspectiva de preencher lacunas entre estes dois lugares de elaboração de saberes, promover diálogos entre esses locus de construção de ideias, pois ambos fazem parte de um movimento que nunca foi unilateral quando tratamos acerca da construção do conhecimento.
Consideramos que como base do processo de ensino-aprendizagem, ensino e pesquisa precisam ser eixos privilegiados na condução do trabalho de docentes em sua prática para que tanto alunado quanto o/a professor(a) – atores principais desse processo- sejam construtores de uma sociedade em que a educação seja uma via de mudança e transformação.

Bibliografia:
Documentação:
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Referências Bibliográficas:
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8 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como se sabe, é essencial ter um estudo sobre as religiões para que os alunos em seu desenvolvimento, tenham conhecimento sobre práticas religiosas diferentes das suas, construindo assim, um respeito mutuo e exercitando a alteridade. Valendo-se dessa perspectiva, qual seria sua sugestão para trabalhar com o tema de religiões no Fundamental II? Como incluir esse estudo neste contexto? Obrigada!

    Angêlica Rita de Araújo

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  3. Temos as Ciências Sociais, que tratam diretamente do Estudo das Religiões como um fato social (DURKHEIM), e a História que trata, em linhas gerais, das contribuições das religiões nos processos históricos.

    Mas é evidente que no Ensino Fundamental este tema causa curiosidade não só nessas disciplinas e é tratada com reducionismos justamente pela "falta fundamentalmente de um suporte teórico-metodológico que este educador possa ter acesso e, assim, conduzir tal debate".

    Não seria importante incluir o "Estudo das Religiões" nas grades de Licenciatura das instituições de Ensino Superior, para que assim seja dirimido esse proselitismo?

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  4. Temos as Ciências Sociais, que tratam diretamente do Estudo das Religiões como um fato social (DURKHEIM), e a História que trata, em linhas gerais, das contribuições das religiões nos processos históricos.

    Mas é evidente que no Ensino Fundamental este tema causa curiosidade não só nessas disciplinas e é tratada com reducionismos justamente pela "falta fundamentalmente de um suporte teórico-metodológico que este educador possa ter acesso e, assim, conduzir tal debate".

    Não seria importante incluir o "Estudo das Religiões" nas grades de Licenciatura das instituições de Ensino Superior, para que assim seja dirimido esse proselitismo?

    Maycon Alves Casado

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  5. Desculpe repetir a publicação, é que eu não tinha assinado e também não consegui apagar o primeiro comentário.

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  6. A religião faz parte de nossa história desde o nascimento, vai sendo construída no âmbito familiar, quando se chega a fase adulta alguns se apropria dá dinâmica de fé, a atualidade está marcada por movimentos que que possibilita a sacralização da interiorização, levando a individuação na busca ao sagrada.
    Qual a melhor fase na educação para inserirmos a disciplina de Ensino Religioso?

    Lucivaine Melo da Silva

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  7. Boa tarde, belo estudo e muito pertinente em nosso cenário escolar.
    Como já foi dito aqui, o estudo das religiões no Fundamental II é muito limitado, passa por uma barreira de preconceito quando falamos de Candomblé, Espiritismo, entre outros.
    Qual metodologia você me apresentaria para pudéssemos trabalhar o reconhecimento e aceitação da sua religião no Ensino Fundamental II?
    Naiane Lima dos Santos.

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  8. Muito interessante a abordagens de vocês.
    Sabemos que discutir religião nas escolas ainda é algo muito complicado, por conta de muitos preconceitos existentes em ralação algumas religiões. O que vocês pensam sobre isso?
    Grata, Siméia Teixeira Gomes de Souza Silva.

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