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Heraldo Márcio; Rafael Rogério

A APRENDIZAGEM COOPERATIVA POR MEIO DA MONITORIA ACADÊMICA: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA
Prof. Me. Heraldo Márcio Galvão Júnior
Prof. Me. Rafael Rogério Nascimento dos Santos
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

Introdução
As universidades brasileiras passaram a adotar os programas de monitoria oficialmente a partir da Lei 5540, de 28 de novembro de 1968, cujo artigo nº 41 traz:
As universidades deverão criar as funções de monitor para alunos do curso de graduação que se submeterem a provas específicas, nas quais demonstrem capacidade de desempenho em atividades técnico-didáticas de determinada disciplina. 
Esta Lei, que fixava normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, trazia apenas o pequeno excerto transcrito acima referente à monitoria e precedeu o Decreto nº 66.315, de 1970, que dispôs sobre o programa de participação do estudante em trabalhos de magistério e em outras atividades dos estabelecimentos de ensino superior federal. Neste, a função da monitoria aparece de maneira mais especificada e detalhada.
A partir daí, as Universidades, especialmente federais, passaram a adotar a monitoria como componente importante a partir de legislações internas específicas. A partir de 1980, segundo Ana Maria Iorio Dias (2007), houve a descaracterização do programa como componente de iniciação à docência no ensino superior quando outras modalidades de bolsas foram surgindo, notadamente as de iniciação científica, havendo a valorização exacerbada da pesquisa em detrimento do ensino.
Percebe-se hoje, especificamente no curso de História da Unifesspa de Xinguara, que as monitorias interessam aos alunos em dois momentos específicos: quando estes percebem que gerarão pontos importantes no Lattes e que ampliarão suas chances empregatícias ao se formarem ou quando não há esperança imediata de bolsas de pesquisa. Em relação aos docentes, há a nítida preferência da maioria em relação a bolsistas de pesquisa.
Em contrapartida, esta Universidade, compreendendo que a monitoria acadêmica representa um espaço de formação para o monitor e para o professor orientador, contribuindo assim para a melhoria do ensino de graduação, abre editais constantemente e promove incentivos, como a ampliação do número de bolsas, eventos específicos para apresentação dos resultados e relatos de experiências, como o Seminário de Projetos Integrados.

Monitoria acadêmica: disciplina, aprendizagem e relato de experiência
O presente trabalho traz os resultados de uma orientação de monitoria da disciplina “Sociedades autóctones das Américas” do curso de Licenciatura em História do Instituto de Estudos do Trópico Úmido da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, em Xinguara. Tal empreitada foi possível devido ao Programa Institucional de Monitoria, doravante PIM, que tem como intuito melhorar os indicadores de ensino-aprendizagem, permitindo que os discentes, na condição de monitores remunerados ou não, possam obter uma formação mais completa, portanto, integrada às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, a monitoria pode criar um sistema de cooperação dentro de sala de aula que pode beneficiar todos os alunos, pois promove a realização de atividades entre docente e monitor, sendo esse, ainda, um sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem.
Ao discente coube auxiliar o professor na orientação de alunos, esclarecendo e tirando dúvidas em atividades de classe; identificar, em conjunto com o docente, as dificuldades enfrentadas pelos alunos da disciplina; discutir com o professor as metodologias, conteúdos e ações a serem priorizados; coordenar grupos de trabalho ou estudo, tendo em vista a orientação da aprendizagem dos colegas; exercer suas atividades conforme o Plano de Atividades de Monitoria, elaborado em conjunto com o orientador; cumprir vinte horas semanais de atividades de monitoria, conforme horários preestabelecidos; apresentar, mensalmente, um resumo das atividades realizadas; elaborar relatórios; participar e apresentar trabalhos em atividades acadêmicas (EDITAL Nº 04/2016 – PROEG SELEÇÃO DE MONITORES – 2016/2).
Nesse sentido, a monitoria atendeu uma turma de 26 alunos de graduação da referida disciplina no período de 21/03/2016 a 20/07/2016, cujos temas principais recaíram sobre a diversidade cultural dos povos autóctones e sua organização política, econômica e cultural nos Andes, Meso-américa e América do Norte e as tradições históricas desde os povos originários da América. Foi feita publicidade aos estudantes sobre os espaços, locais e horários de atendimento em relação à coordenação de grupos de estudos, conforme definido no Plano de Atividades de Monitoria. Toda quinta-feira, sem exceção, das 16:00 às 20:00, a monitora esteve disponível para discutir os textos abordados e a serem abordados em sala de aula, assim como auxiliar na preparação de seminários, montagem dos planos de aula e aprofundamento dos temas definidos no Plano de Ensino do docente.
No período supracitado, a monitora demonstrou assiduidade em relação aos compromissos firmados com o orientador, responsabilidade para com as tarefas desenvolvidas individualmente e em grupo e interesse em relação à disciplina, ao aprendizado e à bibliografia. Demonstrou proximidade e disponibilidade em relação à turma, marcando, inclusive, reuniões extras a fim de auxiliar na preparação de seminários. Apresentou, ao orientador, fichamentos, resumos e resenhas da bibliografia básica e complementar, comprovando seu interesse e domínio sobre os temas abordados em sala de aula.
Todos estes aspectos foram essenciais para a os resultados positivos e maior aproveitamento dos alunos, haja vista que a monitora contribuiu com participações consistentes em discussões em sala de aula, reuniões com os alunos com dificuldades de compreensão do texto, auxílio na preparação de seminários e planos de aula, assim como sugeriu intervenções metodológicas e didáticas ao professor orientador.
O Plano de Atividades de Monitoria foi cumprido de acordo com o planejamento realizado, em conjunto, pelo professor orientador e pela discente monitora. As reuniões semanais ocorreram em três momentos: 1. Um dia antes de cada aula a fim de discutir as principais idéias dos textos, abordagens, preparação de aula, plano de aula, entre outras questões imediatas. Nesta reunião, a monitora entregava os fichamentos/resumos/resenhas dos textos; 2. Logo após as aulas, para avaliação, análise dos resultados e do desenvolvimento da turma; 3. Às segundas-feiras, com a finalidade de discutir os principais problemas e dificuldades identificados pela monitora em suas reuniões com os alunos. Além das reuniões semanais, houve reuniões mensais para entrega de relatório, para relatos acerca do desenvolvimento da turma e da própria monitora.
Em relação à turma, houve diminuição do índice de reprovação em comparação à outra que cursou a mesma disciplina. Do total de reprovados na turma que cursou a disciplina anteriormente, apenas um continuou no curso. Não houve reprovação nesta turma. O índice de evasão da turma anterior desta disciplina não pode ser calculado, pois a evasão da disciplina ocorreu juntamente com a evasão das outras e desistência do curso. Dessa maneira, não é possível fazer um paralelo entre a anterior e a atual. Pode-se inferir que não houve evasão na disciplina atual.
Houve um aumento considerável na média da turma em relação à anterior. Como fui professor desta turma em outras disciplinas, também pude notar um maior desenvolvimento dos alunos enquanto discentes do curso de licenciatura em história.
A ação de monitoria apresentou resposta positiva às dificuldades de ensino-aprendizagem no sentido de ajudar os alunos a identificarem os pontos essenciais de cada tema discutido de acordo com análises historiográficas contemporâneas, a compreenderem e refletirem acerca dos conceitos fundamentais da disciplina, assim como pode auxiliar indiretamente em outras disciplinas devido a discussões acerca da metodologia de pesquisa e de ensino. No mesmo sentido, a monitora obteve um desenvolvimento excepcional ao sentir-se responsável/coadjuvante no processo de ensino-aprendizado de seus calouros.
Foi notável a melhora no desenvolvimento individual e coletivo dos alunos em relação à bibliografia, apresentações de seminários, trabalhos entregues, discussões focadas e fundamentadas. Notou-se uma melhora na análise dos conceitos fundamentais da disciplina por um viés histórico e historiográfico. A monitora demonstrou muito interesse na vida acadêmica e docente em nossas reuniões e conversas.
Em certas ocasiões, os próprios alunos se sentiram mais à vontade em consultar seus parceiros para sanar suas dúvidas ou repassar questões ao docente. Esta aprendizagem cooperativa, estudada por Robert Slavin (1990), é apresentada como alternativa no ensino-aprendizagem devido ao monitor participar da cultura dos próprios alunos, cultura esta que possui diferenças em relação à dos professores, ou seja, a interação do monitor com o docente e os alunos favorece a aprendizagem cooperativa, favorecendo a aprendizagem de todos.
Entretanto, a relação entre alunos e monitor não se restringiu a um tira-dúvidas, pois esteve relacionado a reuniões de aprofundamento, preparação de seminários e grupo de estudos.

Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
IOKOI, Z. e BITTENCOURT, C. (orgs.) Educação na América Latina. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura; São Paulo: EDUSP, 1996.
KARNAL, L. (org.)- História na sala de aula. Conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003.
NATÁRIO, E. G. Programa de monitores para atuação no ensino superior: proposta de intervenção. Campinas. 2001.Tese (Doutorado em Educação) Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
NUNES, J. B. C. A socialização do professor: as influências no processo de aprender a ensinar. 2001.
SANTOS, M. M.; LINS, N. M. (Orgs). A monitoria como espaço de iniciação à docência: possibilidades e trajetórias. RN: EDUFRN, Natal, 2007.

SLAVIN, R. E. Research on cooperative learning: consensus and controversy. Educational Leadership, v. 47, n. 4, p. 52-54, 1990.

2 comentários:

  1. Boa noite, caríssimos professores
    Minha participação aqui, é somente tecer alguns comentários e elogios à vocês,pela contribuição que vocês como docentes dão ao processo de ensino-aprendizagem, nos possibilitando uma maior abertura de dialogo entre três fundamentais sujeitos envolvidos nesse processo que são: discentes, docente e monitor.
    Todo esse processo nos dão margens de melhoramentos e trocas de experiências, que serão de grande relevância aos discentes que posteriormente irão assumir o papel da docência.

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    1. Boa tarde, querida Fabrícia.

      Agradecemos suas palavras e enfatizamos que somente com a parceria ampla entre os três setores envolvidos conseguimos chegar a um resultado tão favorável e positivo. Acreditamos que Programas como este levam à aprendizagem cooperativa de todos os envolvidos.

      Heraldo Márcio Galvão Júnior

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