Páginas

Gustavo Barra

O ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO (UEMA) E OS REFLEXOS NA FORMAÇÃO DOS GRADUANDOS
Gustavo Barra de Araujo
Mnt. PPGHEN - UEMA

Nesse artigo são expostas possíveis conclusões que podem ser tomadas a partir do trabalho de conclusão de curso realizado em 2014 onde se utilizou dos relatórios de estágio para, através desses relatos de experiências, se analisar como tem sido o ensino de História em escolas da rede pública de Ensino Médio de São Luís do Maranhão. Para isso, leva-se em consideração a importância dada ao estágio curricular, componente curricular da Dimensão Prática dos cursos de licenciatura da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Dimensão Prática nos cursos de licenciatura da UEMA propõe, dentre outros, aproximar a realidade dos futuros profissionais da educação com a realidade da prática docente. Seus componentes curriculares (prática curricular; estágio curricular das licenciaturas e outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais/AACC) foram sistematizados por meio da Pró-reitoria de Graduação (PROG), presentes na Resolução nº 890/2009/ CONSUN/ UEMA e no Manual da Dimensão Prática dos Cursos de Licenciatura da UEMA (2011).
Percebe-se assim que a UEMA e o seu curso de História têm alterado suas estruturas pedagógicas visando possibilitar que o estudante em licenciatura imerja no cotidiano escolar e possa tecer reflexões sobre as práticas realizadas pelos professores e elaborar seus diagnósticos sobre o ensino durante suas vivências e as regências de classes. Das atividades propostas, preserva-se a importância dos estágios curriculares, onde as reflexões e diagnósticos realizados pelos estagiários devem estar presentes em seus relatórios. Acredita-se que a prática curricular permite desenvolver esse processo de imersão durante o processo de formação, sendo o estágio o momento em que o aluno tem uma relação mais direta com a atuação docente que será constante em sua profissão. Essa relação se faz necessária para possibilitar uma maior aproximação entre teoria e prática, considerando também o que expõem Barreiro e Gerbran (s/d, p. 88):
o preparo do docente nos cursos de formação deve contemplar elementos que orientem e façam a mediação entre o ensino e a aprendizagem dos alunos, e que favoreçam uma ação pedagógica significativa, propiciando-lhe maior compromisso com o sucesso da aprendizagem, o desenvolvimento de práticas investigativas, a elaboração e a execução de projetos para trabalhar com os diferentes conteúdos curriculares, a utilização de novas metodologias de ensino e de avaliação e o desenvolvimento de trabalhos coletivos.
Destarte, crê-se que, conforme defendido por Pimenta e Lima (2001, p. 45 e 49), se facilita que as teorias sirvam como “trilhas para a proposição de novas experiências”, possibilitando aos professores tomar as ações de análise e compreensão dos “contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais, e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir transformando-os”.
Dos componentes curriculares da Dimensão Prática do curso de História, considerou-se os relatórios de estágio como possuidores de uma análise mais profunda pelo aluno sobre a relação teoria-prática do ensino de história. Essa consideração partiu da percepção que durante o estágio o acadêmico tem contato com experiências relacionadas a sua futura atuação docente.
Assim sendo, realizou-se análise dos relatórios dos estagiários do curso de História da UEMA para, a partir de experiências e inferências por eles feitas, procurar compreender como essa instituição de ensino superior tem possibilitado aos graduandos analisar as práticas realizadas no cotidiano escolar e relacioná-las com as teorias que tem contatado nos componentes curriculares do curso de graduação. Além disso, visou-se perceber como o curso de História dessa instituição tem possibilitado que seu corpo discente possa traçar caminhos para buscar alcançar os objetivos presentes em documentos legais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), sobre o ensino da História.
Partindo das análises desses relatórios, depreendeu-se muitas reflexões teóricas sendo, de algum modo, incorporadas pelos estagiários. Tais reflexões podem ser observadas principalmente quando citam alguma dificuldade vivenciada (período de regência do estágio curricular) ou observada (período de observação do estágio curricular). Como se vê nos seguintes trechos de relatórios:
O professor [...] me deu inúmeras vezes a impressão de que os alunos não aprendiam, não porque não tinham uma boa base educacional ou ainda porque não queriam, mas simplesmente porque tinham deficiência na aprendizagem, citando por vezes a palavra “burrice”. Essa ideia soa mais como uma justificativa para o aprendizado não efetivo dos conteúdos que ele passava de maneira muito fragmentada e inconsistente [...] Sendo assim, concluo, sobre esta questão, que os alunos por terem uma base educacional deficiente podem sofrer muitas complicações no Ensino Médio para aprender, entretanto, os conteúdos podem ser passados com eficácia se forem observadas as categorias distintas de ensino, mudando-se as estratégias e as dinâmicas também. (Relatório de Estágio de Ensino Médio, 2013)
Os educadores devem estar sempre em um processo de atualização e aperfeiçoamento das práticas educacionais.
[...]
Os educadores devem buscar métodos e estratégias para capacitar nos alunos o gosto pela pesquisa e leitura, incentivando-os a comparar ambientes diferentes, o particular e o geral, o local e o regional, a pensar no seu patrimônio cultural. (Relatório de Estágio de Ensino Médio, 2013)
[A aula] se resumia a uma empobrecida leitura do livro didático e uma rápida avaliação sobre o texto lido, em que se incluía a participação do aluno quase que exclusivamente na leitura. Assim as turmas passaram a supervalorizar a utilização do livro, reivindicando o seu uso toda vez que uma aula fugia um pouco dele. (Relatório de Estágio de Ensino Médio, 2013)
Os discentes mostraram um nível de concepção baixo, assim como o nível de leitura, pois ao avaliar os trabalhos escritos produzidos para a obtenção da segunda nota, eles não conseguiram articular idéias e nem mesmo estabelecer paralelos e pontos de criticidade entre os conteúdos ministrados. Alguns nem mesmo se interessaram em realizar a atividade que valia pontos.
Ao ler os trabalhos constatamos que a maioria copiou os pontos trabalhados nos roteiros, e transcreveram o conteúdo presente no livro didático. A dificuldade encontrada pelos discentes reflete os hábitos dos mesmos, ou melhor a falta de hábito de ler. (RELATÓRIO DO ESTAGIÁRIO B, 2013).
Os estagiários traçaram suas análises de modo que podemos perceber a proximidade com os pensamentos de diversos estudiosos do Ensino de História, citando-se por exemplo, Bittencourt (2004, p. 118), que, em sua análise das propostas curriculares do Ensino Médio, o ensino de História
Tem como preocupação maior aprofundar os conceitos introduzidos a partir das séries iniciais e ampliar a capacidade do educando para o domínio de métodos da pesquisa histórica escolar, reforçando o trabalho pedagógico com propostas de leitura de bibliografia mais específica sobre os temas de estudo e com a possibilidade de dominar o processo de produção do conhecimento histórico pelo uso mais intenso de fontes de diferentes naturezas. Não inclui, entre seus objetivos, a formação de “um historiador”, mas visa dar condições de maior autonomia intelectual ante os diversos registros humanos, assim como aprofundar o conhecimento histórico da sociedade contemporânea.
E ainda ao abordar a importância de se ter olhar crítico sobre o livro didático, pois
[…] o livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstraram como textos e ilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores de grupos dominantes, generalizando temas, como família, criança, etnia, de acordo com os preceitos da sociedade branca burguesa. (BITTENCOURT, 2009, p. 72)
Diante disso, percebe-se que o Estágio Curricular possui grande importância para possibilitar ao estagiário trilhar suas ações docentes a luz das teorias contatadas na sua formação no curso de História. Vê-se também que há ainda muitas problemáticas a serem enfrentadas no ensino de História. Um ponto perceptível está na própria atuação do docente. O seu planejamento e as metodologias utilizadas ainda estão, muitas vezes, muito distantes da realidade do alunado. Não se possibilita muito o uso da criticidade por parte do aluno.
Ademais, sente-se também uma problemática ainda mais difícil de se superar, o analfabetismo funcional. Neste ponto, faz-se interessante perceber a importância das séries iniciais do Ensino Fundamental, incumbidas do processo de alfabetização e letramento pela Leide Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei 9394, de 1996. Para compreender as consequências desse analfabetismo funcional necessita-se conhecer o significado desse termo. Conforme Ribeiro:
A definição de alfabetização que a Unesco propusera em 1958 fazia referência à capacidade de ler compreensivamente ou escrever um enunciado curto e simples relacionado à sua vida diária. Vinte anos depois, a mesma Unesco proporia outra definição, qualificando a alfabetização de funcional quando suficiente para que os indivíduos possam inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são demandados para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade. O qualitativo funcional insere a definição do alfabetismo na perspectiva do relativismo sociocultural. Tal definição já não visa limitar a competência ao seu nível mais simples (ler e escrever enunciados simples referidos à vida diária), mas abrigar graus e tipos diversos de habilidades, de acordo com as necessidades impostas pelos contextos econômicos, políticos ou socioculturais.
Por conseguinte, vê-se como o Estágio Curricular é importante para o processo de ligação teoria-prática para o graduando. Ademais, pode ser um ótimo objeto de pesquisa para percebermos as problemáticas para um significativo ensino de História. E como muitos problemas podem ser oriundos de questões que ultrapassam os limites do ensino da história. Sendo necessário fazer uma análise de como aperfeiçoar o processo de alfabetização do alunado, por exemplo, para facilitar o processo de analise da história pelos alunos.

Referências
BARREIRO, Iraide Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Práticas de Ensino e Estágio Supervisionado na Formação de Professores. São Paulo: AVERCAMP.
BITTENCOURT, Circe. (Org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.
____________. ENSINO DE HISTÓRIA: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
____________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado, 1996.
____________. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica.  Ensino Médio: ciência, cultura e trabalho. Brasília: MEC, 2004.
____________. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica.  Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 2000.
____________. Conselho Nacional de Educação. Resolução nº 1 de 18 de fevereiro de 2002. Brasília: MEC, 2002.
____________. Resolução nº 2, de 19 de fevereiro de 2002. Brasília: MEC, 2002.
GONTIJO, Rebeca. IDENTIDADE NACIONAL E ENSINO DE HISTÓRIA: a diversidade como “patrimônio sociocultural”. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. ENSINO DE HISTÓRIA: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2009.
GUIMARÃES, Selva. Didática e prática de ensino de História. Campinas: Papirus editora, 2011.
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2011.
RIOS, Maria de Fátima Serra. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO: dimensão prática nos cursos de licenciatura – organização técnico-pedagógica da UEMA. São Luís: UEMA, 2009.

TOLEDO, Maria Aparecida Leopoldino (Org.). Ensino de História: Ensaio sobre questões teóricas e práticas. Maringá: Eduem, 2011

6 comentários:

  1. Parabéns ótimo trabalho! Como sabemos estágio não implica apenas reproduzir as práticas observáveis, mas ao estagiário analisar e construir o seu perfil profissional. Muitos profissionais acabam repetindo práticas, que não contribuem e nem inovam o seu fazer profissional, como reverter essa situação?

    Beatriz Francisca de Lima.


    Boa noite!


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Beatriz, acredito que uma forma de reverter essa situação seria a graduação possuir mais atividades teóricas do campo da Pedagogia, ou seja, do processo ensino/aprendizagem, e principalmente, possibilitar que a práxis (aproximação entre teoria e prática) seja efetivada. Para isso, penso que seria interessante que os professores dos cursos de licenciatura tivessem uma atitude mais prática ao abordar os diversos estudos acadêmicos realizados, no sentido de ligar esses diversos estudos teóricos da História ao mundo prático do futuro profissional, ou seja, a docência na educação básica. Tentar responder de forma prática a inquietação: mas como levar esse conteúdo para as salas de aula?

      Para isso, penso que seria muito interessante que desde os primeiros períodos os graduandos já fossem instigados a pensar sua prática pedagógica e a aplicabilidade disso que pensou. Isso seria realizado com a intermediação do professor, assim como no estágio. Contudo, tal atividade serviria justamente para o futuro professor ter sua autonomia estimulada aos poucos e conforme os vários pensamentos relacionados ao processo ensino/aprendizagem que, diferente do que muitos pensam, não são tão recentes assim. Alguns já são analisados há mais de 50 anos. Havendo durante o processo de formação inicial do professor, creio, facilitaria que o mesmo se realizasse durante o estágio e fosse levado para o resto da sua vida docente.

      O que falta é estimular o futuro professor a colocar tais pensamentos em prática, de preferência antes do contato constante com a sala de aula, a docência de fato. Pois nesse momento, caso ele ainda não se sinta com a devida capacidade para implementar essas novas práticas, será muito mais fácil repetir as práticas já comuns, mesmo reconhecendo que não se obtem o resultado desejado.

      Excluir
  2. Olá, Gustavo! Parabéns pelo trabalho!
    Sabemos que o estágio se configura como um importante elo entre a universidade e o ambiente escolar. Qual seria sua sugestão para que as disciplinas tenham mais proximidade com a questão do ensino, dentro da graduação.,

    Att,
    Jéssica Mayara Santos Sampaio

    ResponderExcluir
  3. Utilizando a UEMA como exemplo, e considerando o que vivenciei em minha formação inicial nessa instituição, creio que um pontapé inicial seria aproveitar as disciplinas PRÁTICA CURRICULAR presentes em todos os semestres mas de forma que possuíssem mais atividades práticas do que teorização da prática.

    Além disso, que as teorias analisadas sobre essa prática, quando necessárias, possuíssem mais vínculos com a analise do processo ensino/aprendizagem em si. Em outras palavras, que seja possível durante a formação inicial do professor de História o contato com as diversas correntes pedagógicas existentes, e sua devida relação com a disciplina a ser ministrada: História.

    Na análise dos relatórios de estágio é possível perceber que os estagiários possuem, muitas vezes, um vasto conhecimento sobre as necessidades de mudanças no processo ensino/aprendizagem em suas críticas. Mas parece haver muita dificuldade na transformação desses conhecimentos teóricos sobre ensino de história, muitas vezes descolado dos conhecimentos gerais do processo ensino/aprendizagem como um todo, em como aplicar no dia-a-dia escolar.

    Essas disciplinas de PRÁTICA CURRICULAR, caso realizadas dessa forma, creio, já possibilitaria que em cada semestre os graduandos pudessem aplicar os conhecimentos teóricos das disciplinas em prática. Ou seja, colocar em prática docente, ou ao menos tentar, os conteúdos das disciplinas teóricas.

    ResponderExcluir
  4. Olá Gustavo parabéns pelo seu trabalho, essa temática é muito necessária para a melhoria no ensino. Dessa forma quais sugestões você teria para a disciplina de estágio para que as atividades profissionais futura dos graduandos melhore e se aproxime mais com o que foi aprendido na academia?

    Att,

    Edilene Pereira Vale.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Edilene, o estágio supervisionado tem que ser analisado dentro de seu contexto. Ele é componente curricular da dimensão prática das licenciaturas da UEMA. Assim como os demais componentes, visa aproximar a teoria e a prática.

      Bem, não estou aqui considerando que o Estágio não possui problemáticas, mas creio que tal componente curricular seria muito mais proveitoso caso os demais componentes fossem aplicados de forma mais próximas do idealizado.
      O processo de aproximação da teoria e prática não ocorre de uma hora para outra. É um processo lento, principalmente quando se vislumbra mudanças nas concepções e atitudes dos envolvidos nessa busca de aproximação. Por isso, penso que seria necessário ainda aplicar mudanças na forma como a Dimensão Prática tem sido realizada.

      Uma mudança que eu proporia, além da exposta nos comentários anteriores, seria que se aproveitasse mais das prática curricular para, dentre outros, o graduando, junto com seus professores, pudesse ir planejando sua atuação no estágio, organizando projetos e/ou oficinas a serem aplicadas no período de estágio. Assim, creio, ao chegar no estágio o graduando já possuiria um maior conhecimento o que o espera, além de um melhor planejamento de como atuar nesse momento. Ademais, poderia perceber melhor, creio, as possibilidades de sua futura atuação profissional.

      Espero ter respondido adequadamente, Edilene.

      Att,

      Gustavo Barra de Araujo

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.