Páginas

Glauber Paiva

OS LUGARES DA JUVENTUDE NO ENSINO SUPERIOR
Glauber Paiva da Silva
Mnt. História pela UFRPE

O meio acadêmico está envolto a um leque de discussões que envolvem uma gama de assuntos, e nesse meio diversificado o jovem universitário esta inserido em vários grupos que abordam aspectos culturais, políticos e de gênero. Esses grupos dentro da universidade dão ideia de identidade e diversidade, já que os jovens envolvidos neles se identificam mais com tais grupos e modelam ou são modelados por eles.
Nessa perspectiva o artigo Os Lugares da Juventude no Ensino Superior tenta refletir a juventude e sua diversidade em meio aos desafios da universidade, pensando o lugar da educação na formação do jovem e quem sabe futuros docentes. Tentamos pensar os desafios da educação no ensino superior em lidar com esses lugares de juventude, onde se encontra uma pluralidade de identidades, histórias e vidas. Trata-se de um artigo que provem de um projeto de extensão da Universidade Estadual da Paraíba que teve grande êxito e sucesso por nome “Os Lugares da Juventude no Ensino Superior: Formação Docente, Política, Direitos Humanos e Diversidade” e que focou em palestras, mini-cursos, oficinas, mesas redondas, entre outros, que trabalhariam com temáticas interdisciplinares como história, mídias, diversidade cultural, políticas sociais e direitos humanos para abordar questões da juventude que estão sempre presentes nas vidas dos universitários.
A maioria das pessoas que adentram as portas da universidade são compostas por jovens que acabaram de sair do ensino médio da educação básica. A juventude em si está envolta a um turbilhão de sentimentos, pois essa fase da vida encontra diversas mudanças, entre elas, o amadurecimento repentino, o conhecimento sexual, e a convivência em uma sociedade diversificada, e com diferentes formas de pensamentos. É tendo que conviver com essa nova realidade, que esses jovens começam a se situar dentro da universidade.
Baseado nos estudos de Juarez Dayrell (2007), onde o autor visa pensar a relação entre juventude e escola, galgando analisar o lugar da educação como meio de socialização por parte dos jovens que iniciaremos nossa discussão. Em seu texto o autor problematiza a questão da educação, no que se refere a analisar como a educação vê o jovem. Nessa prerrogativa surge o sujeito “aluno” e o “jovem”, que coexistem, mas só o primeiro é reconhecido pela escola, de forma falha, pois o trata de forma homogênea. Como mostra Dayrell: “a escola tende a não reconhecer o “jovem” existente no “aluno”, muito menos compreende a diversidade, seja étnica, de gênero ou de orientação sexual, entre outras expressões, com a qual a condição juvenil se apresenta”. (DAYREEL,2007, p. 1117).
A juventude, como sabemos, tem sua própria dinâmica e o ser jovem, não é estático, é fluído, e caracterizado por um “vaivém” referente à inconstância e não fixidez do jovem; cria seus símbolos, se atrela a grupos, cria identidades, isto é, a vida do jovem está centrada na dinâmica do movimento. Como afirma Dayrell (2007):
 Nessas diferentes expressões da condição juvenil, podemos constatar a presença de uma lógica baseada na reversibilidade, expressa no constante “vaivém” presente em todas as dimensões da vida desses jovens. Vão e voltam em diferentes formas de lazer, com diferentes turmas de amigos (DAYRELL, 2007, p. 1113).
A universidade contém uma diversidade de grupos que estão prontos a acolher todos os jovens, mas como a educação lida com essa inconstância? Será que consegue seduzir os jovens em meio à fluidez que vivem?
A partir da leitura do artigo Juventude, juventudes: pelos outros e por ela mesma de Esteves e Abramovay (2010) que trata de uma pesquisa desenvolvida juntamente com os jovens em diálogo com as proposições teóricas a cerca do tema, observamos que o mundo atual está passando por profundas transformações, marcada principalmente por um forte sentimento de “descrença no presente, desesperança no futuro” e um profundo sentimento de “revalorização do passado”, que segundo os autores demonstra uma visão pessimista de mundo. No entanto, com base nos dados coletados em sua pesquisa os autores apontam para uma predominância de um sentimento positivo em relação ao mundo com base nos jovens entrevistados na pesquisa (ESTEVES e ABRAMOVAY, 2010).
De acordo com os autores existem duas visões sobre a juventude, uma homogênea e outra heterogênea, a primeira considera a juventude como um grupo social que pertencem a um grupo etário e que transitam numa certa “fase da vida”, enquanto a segunda aborda as juventudes, no plural, haja vista a diversidade da qual esse grupo é formado, desde que a partir de uma visão socioeconômica, cultural, étnica, etc. Apesar de visões opostas, entendemos que podem coexistir, pois de acordo com o enfoque a juventude pode ser vista como um objeto homogêneo e heterogêneo em que “No primeiro caso, por exemplo, quando a comparamos com outras gerações; na segunda hipótese, quando e analisada como um conjunto social detentor de atributos sociais que diferenciam os jovens uns dos outros.” (ESTEVES e ABRAMOVAY, 2010, p. 22).
Existem culturas juvenis, com pontos convergentes e divergentes, com pensamentos e ações comuns e algumas características são comuns a estas juventudes e que os autores puderam observar em sua pesquisa como a busca pelo novo e desconhecido, a busca pelos sonhos e a constante esperança (ESTEVES e ABRAMOVAY, 2010).
Através da leitura dos autores percebemos que a juventude é vista pela sociedade através de um olhar constantemente dualista, ora ela é o futuro da nação, atores de um devir, ora são vistas com irresponsabilidade e com isso infantilizadas. A juventude também é constantemente associada à delinquência e a criminalidade, além de serem vitimados pelo discurso conservador dos adultos, tornando-a assim um campo sobre o qual circulam inúmeros discursos.
Os jovens têm pertencimentos múltiplos de acordo com sua vivência. Tendo em mente que o jovem participante das práticas educativas vive as diferenciações relativas ao gênero, cor, ao ser jovem, entendemos como diversas dimensões diferentes de um mesmo ser social se comporta. Com a globalização, foi se criando um estereótipo de como deve ser esse jovem, com relação ao modo de agir, e suas ações culturais, logo, os jovens ainda que embarcados em tais limites, constituem de fato um fator social, onde em seu cotidiano não apenas repensam os saberes adquiridos em sua vivência escolar e social, mas também é coadjuvante na construção da sociedade, tendo em vista que o jovem procura uma coação expressa através de sua crítica seja em vias públicas ou em recluso, da contestação, da negação aos valores impostos padronizados, mas também da criação, através da manifestação de sua cultura, de reelaboração de saberes  (DAMASCENO, 2008).
No perpassar dos anos a globalização tem sido cada vez mais presente, com isso têm se a necessidade de uma educação visando à diversidade cultural, tal educação está sendo atribuída em três argumentos distintos.
Para muitos, a globalização desencadeou um processo de homogeneização cultural que sobrepõe à identidade ocidental a todas as outras identidades nacionais e locais. Na qual insere o segundo argumento, a constatação de que uma filtragem de valores dominantes de uma cultura “consumista” tem sobreposto culturas locais. Neste caso, a educação multicultural é atribuída como uma via pela qual se promova o resgate dos valores culturais, de forma que tal cultura não seja perdida ou esquecida. Numa terceira perspectiva, muito impactante, tal globalização gera uma exclusão social, reforçados por um processo onde não se beneficia igualitariamente as pluralidades sócio-culturais, gerando assim processos discriminatórios, racismo, e xenofobia que atinge particularmente grupos sócio-culturais excluídos. (DAMASCENO, 2008)
Mas e esse turbilhão no ensino superior? Segundo dados em 1998 cerca de 7% dos jovens estavam matriculados nas universidades no Brasil, mas a partir de 2008 temos um salto exorbitante para 13,9% com a expansão das instituições de ensino superior privadas e o Programa Universidade para Todos (PROUNI) do governo federal. Além disso, a quantidade de instituições cresce a cada ano, e os jovens que trabalham tendem a financiar seus próprios estudos. (MESQUITA, MARQUES JUNIOR e SIMÕES, 2012)
Mas estas instituições estão preparadas para lidar com a vivência desses jovens que adentram as suas portas? Acreditamos que a resposta para esses questionamentos está na própria universidade. O oferecimento de ciclos de palestras e debates de cunho interdisciplinar com uma visão mais voltada a juventude que está ingressando na universidade, pode ser bastante efetivo para conscientização desses jovens, além de abrir um espaço de diálogo que permita trazer este jovem para a reflexão sobre o lugar da juventude e o que lhe perpassa, bem como a formação de uma consciência crítica a cerca de temas importantes. Discussões relevantes envolvendo história, psicologia, entre outras temáticas também seriam favoráveis para a fixação desses jovens nas universidades, já que seria uma amostra a mais do seu futuro profissional.
Assim tanto no seu lugar de juventude com seus anseios, tribos e preocupações, como na sua área profissional, a juventude na universidade só teria crescimento e mais que isso, teria um local para fazer um diálogo sadio e profícuo. Os lugares da juventude no ensino superior encontram-se em um ambiente acadêmico que propicie para o jovem um lugar que lhe apoie tanto pessoalmente quanto profissionalmente, e é isto que queremos encontrar em nossas universidades.

Referências bibliográficas:
DAMASCENO, Maria Nobre. Juventude: educação e cidadania no contexto da diversidade cultural. VI Congresso Português de Sociologia. 2008.
DAYRELL, Juarez. A escola ”faz” as juventudes? reflexões em torno da socialização juvenil. UNICAMP. Campinas, 2007.
ESTEVES, Luiz Carlos Gil. Juventude, Juventudes: pelos outros e por elas mesmas. VI Congresso Português de Sociologia. 2008.

MESQUITA, Marcos Roberto. MARQUES JUNIOR, Gessé. SIMÕES, Anderson Azevedo. A Juventude brasileira e a educação. JUVENTUDE. BR. 2012 

4 comentários:

  1. Olá Glauber! Seu texto é instigante e dialoga com minhas pretensões de pesquisa. A questão que levanto é a seguinte: Esses lugares e seus representantes (espaços educativos) estão preparados para a entrada de parcela das nossas juventudes? Penso que elas são distintas em várias aspectos e que infelizmente ainda procede um único modelo de juventude dentro das universidades.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Glauber Paiva da Silva6 de abril de 2017 às 09:10

      Fico feliz e agradeço por ter lido meu texto José Humberto. E sim, eu concordo com você, o ensino superior apesar dos seus avanços ainda está distante de estar preparado para receber a diversidade da juventude que adentra as suas portas. Diversidade esta que se relaciona com aspectos econômicos, culturais e sociais. Assim,nesse sentido, se faz necessário um olhar mais carinhoso a essa juventude por parte da própria universidade, tentando aos seu meios (palestras, mini-cursos, projetos e até bolsas) seduzir a juventude em sua diversidade e não apenas a um único modelo. Espero ter respondido seu questionamento. Abraços!
      Glauber Paiva da Silva

      Excluir
  2. Interessante análise, na sua opinião existiria alguma forma de se evitar ou ao menos minimizar os efeitos da globalização na juventude?

    Grata, Siméia Teixeira Gomes Silva.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Glauber Paiva da Silva7 de abril de 2017 às 19:55

      Ola Siméia, obrigado por ter lido meu texto. Na minha opinião os meios de comunicação principalmente os ligados ao meio digital e a própria internet quebraram todas as barreiras que por ventura minimizariam a globalização. Isto não apenas em relação a juventude, mas ao próprio ser humano, então creio que em nossos dias seja praticamente impossível que a globalização não faça parte do dia-a-dia da juventude. Espero ter respondido seu questionamento. Abraços!
      Glauber Paiva da Silva

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.