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Geise Batista; Kédna Pinheiro; Wilverson Rodrigo

DISCRIMINAÇÃO DO NEGRO NO BRASIL: UM OBSTÁCULO A SER VENCIDO
Geise Batista Damasceno
Kédna Pinheiro Vieira
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
UFOPA

Introdução
 O presente artigo objetiva mostrar a triste realidade discriminatória do negro no país desde o período Colonial até os dias atuais discutindo acerca do desrespeito e da desvalorização de pessoas por conta de sua cor, abordando marcos históricos que fizeram dos negros autores de sua própria história, e ainda   como o preconceito racial impera nos dias modernos. O Brasil é um país com uma rica diversidade cultural onde o negro é  um dos principais responsáveis, porém é  afetado por  uma longa história de preconceito de raça e de cor. Marcos históricos demonstram como o negro era inferiorizado e hostilizado pela sua condição de escravo e mesmo após a abolição da escravatura esse tratamento não mudou e o que é pior a ciência se valeu de seu poder para fortalecer o racismo e deixá-los cada vez mais na condição de subalternos e de subserviência diante do branco.
                        
História do negro no Brasil: entre discriminações e perspectivas
A História dos negros no Brasil é tão complexa e conturbada quanto o descobrimento do próprio país, seus absurdos, injustiças, discriminação e antagonismos, permanecem por toda parte até os dias atuais, o que nos leva a curiosidade de entender o porquê de tanta discriminação, desvalorização e preconceito racial e de como os brasileiros classificavam as pessoas pela sua cor, mas acima de tudo mostrar como eles ganharam o merecido espaço na sociedade. Desde a sua chegada em terras brasileiras os negros foram tratados pelos brancos como se fossem coisas, sem alma, eram submetidos a situações desumanas, viviam para trabalhar indignamente. Com o fim da escravidão os negros sem oportunidades, viam-se a margem da sociedade, nasce então à desigualdade de classes.
A palavra discriminação segundo Ferreira (2001: 238) significa “[...] Tratamento preconceituoso dado a certas categorias sociais, raciais, etc.[...]” ou injusto dado a uma pessoa ou grupo, com base em preconceitos de alguma ordem, notadamente sexual, religioso, étnico etc.” O negro sofria por ser de cor diferente como nos relata Guimarães (2012, p.11):
O preconceito de cor e de raça tem geralmente como alvo o “negro”, o “preto” [...], dificilmente o “branco”. Por quê? Alguns responderiam que a dualidade primária é branco/preto, claro/escuro, dia/noite; que em toda parte, em todos os tempos, o branco simbolizou as virtudes e o bem, enquanto o negro significou o seu contrário ­­­­­­­­­­– o sinistro, o mal, os defeitos.
Após o fim da escravização no Brasil surgiu o mito da democracia racial onde supostamente não havia distinção entre branco e negro, que logo foi distorcido por estudiosos que mostraram que a discriminação sempre existiu na sociedade brasileira, e que o mito era apenas uma camuflagem como vemos na obra Emilia Viotti:
[...] O mito da democracia racial aparecia então como uma tentativa de acomodar as idéias (sic) racistas européias (sic) – que se tornaram preponderantes na Europa da segunda metade do século XIX – à realidade brasileira. As teorias que realçaram a superioridade da população branca e a inferioridade dos mestiços negros, a elite brasileira – uma minoria de brancos, alguns dos quais não estavam seguros da “pureza” de seu sangue, cercados por uma maioria de mestiços – não descobriu a melhor solução do que colocar suas esperanças no processo de “branqueamento”. O Brasil superaria seus problemas raciais, sua inferioridade, através da miscigenação [...]. (COSTA, 1987:253).
O racismo surgiu no cenário político brasileiro como doutrina científica, buscando explicar o racismo através da ciência, com estudos que faziam da raça negra a inferior e portadora  de deficiências mentais e físicas, a teoria do branqueamento surge então como “solução” , acreditando que com o passar das gerações nasceriam cidadãos mais claros, começam então programas para a imigração europeia, que tinham como objetivo não apenas mão de obra, como a priori se acreditava, como conclui Guimarães:
Tais doutrinas subsidiaram desde as políticas de imigração, que pretendiam a substituição pura e simples da mão de obra negra por imigrantes europeus, até as teorias de miscigenação, que pregavam a lenta, mas contínua fixação pela população brasileira de caracteres mentais somáticos, psicológicos e culturais da raça branca[...] (GUIMARÃES, 2012: 66)
Vale ressaltar que o predito mais importante do preconceito racial e de comportamentos racistas seria o autoritarismo desencadeado pelo ensinamento rígido e áspero vivido na primeira infância.
A partir do século XX começa então a modificasse o modo de combate ao preconceito racial como cita Guimarães (2012: 94). “[...] até pouco depois da Segunda Grande Guerra, a palavra “racismo” era utilizada quase que exclusivamente para referir os preconceitos encarados, as discriminações, segregações e genocídios justificados por doutrinas raciais [...]”.
 O cenário da discriminação racial no Brasil continua em constante transformação de luta contra o preconceito, através de ações afirmativas visando maior igualdade de direitos e oportunidades de vida para a população negra e as principais vertentes que contribuíram para que houvesse essa mudança foram a acadêmica e a ativista, que abriram espaço para a inserção do negro nas universidades através de cotas e aparatos judiciais.

Considerações finais
A questão da discriminação do negro no nosso país é bastante presente, eles ainda têm o pior trabalho e não têm as mesmas regalias que o branco. Já se foi conquistado um grande espaço na sociedade, leis que os amparam, mas não é o bastante. Nosso país ainda vive com o mito de que não é racista, mas isso podemos comprovar no dia a dia que é uma grande utopia. Sonhamos com o dia em que a questão racial no Brasil seja apenas uma lembrança ruim afinal somos todos humanos e como tal, temos corpo e alma, a cor da pele é apenas uma particularidade.

Referências
COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo. Editora Brasiliense, 1987.
FERREIRA, A, B, H. Aurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. 4. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador, BA: EDUFBA, 2008.
GUIMARÃES, Antônio Sergio Alfredo. Preconceito racial: modos, temas e tempos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

21 comentários:

  1. Segundo RIBEIRO,Matilde(2014), com o começo do movimento negro Brasileiro, apresentam-se como objetivo a reeducação da sociedade e de fato integrar socialmente os negros. O movimento negro imbrica-se como uma importância muito grande ao processo histórico do pais. Com base nessas informações complementares que fazem perfeita junção sobre o assunto aqui exposto, pode-se afirmar que o Brasil é um pais "mestiço"? (Kely Martins Cunha)

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    1. Prezada Kely,
      Segundo Oliveira (2004, p.57) "BRASIL É UM PAÍS mestiço, biológica e culturalmente. A mestiçagem biológica é, inegavelmente, o resultado das trocas genéticas entre diferentes grupos populacionais catalogados como raciais, que na vida social se revelam também nos hábitos e nos costumes (componentes culturais)"
      Referências:
      OLIVEIRA, Fátima. Ser negro no Brasil: alcances e limites. ESTUDOS AVANÇADOS 18 (50), p. 57- 60, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a06v1850.pdf
      Espero ter ajudado e vamos aguardar as próximas contribuições. Abraços. Assinado: Elizama Franciane da Costa

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    2. Professora Elizama Franciane da Costa, a grafia correta de sua última frase é:

      "Espero ter ajudado. Vamos aguardar as próximas contribuições.".

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  2. Na opinião dos autores, e também de quem quiser contribuir, pergunto: O que poderia ser feito, ou quais estratégias poderiam ser utilizadas como combate a discriminação e ao racismo no nosso país? Assinado: Elizama Franciane da Costa

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá, gostei muito da temática do texto, principalmente quando se aponta que é um obstáculo a ser vencido. É relevante apresentar é a respeito do espaço que os negros alcançaram até aqui, uma vez que no país que diz não ter racismo e cria cotas para mostrar que eles são "iguais e que possuem os mesmos direitos." Foi muito bem colocado à questão da utopia, mas houve uma contradição ao dizer que hoje eles conquistaram um bom lugar na sociedade, pois acredito que a sociedade só mascara isso, eles ainda possuem cargos inferiores, são sempre alvo de olhares diferentes e só são amparados quando possui uma visibilidade na sociedade. Então, a respeito disso, na opinião dos autores: qual o lugar que eles conseguiram conquistar e como se pode perceber isso na conjuntura atual do país?

    Assina: Beatriz da Silva Mello

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    1. Kédna Pinheiro Vieira6 de abril de 2017 às 14:26

      Olá Beatriz! O lugar ocupado pelo negro na nossa sociedade já é bem visível aja visto que as terras quilombolas receberam titulação, vemos negros ocupando altos cargos sejam eles civis militares entre outros, não significando que somos um país livre da discriminação e do preconceito, mas seria uma falta de consideração dizer que eles não têm espaço.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. O conceito raça é equivocado? Como as escolas brasileiras podem contribuir para que acabe o preconceito racial e todos sejam vistos como iguais? Marjori Raine de Oliveira Gomes

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    1. Kédna Pinheiro Vieira6 de abril de 2017 às 14:31

      Primeiramente em suas suas um momento de conhecimento da nossa verdadeira história mostrando a grande influência do negro na construção do nosso país, Introduzindo de fato a História Africana nos nossos currículos.

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  7. Gisele Fernandes Antunes5 de abril de 2017 às 04:46

    Gisele Fernandes Antunes
    Parabéns! O tema por vocês abordado é de grande necessidade e está muito presente na atualidade . Infelizmente à questão do racismo no Brasil é um tema que ainda necessita de muita discussão.Para vocês nas escolas e livros os negros e a África são bem representados? E o Brasil é um país etnocêntrico?
    Gisele Fernandes Antunes

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    1. Cara Gisele , tudo com relação a esse tema no Brasil anda em marcha lenta .Na Lei 11.645/08, "que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio" está no papel , mas sabemos que na realidade a história do negro muitas vezes é resumida em escravidão; não vendo seu lado cultural e sua importância para construção do Brasil e nem sequer é falado de sua História no continente africano , apenas do momento Tráfico negreiro .A escola como aparelho ideológico agirá conforme o governo atual ; pois vemos que até uma lei para não ser mais obrigatório o estudo da da histótia afro-brasileira está sendo pensada.
      A mudança aconteceu mas não com a rapidez que era necessária e como você ressaltou necessita-se de muita discussão e lutas pelos direitos .
      Sem sombras de dúvidas nossa escolarização,modos são quases todos europeus ,estudamos deuses gregos (Zeus,Atenas etc) filmes são feitos e tem um público muito grande, mas nunca estudamos deuses africanos e muito menos vimos filmes sobre os mesmos, Então o Brasil pode ser considerado por este é muito mais exemplos etnocentrista.
      Espero ter respondido!

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  8. Ótimo material!
    Concordo com a temática da discriminação!
    Os negros trazidos de fora e os negros gerados aqui tinham distinção de status?
    Obrigado
    Jônatas Fernandes Pereira

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  9. Rosiane Orende da Silva5 de abril de 2017 às 11:14

    Na opinião dos autores, a escola é ainda muito excludente ou vem realizando esse debate e combatendo a discriminação racial?

    Por: Rosiane Orende da Silva

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  10. Olá, boa tarde!

    Ótimo resgate histórico do racismo no Brasil feito pelas autoras e pelo autor. No inicio do texto, dá-se início à discussão da epistemologia da discriminação, baseando-se na origem e, principalmente, no destino do fenômeno: o corpo do sujeito. Entretanto, vocês afirmam que a desigualdade de classe teve origem na segregação racial pós abolição. E isso me confundiu um pouco, haja o fato de que negros e brancos são tratado de forma diferente em qualquer "classe" social, seja a de ricos ou a de pobres. Gostaria de saber, na opinião das autoras (es), como pode ser analisada a diferença no nível de escolaridade entre brancos e negros atualmente?

    Marcos Antonio Silva dos Santos

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  11. Meus parabéns pelo texto ! Muito bem colocado....o que foi o mito da democracia racial?


    Maria Terezinha damasceno silva

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  12. Somos sabedores do quanto os negros foram e são importantes na construção histórica do nosso país. Entre os ciclos econômicos pelos quais o Brasil já passou sempre havia uma atuação dos negros, logo esses atores sociais se mostram de grande relevância no crescimento econômico do país. Logo o reconhecimento deve ser dado, o respeito deve ser trabalhado, e a escola se mostra como espaço fundamental para tal conquista. No entanto, esse mesmo país que cresceu a custo do suor e sangue negro não o vê como responsável desse crescimento. Aí questiono, como fazer com que essa realidade mude? Quais políticas
    públicas são capazes de mudar isso? Como lidar com os grupos conservadores que se nutrem da alienação de muitos, para inferiorizar os negros?
    Att Francisco Cardozo

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  13. O texto traz uma temática muito interessante, apesar do negro ter conquistado alguns espaços na sociedade, de que forma podemos combater a discriminação no ambiente escolar? (Gilvoneide de Almeida souza)

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  14. Saudações!
    Hoje sabemos que muitos obstáculos tem de ser passados para a discriminação racial, porém, o ponto principal que acredito que a grande maioria das pessoas atualmente "pensam" é em como colocar em prática totalmente aquilo que nos é passado em teoria sabendo que muitas vezes estamos de mãos atadas para isso?
    Atenciosamente
    Jacquelinne Silva Salles

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  15. texto bem fundamentado com uma temática bem expressiva, parabéns aos autores. Atualmente nos deparamos com muitos episódios de racismo no Brasil, mas o pior ainda é presenciar políticos com uma mentalidade atrasada, obscura e preconceituosa contra os negros. assistir um vídeo, na qual, o deputado Jair Bolsonaro teve atitudes preconceituosas com os quilombolas, ou seja, povos descendentes de escravos. Políticos que deveriam nos representar e buscar políticas para acabar com as discriminações raciais estão agindo de forma vergonhosa. Enfim, a pergunta é a seguinte, Nestas situações quais métodos ou meios deve-se abordar para que a população, mais precisamente a população leiga consiga observar de que são atitudes de um político racista.
    (Giancard de Matos Sena)

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  16. texto bem fundamentado com uma temática bem expressiva, parabéns aos autores. Atualmente nos deparamos com muitos episódios de racismo no Brasil, mas o pior ainda é presenciar políticos com uma mentalidade atrasada, obscura e preconceituosa contra os negros. assistir um vídeo, na qual, o deputado Jair Bolsonaro teve atitudes preconceituosas com os quilombolas, ou seja, povos descendentes de escravos. Políticos que deveriam nos representar e buscar políticas para acabar com as discriminações raciais estão agindo de forma vergonhosa. Enfim, a pergunta é a seguinte, Nestas situações quais métodos ou meios deve-se abordar para que a população, mais precisamente a população leiga consiga observar de que são atitudes de um político racista?
    (Giancard de Matos Sena)

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