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Eliane dos Santos

ENSINO DE HISTÓRIA: A “AULA-VISITA” AO MUSEU HISTÓRICO COMO METODOLOGIA
Eliane dos Santos Malheiros
Mnt. Educação UEL

Este trabalho é resultado da análise de uma metodologia aplicada no ensino de história, sendo a aula de campo ao Museu Histórico de Londrina-Pr, Padre Carlos Weiss, a atividade desenvolvida com alunos do Ensino Fundamental II (8° e 9° anos), do Colégio Estadual Nossa Senhora de Lourdes, no período de 2008-2014.
O problema norteador, foi justamente, os apontamentos que nossos alunos do Ensino Fundamental II apresentavam sobre suas percepções a respeito da disciplina de História, classificando-a como essencialmente teórica, tediosa e distante da realidade vivida por eles. Ressaltando que essa percepção não deve pode ser generalizada, pelo fato de que muitos alunos se identificam com a disciplina, bem como a forma como esta é ensinada.
Nosso objetivo principal foi desconstruir este esteriótipo pejorativo associado à disciplina de História. Assim, fomos motivados à planejar estratégias que contribuíssem, no sentido de fomentarmos uma ressignificação a respeito deste esteriótipo pré-estabelecido pelos alunos. Então, nos propusemos à desenvolver a “aula-visita”,  definição esta utilizada por Compagnoni (2009), ao Museu Histórico, como metodologia aplicada no Ensino de História.
Ressaltamos que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), n° 9.394/96, em seu Art. 36°, II, aborda sobre a importância da utilização de metodologias de ensino, bem como, instrumentos avaliativos que incentivem a participação dos alunos. Tendo este respaldo previsto na LDB (9.394/96), justifica e legaliza nossa proposta metodológica em irmos além da forma tradicional de ensinar história, ampliando a abordagem histórica restrita aos fatos históricos, as datas, as causas, e consequências, os nomes e ações dos “grandes homens”, segundo Silva (2010), entre os séculos XVIII e XIX, foi dado enfoque a história destes “grandes homens” pelos positivistas
Ao planejarmos desenvolver a aula-visita ao Museu Histórico com os alunos, estabelecemos como nossos objetivos específicos: conscientizar nossos alunos sobre a importância da fundamentação teórica na disciplina de história, como se fosse “um alicerce”, primordial na elaboração do estudo e na formulação de hipóteses/ teorias, destacando que a disciplina de História consiste em uma ciência investigativa, portanto que requer sim um aprofundamento teórico. Este objetivo específico foi apontado no sentido de refutar a ideia de que a disciplina de História é muito teórica, pois sabemos que a teoria é imprescindível para o entendimento e sistematização da nossa prática.
O segundo objetivo específico, diz respeito a importância das fontes históricas, classificando-as em três grupos: fontes escritas, não-escritas e orais. A preservação documental, torna-se fundamental para a análise destas fontes, e o Museu Histórico personifica este “laboratório de estudo das fontes”, portanto, têm um caráter dogmático, tanto na obtenção, preservação e divulgação das fontes históricas.
Como terceiro objetivo específico, apontamos que a participação dos alunos consiste em algo de extrema importância durante todo o processo de desenvolvimento desta metodologia, pois o envolvimento destes contribuirá para os resultados, positivos [ou não] desta atividade, fomentando para que se percebam como protagonistas na construção da história, a partir da constatação de que são sujeitos históricos.
Destacamos que, compreender o contexto histórico em que está inserida a disciplina de história, consiste em algo básico e importante, necessário antes de pôr em prática qualquer metodologia de ensino, neste caso, a aula-visita ao Museu Histórico.
Schmidt e Cainelli (2009), trazem esta abordagem sobre a implantação  da disciplina de História, inserida a partir da revolução burguesa na França do século XVIII, cujas reivindicações seriam “pela educação pública, gratuita, leiga e obrigatória” (SCHMIDT & CAINELLI, p. 11, 2009).
As autoras traçam os caminhos que esta disciplina percorreu, ao ser legitimada enquanto disciplina no Brasil, a partir do século XIX, no colégio Dom Pedro II, sendo que a trajetória desta disciplina consiste em algo bastante complexo, sendo sustentada por diferentes concepções e tendências historiográficas.
O panorama geral da fundamentação teórica que a disciplina percorreu no Brasil, é abordado por Schmidt e Cainelli (2009), destacando que, inicialmente esta priorizava o ensino da história da Europa Ocidental, e em segundo plano, abordava sobre a história do Brasil nas séries finais do ginásio. Já no período republicano, a partir de 1889, segundo as autoras, a concepção da disciplina de História adquire o caráter de formar cidadãos, sendo que seus conteúdos tinham como tema central “a pátria”.
Schmidt e Cainelli (2009), apontam que, com a lei n° 5.692/71, houve a implantação da disciplina de Estudos Sociais e, a disciplina de História ficou restrita apenas ao 2° grau, com abordagem tradicional.
Após a ditadura militar, já na década de 1990, conforme observam as autoras, a História passa por uma crise e abre possibilidades para amplas discussões e novos modelos teóricos. Com a lei federal n° 9.394/96, a LDB aponta sobre a necessidade de um currículo global, contendo os conteúdos mínimos que deveriam ser trabalhados, na tentativa de padronizar o ensino nacional. Em 1997, são criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) pelo Ministério da Educação (MEC). A partir dos anos 2000, amplia-se as possibilidades de abordagens da história e memória, sob novas perspectivas historiográficas, como a educação histórica, fomentando novas formas de ensinar história, bem como, novos conteúdos.
Portanto, a atividade que desenvolvemos com os alunos dos 8° e 9° anos, entre os anos de 2008 e 2014, consiste em uma metodologia para o ensino de história, cujos pressupostos estão fundamentados na educação histórica, pois busca compreender as situações de ensino e aprendizagem histórica, bem como as apropriações feitas pelos alunos, tendo em vista que estamos trabalhando com situações concretas de aprendizagem, conforme observa Barca (2012).
A metodologia desenvolvida com os alunos, abrangeu as seguintes etapas: primeiro, fundamentação teórica, com análise de textos sobre memória/documento, como aborda Jacques Le Goff (1996): “Estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas principais: os monumentos, herança do passado, e os documentos, escolha do historiador” (LE GOFF, 1996, p. 535)
O aluno compreender como um material (registro, objeto, depoimento, por exemplo) pode ser considerado um documento histórico, faz com que todo o trabalho desenvolvido por ele tenha um significado muito maior, obtendo um olhar mais refinado em relação a história.
Na segunda etapa os alunos foram divididos em equipes e, depois, foram sorteadas as temáticas: história da cidade de Londrina, fontes históricas, evidências sobre a presença feminina/masculina, através das fontes presentes no museu. A terceira etapa, foi a aula-visita, em que cada grupo realizou, através de registros (fotografias, vídeos, áudios, anotações) suas coletas de dados, observados no Museu Histórico. Na etapa final, cada grupo fez sua análise de todo o processo, desde o levantamento teórico, a coleta de dados (aula-visita), e estabeleceram de que maneira iriam apresentar aos grupos em sala de aula, podendo utilizar como recursos: power point, cartazes, vídeo clipe, e trazendo seus objetos para representar a catalogação das fontes (escritas, não-escritas e orais).
No decorrer destes anos de 2008-2014, cada turma que participou desta atividade da aula-visita ao Museu Histórico (8° e 9° anos), foi visível a mudança nestes alunos quanto a percepção sobre a história, tendo em vista que muitos deles apresentavam uma visão estereotipada e pejorativa em relação a história, portanto, nosso objetivo geral foi atingido, pois podemos constatar através da avaliação das apresentações das equipes, bem como nas mudanças de posturas no decorrer do ano letivo, em que se posicionaram como protagonistas na construção da história, observando-a  de forma mais dinâmica, crítica e contextualizada.
Aplicação desta atividade como metodologia para o ensino de história, possibilitou que refletíssemos sobre a nossa postura enquanto professores de história, ao desenvolvermos determinadas metodologias, poderemos estar contribuindo [ou não] para o aprendizado dos alunos, bem como, fazer com que os alunos participem das atividades propostas, e constatem a importância desta participação, representa que conseguimos contagiá-los.
Por fim, ao apresentarmos esta metodologia da aula-visita ao Museu Histórico de Londrina, aplicada com alunos do Ensino Fundamental II (8 e 9 anos), bem como o detalhamento das etapas percorridas na execução desta, temos a intenção de compartilhar uma proposta de atividade à ser desenvolvida no ensino de história, considerando que não  se trata de uma “receita mágica”, mas de uma possibilidade metodológica que, como tal, requer sistematização e persistência.

Referências bibliográficas
BARCA, Isabel, O papel da educação histórica no desenvolvimento social. In. CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora (org). Educação Histórica: teoria e pesquisa. Ijuí : Ed. Unijuí, 2011.
___________. Ideias chaves para a educação histórica: uma busca de (inter) identidades  Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2012, 28 de maio de 2012
COMPAGNONI, Alamir Muncio. “ Em cada museu que a gente for carrega um pedaço dele”: compreensão do pensamento histórico de crianças em ambiente de museu.Curitiba, 2009.
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 4.ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.
LEME, Edson José Holtz. O teatro da memória: O Museu Histórico de Londrina1959-2000. Assis, 2013.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora & CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2009
PINSKY, Carla B. (org.) Novos temas nas aulas de História. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2010.

8 comentários:

  1. Oi Eliane , muito interessante a pesquisa que você desenvolveu e os resultados obtidos. Quando atuamos em salas da Educação Básica esse olhar sobre a disciplina de História infelizmente é presente mais do que gostaríamos. A questão que tenho para ti é sobre a possibilidade em estudar a História a partir da aula-visita em lugares de memórias do entorno da escola, pois o museu reflete um tipo de história que se quer contar sobre a cidade. Assim como utilizar atividade por você descrita quando não existir um museu onde o professor atua, que outros espaços poderiam ser utilizados ?

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  2. Boa noite, Elizabete. Obrigada por enviar sua pergunta!!
    Concordo com você, no que tange à escolha das memórias da cidade, sendo q apresentadas no museu histórico desta. Assim, caberá ao professor trabalhar posteriormente a aula-visita, sobre essa evidência com seus alunos, para que desenvolvam um olhar crítico e reflexivo frente a História que está sendo abordada nestes locais (museus em questão).
    Outra opção de aula-visita, além do Museu histórico, ou na falta do mesmo, poderá ser desenvolvida esta atividade (aula-visita) em outros lugares, como: na biblioteca central da cidade, na prefeitura, nos marcos e monumentos históricos, ou ainda no próprio entorno do Colégio em que estes alunos estudam, como você citou.
    Abraços,
    Eliane.

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  3. Olá Eliane
    Parabéns pelo trabalho!
    Apresentamos sobre o mesmo tema e gostaria de saber se você fez um levantamento de todos os locais possíveis de visitação em sua cidade? Se sim, com quais critérios?
    Eduarda Borges da Silva.

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    1. Olá Eduarda! Agradeço por sua leitura e participação!
      O foco principal desta atividade era o Museu Histórico, como local selecionado para acontecer a "aula-visita".
      Após terminarmos a visita, o ônibus que nos transportava, passava por alguns marcos históricos da cidade de Londrina e era comentado sobre o mesmo, mas não descíamos do ônibus para visitá-los.
      Abraços,
      Eliane dos Santos Malheiros.

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  4. Oi Eliane o tema é inovador, levar o aluno alem das paredes da escola é ampliara o olhar da historia! Moro em Belém aqui nossos museus são praticamente reservados a acadêmicos, nem a população paraense tem acesso nem conhecimento das riquezas históricas, a não ser os de flora e fauna. Nesse parâmetro como esse projeto poderia ser aplicado? e como levar isso alem do ensino médio, poderia ser aplicado também no fundamental?
    Dheme Betânia de Brito Nascimento

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    1. Oi, Beta! Pelo que li, o trabalho da Eliane era com 8. e 9. ano do Fundamental...
      Pensando na tua pergunta, se não houver museu na cidade, sugiro fazer através de fontes orais. Em grupos, se define uma temática e se faz a pesquisa através de entrevistas e de possíveis fontes materiais coletadas a partir dos dados descobertos com a pessoa entrevistada.

      Abraço,
      Daniela

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  5. Oi, Eliane!

    Parabenizo pela proposta!
    Algumas curiosidades:
    - Li que a "aula-visita" era realizada com 8. e 9. ano. Os alunos realizam dois anos consecutivos ou apenas uma vez?
    - Ao apontar que o entendimento da disciplina era melhorado, essa conclusão se chegou a partir de quais dados?
    - Aos estudantes era proposto um "antes e depois", no sentido de autoavaliarem suas percepções? (Se não, fica como sugestão!)

    E por último, por que não vem sendo mais aplicado a partir de 2015?

    Abraço,
    Daniela Maria Weber - Estrela/RS
    (Professora dos anos finais do Ens. Fundamental em turmas seriadas e da Educação de Jovens e Adultos)

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    1. Olá, Daniela! Muito obrigada por sua leitura, perguntas e sugestões!
      Primeiramente, este projeto foi desenvolvido com meus alunos a partir do ano de 2008-2014, sendo que, ao longo destes anos, eu selecionava uma de minhas turmas para aplicar esta atividade. Por isso, conseguia estabelecer está "parâmetros comparativos", tendo em vista que tinha outras turmas que não desenvolveram esta atividade. Desta forma, o "antes" e o "depois" ficava evidente, pois mudavam a percepção, o interesse, o desempenho...
      Não apliquei esta atividade da "aula-visita" em 2015 e 2016, pois assumi a função de diretora auxiliar em 2015 e, em 2016, ingressei no mestrado em educação, no qual estou desenvolvendo outro projeto.
      Agradeço muito sua participação!
      Abraços
      Eliane dos Santos Malheiros

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