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Dara Dzovoniarkiewicz

AS RELAÇÕES ENTRE O PODER E COMPORTAMENTOS TRANSGRESSORES E OS DESAFIOS DA PRÁTICA DE ENSINO
Dara Dzovoniarkiewicz
UNESPAR/União da Vitória

Durante a trajetória acadêmica aprendemos inúmeras teorias elencadas pela História do Ensino a respeito do comportamento humano e de como podemos lidar com ele, dessa forma nos colocamos – ao fim da graduação – como profissionais prontos para enfrentar tais problemas. O problema surge quando nos deparamos com a sala de aula, muitas vezes lotada, e com indivíduos com características comportamentais distintas. Vemos a partir de então que boa parte da teoria aprendida na academia se torna ineficaz nesse sentido. Esse texto pretende discutir algumas e pontuar os problemas corriqueiros enfrentados pelos docentes no cotidiano escolar e as perspectivas de enfrentamento dos problemas a partir do texto Poder, resistência e indisciplina escolar: a perspectiva docente sobre os comportamentos transgressores dos alunos de Antonio Igo Barreto Pereira e Vera Lúcia Blum (2014).
O foco principal dos autores no texto é refletir a partir de três intelectuais que discutem a respeito do tema disciplina/indisciplina. Foucault que diante seus estudos sobre a disciplina considera a escola uma instituição responsável por docilizar e dar utilidade aos corpos. Também Maffesoli, que considera os conflitos e indisciplina como forma de resistência as arbitrariedades e isso como parte de um desenvolvimento social. E Freud, com seus estudos relacionados a subjetividade humana, afirmando ter um mal-estar inerente a vida civilizada, que os sujeitos estão em conflito com a cultura, acreditando também que está tem como função regular os desejos pessoais.
O texto trata também dos comportamentos indisciplinares dos alunos, tendo em vista que esse é um dos principais obstáculos enfrentados tanto pelos professores, como pela equipe pedagógica e a comunidade escolar. Entre esses comportamentos alguns destacados por Aquino são os mais corriqueiros: “bagunça, tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito ás figuras de autoridade, etc.” (PEREIRA; BLUM; 2014 p. 740 apud AQUINO, 1996 p. 40). Dessa forma o texto nos faz refletir sobre os sentidos de “autoridade” e “hierarquia” e de como esses aspectos predominam no ambiente escolar, e também sobre quais os tipos de encaminhamentos e enfrentamentos as equipes pedagógicas vêm tomando diante desses obstáculos, seus elementos construtivos, articulações, enfrentamento, práticas docentes, e compreender suas estruturações.
De acordo com Pereira e Blum (2014) quando Foucault revela sua preocupação com a disciplina, ele traz em seus escritos os fatores internos e as consequências, fatores importantes para compreender a sociedade e a escola. Na perspectiva de Foucault o ato disciplinar não serve a princípios nobres, pois na grande maioria está ligado a manipulação e esquadrinhamento dos sujeitos aos interesses de alguns ou grupo que ocupa poder.
Ainda nessa perspectiva os autores destacam que Maffesoli diz que o conflito faz parte do convívio humano, já que nossas formações e grupos sociais trazem consigo diversidades, sejam de necessidades, desejos e interesses, assim entrando em choque com os demais. Para Maffesoli, por mais que haja as tentativas de anular a existência dessas diferenças, e dependendo do efeito imediato poderá vir a camuflar as consequências ou apagar aspectos, o conflito jamais deixará de existir, sempre estando à espreita, pronto a ressurgir. O próprio ato de conter, impor a ordem, gera em si, um próprio conflito, pois, há um desejo das individualidades contra as imposições totalitárias, que procuram em si, homogeneizar os comportamentos, desconsiderando as diversidades humanas.
Nesse sentido os autores destacam Freud, em uma linha psicanalítica que diz que toda ação humana se permeia pela necessidade de satisfação com seus desejos pessoais, dentre eles se destaca um: o desejo de liberdade, que acompanha a espécie humana desde a infância até a idade adulta onde o indivíduo tem um maior contato com a sociedade, nesse sentido, pode-se notar um movimento de resistência ás imposições e reivindicações de espaço e liberdade. Acredita-se que as pequenas desordens causadas pela busca de liberdade, servem para orientar as relações sociais e impedir que se imponham sistemas totalitários.
A partir desse breve panorama, vemos que cada vez mais a discussão sobre a indisciplina escolar vem tomando proporções maiores na esfera educacional, e talvez seja pelo seu próprio sentido e finalidade, como já vimos em Foucault, a dominação social, molda e dociliza os corpos, e esse poder disciplinar busca privar a liberdade e não execrar o corpo. Isso ocorre, pelo fato de acreditar que o “cercamento”, o confinamento em instituições facilitam a modelação, o que proporciona mais economia ao poder. Quando se abre o olhar para a disciplina no passado, entre os séculos XVII e XVIII, destacam-se no texto: os internatos, asilos, hospitais, orfanatos, exércitos, fábricas, hospícios, prisões e escolas, esses locais manipulavam e modelavam, de acordo com interesses ideológicos, por meio de instrumentos disciplinatórios. Na escola, o ato de civilizar é simbolizado pela disciplina e esse processo de disciplinarização passou por algumas modificações ao longo do tempo, instrumentos de punição foram substituídos, mas não deixaram de ser menos violentos ou de agir com a mesma intensidade.
O cercamento, quadriculamento, fila, classificação serial e hierárquica das instituições, fez das escolas máquinas de ensinar, vigiar, recompensar, hierarquizar e quando necessário punir. Assim, podendo-se pensar que o ser humano não se deixa manipular ou moldar com tanta facilidade, como é o desejo do disciplinamento, assim fazendo surgir a existência dos conflitos, como uma maneira dos sujeitos demarcarem e sinalizarem essa existência.
Após essa breve explanação o que surge é o como se dá o enfretamento da indisciplina escolar. O que se percebe é um apelo muito forte ao reconhecimento como professor, sua experiência, formação, conhecimento, diante as funções que se ocupam. Atribuem a disciplina interligada ao respeito como deve de ser aprendidos antes de entrar na escola, ou seja, o âmbito familiar é o maior responsável. Quando não se tem esse êxito, tanto por parte da disciplina dos alunos ao executar seus planejamentos, sentem-se desprestigiados ou ainda conciliam ao do dever não cumprido por parte do professor. Outro ponto, bastante importante é a crença que professores, a própria escola associar o dever como principal responsável sendo a família, e quando não há também esse êxito, alegam que o principal problema se dá diante da atual estrutura familiar das crianças.
Não posso deixar de destacar, da qual maneira se dá esse enfretamento pelos professores, a preocupação da hierarquia, posição, autoritarismo, uso de ameaças, coação moral, idealização do aluno, culpabilização, reprovações por conta da indisciplina, tratar de forma vexatória e excludente, prevalecer o sentimento de superioridade, vitimizar, padronizar, enquadrar os alunos. Diante dessa reflexão procuro concluir meu texto, com a crítica de que não existe modelos ideais de família ou aluno, e enquanto educador devemos ter esse olhar e aprender de certo modo a como agir diante desses problemas.
Portanto, percebemos que toda a discussão se volta a indisciplina dos alunos, e diante disso qual é o dever, ou o que se pode fazer em relação à isso a escola e educadores? Devemos levar em consideração que todos os indivíduos tem seus anseios e seus interesses pessoais, independente de qual posição ocupa no cenário da educação: o aluno, o professor, os funcionários, os pais. Todos eles tem um ideal de educação e de comportamento humano perante os outros, ou seja, também são mutáveis e dissociáveis. O que deve existir, sobretudo, é o respeito a pluralidade humana, para que os anseios por educação de cada indivíduo se torne um ideal em comum. O que é saudável, nesse sentido, para o processo de ensino e aprendizagem são os sistemas de permutas de bens culturais e negociações no que diz respeito as relações humanas para que se diminuam os “danos” de todo o processo.
Para além das “fórmulas mágicas” consagradas nos grandes manuais pedagógicos escritos em gabinetes de sujeitos que rodeiam a cátedra dourada do ensino, quem deve fazer um panorama cognitivo e social do ambiente para que sejam reconhecidos os potenciais de cada sujeito é o professor, e é, não obstante, o professor que veicula o conhecimento que mais se adequa a seu público, e nesse sentido, o professor é quem indica a maneira como devem ser tratados os problemas inerentes ao cotidiano escolar.

Referências bibliográficas

PEREIRA, Antonio Igo Barreto; BLUM, Vera Lúcia; Poder, resistência e indisciplina escolar: a perspectiva docente sobre os comportamentos transgressores dos alunos. Revista Educação Pública. v.23, n, 54 Cuiabá 2014.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto Dara! A (in)disciplina em muitos momentos aparece como pauta principal diante dos problemas ou virtudes ( se é que pode ser chamado assim) do processo de aprendizagem, não sou favorável à manutenção de ordem pelo medo e pela ameaça, mas por experiência também sou obrigado a dizer que o processo de aprendizagem ocorre mais facilmente em um ambiente disciplinado. Uma pergunta: você já pensou em levar essa análise envolvendo disciplina e poder a um cruzamento com dados de alguma escola sobre a aprendizagem dos estudantes? Penso que seria interessante para sabermos até que ponto a disciplina realmente é determinante ( ou não ) em um processo de aprendizagem. Att Mauricio

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