Páginas

Daniela Maria; Adaiane Giovanni

DISCUTINDO O ENVELHECIMENTO HUMANO NO AMBIENTE ESCOLAR: AS POSSIBILIDADES DO TEATRO
Daniela Maria do Nascimento
Mr. Adaiane Giovanni
UNESPAR

Neste espaço apresentam-se breves considerações sobre a temática do envelhecimento humano, a partir dos resultados de uma atividade realizada com discentes de uma escola estadual de Campo Mourão/PR no ano de 2015, por acadêmicos do curso História vinculados ao Programa de Iniciação a Docência, da Universidade Estadual do Paraná.
Cabe esclarecer que a proposta e realização do estudo acerca dessa temática foram motivadas por duas questões centrais. A primeira está relacionada à mudança no perfil demográfico no país, visto que, em 2009, o Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) apontou para um aumento progressivo da população idosa no século XXI (CALDAS; THOMAZ, 2010).
A segunda questão está relacionada à implementação da lei 10.741 de 1 de outubro de 2003, que dispõe no artigo 22 a inserção de conteúdos voltados ao processo de envelhecimento humano nos currículos escolares em diversos níveis do ensino formal. 
Diante dessa realidade social, podemos observar que apesar da criação de políticas públicas que visamà integração social do idoso como é o caso da lei citada acima, se vê também que de outro lado existe uma carência de recursos humanos especializados nesse tema. Uma vez que a sociedade brasileira ainda não avaliou de modo satisfatório a situação social do idoso (SCORTEGAGNA; OLIVEIRA, 2012).
Frente a essas discussões e com a intencionalidade de corroborar com o desenvolvimento de uma abordagemsobre o envelhecimento humano no ambiente escolar, os acadêmicos de História propuseram uma atividade a ser realizada em duas fases com alunos entre 11 e 14 anos. A primeira fase teve como característica a atuação dos bolsistas por meio de uma apresentação teatral, na qual foram expostos os diversos contextos reais do idoso na sociedade atual. Na segunda fase, buscou-se estimular a prática teatral com os alunos integrando o processo de dramaturgia, cenografia e encenação.

Preparação e desenvolvimento do tema envelhecimento humano no âmbito escolar
Em todo inicio de trabalho, é preciso que seja reservado um momento de estudo e discussão para que ocorra a preparação, planejamento e organização das atividades que se deseja realizar.
Após a realização de leituras, discussões e participação em palestras com profissionais da área da saúde que trabalham com idosos, os acadêmicos de história se deparam com o desafio de pensar uma metodologia para abordar o processo de envelhecimento humano no ambiente escolar.
Deste modo, quando surgiu entre os acadêmicos o desafio de trabalhar com este tema, a primeira coisa feita foi à escolha do colégio e a ida até o local para conhecer a instituição e as pessoas responsáveis por sua administração.
Para a ação de intervenção foi escolhido o Colégio Estadual Unidade Polo, localizado nas proximidades da região central de Campo Mourão/PR. Após conhecer o local, foi decidido juntamente com a direção, iniciar o trabalho com o tema sobre o envelhecimento humano com alunos do 7º ano do Ensino Fundamental II. Todavia, antes de realizar qualquer abordagem sobre o tema, se elaborou um questionário com 10 questões, que permitiram conhecer o perfil de alunos com quem se iria trabalhar e ao mesmo tempo averiguar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema.

Responderam ao questionário 25 alunos com idade entre 11 e 14 anos. Quando questionados sobre elementos mais pontuais acerca da velhice, as respostas não foram muito diversificadas, como podem ser vistas no quadro a seguir:


O que é ser idoso para você?
É ser uma pessoa mais velha que precisa de cuidados especiais.
É ser uma pessoa sensível, como se fosse criança pela 2ºvez, só que com mais cuidados.
É ser uma pessoa com conhecimento, que viveu muito tempo.

Como você se imagina na velhice?
Uma pessoa com menos movimento, mas com mais conhecimento.
Com cabelos brancos, coluna encurvada, pele fina e enrugada.
Uma senhora com filhos e netos numa casa enorme e “antenada”.

Qual sua visão sobre ser idoso atualmente? Justifique!
Uma pessoa que gosta de tudo certo, mas, às vezes, implicante.
Uma pessoa que mima os netos e é carinhosa.
Com rugas e que precisa de ajuda para fazer algumas coisas.
Pessoas mais animadas, mas que muitas vezes são maltratadas.
FONTE: Dados da pesquisa. Disponível em: PIBID/História

Esses exemplos nos permitem observar que os discentes retrataram em sua maioria os idosos como pessoas sensíveis, que precisam de cuidados, carinho que por vezes sofrem de maus tratos. Fato que revelou a ideia de que, ao tornar-se idoso, o ser humano entra no campo da passividade.
Feita essa sondagem, deu-se início a atividade de intervenção. O objetivo dessa intervenção era trabalhar com algo que de algum modo tivesse impacto no cotidiano dos jovens alunos, que rompesse com o habitual espaço da sala de aula e que fosse trabalhado de forma coletiva, de modo que os alunos se sentissem motivados a participar. A partir disso, para abordar o envelhecimento humano o grupo de acadêmicos decidiu por trabalhar com o teatro.
Para apresentar o tema aos alunos o grupo de acadêmicos produziu e apresentou a peça “Feliz-idade”. Na peça foram trabalhadas questões do dia-a-dia comum na vida da pessoa idosa. Na sequência para finalizar essa primeira fase da atividade foi realizado um bate-papo com alunos.
A segunda fase da intervenção foi dividida em quatro momentos: a) oficina de iniciação ao teatro; b) realização de entrevistas dos alunos com idosos de sua comunidade; c) produção de texto a partir das pesquisas realizadas com idoso e sua adaptação para dramatização; e d) realização da representação teatral a ser apresentada pelos estudantes.
A oficina contemplou jogos e exercícios lúdicos teatrais, seguindo as ideias teóricas e metodológicas da dramaturga, teatróloga e diretora estadunidense Viola Spolin (1906 – 1994), onde os atores-alunos aprendem e praticam teatro através de jogos dramáticos livres e de improvisação, compondo suas próprias habilidades no jogo ao decorrer da prática.
Em seguida os alunos dividiram-se em grupo para realizar entrevistas com idosos de sua comunidade. Para isso, receberam um roteiro com algumas possibilidades de perguntas a serem realizadas.
Na aula da semana seguinte, com a entrevista realizada em mãos e contando com a mediação dos acadêmicos os alunos elaboraram seus textos com base nos resultados das entrevistas e os adaptaram para a dramaturgia que seria apresentada na aula da próxima semana.
No dia da apresentação os alunos chegaram eufóricos para mostrar os resultados de seus trabalhos, houve grupo que abordou a cena de um idoso morador de rua e teve aqueles que até elaboraram um monólogo retratando os sentimentos de uma senhora idosa.
Concluída a atividade, os acadêmicos aplicaram um segundo questionários com as mesmas questões do questionário inicial para verificar se a atividade realizada havia provocado uma alteração no modo de pensar dos alunos sobre o envelhecimento humano. Os resultados dessa avaliação contextual podem ser vista no quadro a seguir:



O que é ser idoso para você?
É ter idade mais avançada, só que eles são como todos.
É uma nova fase.
É quando tem mais experiência vida e, claro, a pele meio flácida.
Ter dificuldades, experiência e sabedoria.


Como você se imagina na velhice?
Uma pessoa com menos movimento, mas com mais conhecimento.
Com cabelos brancos, pele enrugada, fazendo exercícios.
Um pouco chata, mas sempre em forma e saudável.



Qual sua visão sobre ser idoso atualmente? Justifique!
Pessoas experientes que ainda têm muito que contribuir com a sociedade.
Os idosos também se divertem como todo mundo e, por isso, aprendi que ser idoso não é chato como eu imaginava.
Minha visão mudou sobre os idosos, pois eu pensava que essa fase da vida seria muito chata, mas não é.
Nem todos os idosos são rabugentos e alguns até são bem atualizados com a tecnologia.


















FONTE: Dados da pesquisa. Disponível em: PIBID/História
Como podemos observar, a ideia de que as dificuldades, experiência, sabedoria, além das questões estéticas, ainda serem elementos presentes na velhice, vemos que alguns aspectos positivos foram acrescentados quando os alunos se deparam novamente com as questões: O que é ser idoso para você? E Como você se imagina na velhice? O olhar sobre cuidados com a saúde e a prática de exercícios parecem estar ocorrendo de forma mais natural.
Diante do questionamento: Qual sua visão sobre ser idoso atualmente? Justifique!,é possível perceber a presença de verbos utilizados no pretérito imperfeito, comonas palavras “eu pensava” ou “eu imaginava” não quer dizer que houve por completo uma mudança de pensamento, mas mostra que está ocorrendo um processo de reflexão, na qual os sujeitos começaram a olhar a velhice por um outro ângulo sem levar em consideração apenas aspectos negativos, de forma que a velhice se constitui como uma fase da vida, um processo natural do ser humano, visto que todos caminhamos com a possibilidade de chegarmos até ela.

Referências
BRASIL. Lei n 10741. Estatuto do idoso de 1 de outubro de 2003. Brasília: centro de documentação e informação, 2004.
CALDAS, Célia Pereira; THOMAZ, Andrea Fernandes. A velhice no olhar do outro: uma perspectiva do jovem sobre o que é ser velho. Revista KÁIROS, São Paulo, v. 13, n. 2, 2010, p. 75-89.
FREITAS, Silvane Aparecida de; COSTA, Maria Jacira. A identidade social do idoso: memória e cultura popular. Revista Conexão, Ponta Grossa
IBGE. Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil, 2009 – Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/indic_sociosaude/2009/ consulta em: 22 de julho de 2015.
SCORTEGAGNA, Paola Andressa; OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Idoso: um novo ator social. IX ANPED Sul, 2012, p. 1-17.
           

3 comentários:

  1. Olá autoras,

    Parabenizo, primeiramente, pela excelente temática e pelo projeto desenvolvido. É de bastante valia e muito pertinente ao contexto atual.

    Na opinião de vocês, como avançar na desconstrução dos estereótipos desenvolvidos acerca dessa idade, para além do que já foi executado no projeto?

    Maicon Roberto Poli de Aguiar.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Olá Maicon,
    O trabalho com o teatro nas escolas é uma pequena amostra das inúmeras possibilidades que pode se apresentar. Acredito que o ambiente escolar se apresenta como um meio crucial para se trabalhar com as desconstruções de esteriótipos acerca do processo de envelhecimento humano. O teatro foi a maneira que encontramos para fazer os alunos interagirem com idosos - no momento em que realizaram as entrevistas - e também de buscar refletir sobre ser idosos no contexto atual. Acredito que salas temáticas, debates, e atividades que os alunos possam não apenas ouvir, mas que também possa interagir é fundamental. Foi isso que privilegiamos no momento em que nos foi proposto trabalhar esta temática na escola.

    Atenciosamente,
    Autoras

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.