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Clebianne Vieira; Gleison Carlos; Cleberson Vieira

ENTRE A HISTÓRIA ENSINADA E O DIREITO A OPINIÃO: DILEMAS E PERSPECTIVAS
Esp. Clebianne Vieira de Araújo
UFPB
Dnt. Gleison Carlos Souza de Morais
Dnt. Cleberson Vieira de Araújo
UTIC


Introdução
O ensino e aprendizagem são temas recorrentes na análise acadêmica e capaz de trazer à tona os problemas diários enfrentados por professores das mais diversas áreas.
No Brasil, ataques a disciplinas que ensejam uma reflexão são comuns em sua história, e hoje percebemos um novo ataque a caminho, seja mediante projetos ou reformas educacionais.
Assim, com o objetivo geral de traçar um panorama geral sobre o ensino de história e sua capacidade reflexiva, esse trabalho se faz importante por buscar fazer uma breve reflexão sobre os caminhos percorridos pela educação brasileira, em especial no que se trata da disciplina de História e seus muitos desafios cotidianos.
A metodologia utilizada é qualitativa ao apoiar-se na reflexão cotidiana das aulas de História, bem como da análise da literatura disponível a exemplo de Karnal (2008) e Ribeiro (2013).

O desafio de ensinar história na contemporaneidade
Estudar e ensinar História é um desafio que parte do currículo que aponta o passado a ser estudado e que nem sempre se vincula ao presente, fazendo do cotidiano escolar do professor um desafio diário que deve partir da reflexão para chegar a ação, devendo ir além do livro didático e atingindo outros campos do saber histórico.

É preciso considerar o pensamento simbólico tão caro à antropologia, assim como o significado das festas, dos rituais e de suas produções artísticas. É preciso também refletir sobre os aspectos mais variados da vida cotidiana, que nos permitem identificar semelhanças e diferenças, o que permanece e o que se transforma. É importante ter em conta a produção literária e filosófica, que nos permite mergulhar nas formas de pensamento de uma época. (RIBEIRO, 2013, p.3).
O desafio do professor de História reveste-se de duplo significado. De um lado, é preciso selecionar os conteúdos a serem apresentados aos alunos o que, inevitavelmente, implica escolhas temáticas e a adoção de determinada versão dos acontecimentos. De outro, é necessário empenhar-se para que os alunos desenvolvam uma reflexão crítica em relação aos conteúdos estudados e, com isso, construam seu próprio saber sempre levando em conta que “[...] o papel desempenhado pelo professor é algo confuso até mesmo para ele. As exigências impostas pela sociedade: pais, alunos e comunidade em geral, estão fora do alcance da realidade vivenciada em sala de aula”. (SCHEIMERI, 2010, p. 10).
E, quanto à História, é importante o professor saber que “quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer” (KARNAL, 2008, p. 28).
É na ação educadora entre professores e alunos que surgem as questões, os problemas, as formas mais adequadas de lidar com o material de estudo e as iniciativas de trabalho. A preparação de uma aula e sua efetivação é tarefa complexa, comportando inúmeras variáveis que somente são dominadas pelo educador em seu contato singular com os educandos.

História e o direito de opinar
Ao cidadão atento e preocupado com a educação no Brasil, especialmente a básica, poderá perceber um processo de crescente desmanche do que a define pela Constituição Brasileira: um direto social e subjetivo. Para metade da juventude brasileira, em plena segunda década do Século XXI, nega-se a etapa final da educação básica, o ensino médio e os que o alcançam o fazem em condições precárias. Mutila-se, assim, a perspectiva de futuro tanto da cidadania ativa quanto as possibilidades de integrarem-se ao mundo do trabalho de forma qualificada, sendo penalizadas mais uma vez disciplinas como sociologia, filosofia, geografia e história.
Tão preocupante ou mais, tem sido o processo de desqualificar a educação pública, único espaço que pode atender ao direito universal da educação básica, pois o mundo privado é o mundo do negócio. Esta desqualificação não foi inocente, pelo contrário, abriu o caminho para a gestão privada ou com critérios privados da escola pública mediante institutos privados, organizações sociais, etc. E, mais recentemente, para se apropriar por dentro, com a anuência de grande parte dos governantes, da definição do conteúdo, do método e da forma da escola pública.
Junto com esse processo os “denominados especialistas” pela mídia empresarial de TV e revistas semanais, veem sistematicamente desclassificando a formação e o trabalho docente justificando o sequestro de sua função. Sem meias palavras, os docentes são concebidos como entregadores dos conhecimentos definidos por agentes “competentes” sob a orientação de bancos, associações e institutos empresariais, ação tão combatida por Paulo Freire que a denominava como “educação bancária”.
 Com isso, os idealizadores do projeto “Escola Sem Partido” avançam num território que historicamente desembocou na insanidade da intolerância e eliminação de seres humanos sob o nazismo, o fascismo, comunismo e similares. Uma proposta que é absurda e letal pelo que manifesta e pelo que esconde, o fim da liberdade de ensino. O que os projetos que circulam no Congresso Nacional, em Câmaras Estaduais Municipais, em alguns casos como Alagoas já aprovados, cuja matriz é a “Escola Sem Partido” liquidam a função docente no que é mais profundo – além do ato de ensinar, a tarefa de educar. Na expressão de Paulo Freire, não por acaso execrado pelos autores e seguidores da “Escola Sem partido” educar é ajudar aos jovens e aos adultos a “lerem o mundo”. Um dos argumentos basilares da “Escola Sem Partido” é a tese da “Liberdade de Ensinar”. Logo, se observa o interesse de classes que sempre dominaram o país e que mais uma vez estão querendo manter-se pela força da ação de dominação da educação popular.
Para o professor atuante, a história ensinada que realmente vale apena é aquela transformadora, que ensina apensar historicamente mediante os conceitos aprendidos e apreendidos reflexivamente, fazendo com que “[...] os alunos construam um vocabulário histórico, que seja facilmente assimilável, mas que, principalmente, ele possa utilizar em diferentes situações de sua vida”. (SCHMIDT, 1999, p. 148).
Portanto, a reflexão e a história devem caminhar juntas, mesmo enfrentando obstáculos, sempre objetivando a formação integral de alunos e alunas fazendo cumprir a missão formadora da escola básica.

Considerações finais
A História abre espaço para múltiplas interpretações e análises e fica incompleta sempre que controlada, ainda mais por pessoas que não são especialistas nessa área de estudo.
São muitas as obrigações do historiador e se esse for professor terá que se esforçar ainda mais na tentativa de construir consciência histórica.
Ir além do currículo construindo um pensamento social na formação do cidadão ativo, toma contornos perigosos na atualidade, sinal de renovação desse profissional e abrindo assim opção para uma nova postura de atitudes.
Portanto, ser professor não é tarefa simples e essa tarefa atrelada a dificuldades extras fazem com que despertemos não a estagnação mas coloca-nos diante do importante dilema que deve nortear nossos passos futuros sempre na direção da superação e da defesa da educação e da história reflexiva como sendo direito de todos e todas.

Referências
KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas.São Paulo: Contexto, 2008.
RIBEIRO, Jonatas Roque.  História e ensino de história. Perspectivas e abordagens. Educação em Foco, Edição nº: 07, Mês / Ano: 09/ 2013.
SCHEIMERI, Maria Delfina Teixeira. Ensino de história e a prática educativa: Projetos interdisciplinares. V CINFE. Caxias do Sul, 2010.
SCHMIDT,  Maria Auxiliadora.  Construindo conceitos no ensino de história: “A captura lógica” da realidade social. Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 147-163, 1999.

6 comentários:

  1. Olá autores,

    Torna-se claro o quanto a proposta é contraditória - até dentro de si mesma - quando sabemos que a liberdade de expressão resulta invariavelmente numa diversidade de opiniões, que pautam não só as discussões, como também a própria seleção das temáticas.

    No cotidiano escolar/acadêmico, a liberdade de opinião encontra limites, podendo levar a confrontos que transcendem a sala de aula, como a disputa judicial envolvendo a professora dra. Marlene de Fáveri (https://educacao.uol.com.br/noticias/2017/03/31/professora-de-historia-antifeminista-processa-orientadora-por-perseguicao.htm). Para vocês, quais os limites para a liberdade de expressão no dia-a-dia da escola? Eles existem?

    Maicon Roberto Poli de Aguiar.

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    1. Muito grato pela sua participação Maicon.
      Achei muito pertinente seu questionamento e acho que a liberdade da escola não deve ser diminuída com um projeto em si, porém sabemos de nossas limitações como educadores e que essas limitações e opiniões não podem usurpar, por exemplo, o lugar da família.

      Vamos debater...

      ATT

      Cleberson

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    2. Geralda Erinalda de Souza Rodrigues5 de abril de 2017 às 10:56

      Boa tarde!
      um texto muito bom que nos oportuniza a uma reflexão dentro do contexto "Estudar e ensinar História é um desafio que parte do currículo que aponta o passado a ser estudado e que nem sempre se vincula ao presente, fazendo do cotidiano escolar do professor um desafio diário que deve partir da reflexão para chegar a ação, devendo ir além do livro didático e atingindo outros campos do saber histórico." Assim oportunizamos ao sujeito a compreender o fazer, participar, mediante a sociedade a qual estar inserida. Já que estudamos os sujeito enquanto protagonista da historia.



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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ensinar História por si só é um grande desafio que tem se recrudescido ultimamente visto que convivevemos com uma crescente polarização do pensamento . Os alunos reproduzem duscursos do tipo " o professor de História é de esquerda",um pensamento que nasce e ganha fôlego sobretudo nas mídias.Os projetos , como bem salientouno autor tem como objetivo cercear a liberdade do exercico docente do Historiador .Para além dos recortes que precisamos fazer , instigar o pensamento e a criticidade em dias nebulosos torna-see então , nosso grande desafio.

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  4. Tatiane Martins Evangelista6 de abril de 2017 às 13:25

    Olá!Quais critérios devem ser usados pelos professores para que os alunos saiam da sua zona de conforte e compreenda que a criticidade vem em sequencia do conhecimento? e como o professor deve agir para destruir a concepção atual de que informação não é conhecimento e a partir disto conseguir fazer uma ponte entre a história e a atualidade? Tatiane Martins Evangelista

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