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IMAGENS E ENSINO DE HISTÓRIA: UM DEBATE NECESSÁRIO PARA OS ATUAIS TEMPOS
Arnaldo Martin Szlachta Junior
Dnt. História UEM


No cotidiano escolar muitas são as ideias e tentativas para um bom trabalho de sala de aula, um trabalho que tenha uma proximidade à realidade do aluno e esteja em sintonia com os debates presentes na academia. Desde muito tempo há estudos sobre a utilização das imagens na composição da história, assim como o seu uso em sala de aula.
No campo da arte, a ideia de imagem está vinculada às representações visuais, sejam elas por afrescos, pinturas, iluminuras, ilustrações, desenhos, gravuras, filmes, vídeo ou fotografia. Ao buscarmos a raiz etimológica da palavra ‘imagem’ encontramos o termo imago do latim, que faz referência à máscara mortuária utilizada nos ritos fúnebres na Antiguidade romana (JOLY, 2006, p.18). No discurso científico, dentro das ciências humanas, podemos utilizar o termo ‘imagem’ de tantas formas e com tantos sentidos que seu uso torna-se polissêmico, nossa intenção não é questionar os usos da palavra ou reelaborar um conceito, mas nos faz necessário delimitar em qual sentido e de que forma estamos aplicando o termo.
De acordo com Antonio Vicente Pietroforte, entende-se por imagem aquilo que se pode ver:
Fala-se em Imagem da fotografia, da pintura, da escultura, da arquitetura etc., sugerindo que “imagem” se refere a qualquer manifestação numa semiótica plástica. Quando a palavra “imagem” aparece em estudos da semiótica aplicada a esse domínio da expressão, entende-se “imagem” como aquilo que se pode ver. (PIETROFORTE, 2008, p.33)
Conforme os estudos da semiótica, na linha estrutural de Algidar Julien Greimas, apontados por Antonio Vicente Pietroforte, a semiótica tem por objeto de estudo a significação, definida em conceito de texto, esse texto pode ser classificado como um sistema de significação verbal, não verbal ou sincrético (PIETROFORTE, 2010, p.11). O modo de significação verbal ocorre por meio de textos ou construções das línguas naturais, já o não verbal é composto pelos demais sistemas como a música e artes plásticas e o chamado sistema sincrético são aqueles que acionavam várias linguagens de manifestações, ou seja, num mesmo conteúdo é expresso significados por meio de formas verbais e não verbais como, por exemplo, nas tiras de quadrinhos.
No ambiente escolar, a presença das imagens, sejam elas desenhos de uma época, pintura ou fotografia, fornece aos professores uma presença significativa no processo de aprendizagem dos alunos da educação básica. Tal destaque é notório pela forma como a imagem é apresentada: sejam os traços de um cartunista, as pinceladas de um artista, um instante do passado congelado, seja em preto e branco ou colorido. A imagem mostra o povo ou uma região de determinado período e produzido por olhos da época, fazendo assim uma relação com o discurso histórico do professor naquele momento.
Vale lembrar o poder que as imagens têm no mundo atual - os alunos estão propensos a serem seduzidos por elas, e é nesse momento que cabe ao professor mediador, com o auxilio do material didático repleto de imagens, trilhar os caminhos que ajudarão na formação de alunos capazes de criar um senso e um raciocínio crítico e histórico social, nos enfoques das sociedades e suas produções culturais e materiais, como também a posição ideológica de determinados grupos.
Vários pesquisadores analisam a relação da produção de conhecimento e a imagem, dentre eles temos Circe Bittencourt que privilegia a ação questionadora sobre as imagens nos materiais didáticos. Em sua obra Livros didáticos entre textos e imagens a autora questiona como são apresentadas as imagens nos livros didáticos, considerando que o livro é um produto, uma mercadoria do mundo das edições e leva em questão seu processo de transformação no que diz respeito a sua fabricação, indagando sobre esse objeto:
A reflexão sobre as diversas ilustrações dos livros didáticos impõe-se como uma questão importante no ensino das disciplinas escolares pelo papel que elas têm desempenhado no processo pedagógico, surgindo indagações constantes quando se aprofundam as análises educacionais. Como são realizadas as leituras de imagens nos livros didáticos? As imagens complementam os textos dos livros ou servem apenas como ilustrações que visam tornar as páginas mais atrativas para os jovens leitores? (BITTENCOURT, 1997, p. 70)
Essas interrogações abrem caminho para inúmeras problemáticas que poderíamos levantar sobre o uso da imagem no livro didático, entretanto vamos focalizar uma proposta central que é a presença e o uso das pinturas em um livro didático de história. O uso da imagem vem ganhando uma valorização significativa pelos teóricos que discutem o ensino de história e a historiografia, criando um espaço gerador, um campo rico de debates e opiniões.
No decorrer do trabalho do professor, ao elaborar seu material ou escolher um livro didático, busca-se um texto recheado de imagens, e se tratando dos conteúdos finais que se localizam mais na contemporaneidade temos a presença de imagens que se espera naquele momento gerar uma aula mais dinâmica e atrativa? E por que não fazer o aluno imaginar aquele determinado instante um momento único à formação de conhecimento?
Todavia, não podemos simplesmente estabelecer uma ação de acordo com ideias ou vontades. Ana Heloísa Molina estabelece que o professor, ao agir como um mediador entre as informações intrínsecas na imagem e o conhecimento dos educandos, não deve apresentar uma aula pronta que considere somente um ponto de vista ou uma opinião. O uso de imagens pelos professores de história deve levantar, a partir das respostas dos alunos, as possibilidades de investigação da construção do conhecimento histórico (MOLINA, 2007, p.24).
[...] as imagens usadas em sala de aula não devem sê-lo gratuitamente, mas é necessário conhecer seus componentes semânticos para adequá-los aos objetivos propostos. Assim o desafio e o limite imposto ao professor de história serão o de redimensionar e explorar as competências específicas da imagem, não somente para motivar e envolver, mas re-elaborar, recodificar, ordenar e organizar conceitos, transformando uma relação sócio-afetiva com a imagem em uma situação de cognição. (MOLINA, 2007, p.25). 
Nas últimas décadas, o crescente aumento do uso das imagens nas aulas de história vem sendo permitido pelas novas possibilidades técnicas, pela queda dos custos de impressão e as formas de adquiri-las em fascículos próprios ou mesmo na Internet. É claro que, aliado a essas facilidades, destacamos também os métodos pertinentes à academia, como os já mencionados e os quais iremos apresentar nos capítulos subsequentes. A relação com as novas correntes historiográficas do pós-segunda guerra mundial, na qual temos em destaque a Nova História Cultural, possibilita um diálogo entre pesquisas acadêmicas e professores em sala de aula.
A ideia de didática vem sendo construída e reconstruída ao longo dos anos e, atualmente, com as possibilidades de reprodução que a era digital nos proporciona, o assunto ganha força principalmente como um recurso que permitiria a construção de conhecimentos e significados e não simplesmente como uma mera ilustração dos conteúdos dispostos no livro didático - as novas abordagens caminham para a problematização e enfoques de análises em sala de aula na perspectiva da construção de conhecimento.
Contudo é preciso ressaltar que as imagens são cenas recortadas, representadas numa imagem congelada, momentos registrados que podem ser aleatórios, construídos e manipulados, mas que usando as informações de fatos históricos presentes nesse tipo de documento, de acordo com uma metodologia amparada nas recentes pesquisas do campo de ensino de história e nas ferramentas oriundas de outras áreas como história da arte, comunicação entre outras, estaspodem auxiliar na formação de indivíduos capazes de raciocinar historicamente, com uma criticidade maior, e mais sensibilidade sobre a cultura, a materialidade e a dinâmica das sociedades.
Uma série de reflexões sobre o ensino de história e a produção de narrativas históricas, devem ser as orientações para pesquisas do ensino de História, pensando a realidade das escolas, a situação dos alunos e como seria a prática do professor em sala de aula possibilitando o diálogo da academia, sendo assim não podemos nos afastar dos pressupostos sobre Teoria da História. Como observa José Carlos Reis (REIS, 2005), uma pesquisa histórica empírica deve estar em diálogo com a teoria da história a fim de construir uma possibilidade de conhecimento histórico ao mesmo tempo em que apresenta os passos percorridos na prática da pesquisa.

Referências
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. Tese (Doutorado)- FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
______________, Circe Maria Fernandes. “Livro didáticos entre textos e imagens.” In: ______________, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002.
GOODSON, Ivor F.  Currículo: teoria e História. Petrópolis: Vozes, 1995 Tradução de Tomaz Tadeu da Silva.
 JOLY, Martine. Introdução à análise da Imagem, Campinas, Papirus Editora, 2006
MOLINA, Ana Heloisa. Ensino de história e Imagem: possibilidades de pesquisa. In. Domínios da Imagem, Revista de LEDI, Ano 1, Volume 1. Londrina, Eduel. 2007
PIETROFORTE, Antonio Vicente. Análise do texto visual: a construção da imagem, São Paulo, Editora Contexto, 2008.
REIS, José Carlos.História & Teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2ª edição. 2005.



6 comentários:

  1. Bruna Liana Teza Canarin3 de abril de 2017 às 06:04

    Há a explicação do termo imagem em latim e para a ciências humanas, há tantas formas e meios de usar tal termo que seu uso acaba por ser polissêmico, ainda é discutido sobre a formação de conhecimentos em alunos secundários, mas que o professor possa possibilitar esta formação com senso crítico. Devido aos inúmeros recursos existentes hoje e pequeno interesse por parte dos próprios alunos, como fazer uma aula mais didática e interativa para a construção do senso crítico dos discentes?
    Bruna Liana Teza Canarin

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Além da constatação do pouco interesse apresentado por nossos discentes, temos a problemática da formação incompleta por boa parte deles ao saírem do ensino fundamental, o fato de muitos mal saberem ler e interpretar, mas a dinâmica apresentada por atividades com a utilização de imagens podem nos auxiliar na missão de ensinarmos as bases interpretativas para os nossos alunos além de demonstrarmos a eles uma das formas como o historiador constroi suas representações?

    Moaci Caitano Freires Junior

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  4. Como você diz "as imagens como são recortes", portanto precisa de conhecimento para a utilização, precisa de interesse por parte do discente e que pesquisa, além da sala de aula.Todas essas ferramentas são fundamentais na construção do ensinar. Como ensinar então o professor da importância de um aprofundamento na arte de ensinar?

    Raquel de Souza Martins Lima

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  5. Penso que o desafio que se impõem ao professor de História é o tratamento metodológico das imagens, pois como diz a Profª Circe Bittencourt, a História demanda questões especificas dentro das relações imagéticas. As propostas para o uso de imagens devem integrar questões pedagógicas e historiográficas, caso contrário é apenas ilustração.
    Ernesto Padovani Netto

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  6. Boa noite!
    Trabalho muito com imagens nas minhas aulas. Primeiro, tento ajudá-los a fazer uma leitura das imagens, porteriormente ponho as mesmas a disposição dos alunos. Por vezes percebo que eles encaram a imagem como algo que confirma o fato estudado. E não considero isso como algo bom.
    IEDA MAYARA DE SANTANA

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