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Aline dos Santos

A IMPORTÂNCIA DO USO DE ICONOGRAFIA NO ENSINO DE HISTÓRIA: EXPERIÊNCIAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Aline dos Santos Oliveira
UNEB


O presente trabalho tem por objetivo relatar as experiências em sala de aula, desenvolvidas no Estágio Supervisionado em História III, do Curso de História da Universidade do Estado da Bahia_UNEB, Campus VI, realizado com os alunos do 7º ano do Ensino Fundamental do Colégio Zelinda Carvalho Teixeira, Maniaçu Caetité- BA, no período de 03/08 a 19/10/ 2016, com uma carga horária total de 32 horas, distribuída 2 horas observação, 2 de co-participação, 16 horas regências e 12 horas de Atividades Complementares). Para esta comunicação foi relatada a aula do dia 24/08/2016, na qual trabalhamos a leitura de imagens.  Com o objetivo de instigar e provar aos alunos ao conhecimento histórico através à interpretação e a análise das iconografias, permitindo-os uma série de informações e significados enriquecendo seus conhecimentos. Para esta ação foi planejado e explanado o conteúdo do livro didático (Reforma e Contrarreforma), este que é apresentado de forma bastante superficial e com poucas problematizações, sendo necessário uma intervenção pedagógica, para que o alunado perceba de maneira dinâmica e prazerosa e importância desse conteúdo e da História em suas vidas.
Nesse cenário nosso olhar de professor/historiador se volta para a análise do uso de iconografia como um documento que expressam contextos, opiniões, identidades, sendo dessa forma, um instrumento importante na construção do conhecimento histórico, para os alunos sétimo ano do Ensino Fundamental. Esta atividade foi desenvolvida sob a supervisão da professora regente responsável pela turma em estudo.
O objetivo deste trabalho é oportunizar aos alunos, na construção do conhecimento histórico, mais uma forma de pensar a história para além dos padrões tradicionais. Essa atividade possibilitou uma aula diferenciada, mais interativa ao tempo que proporcionou aos alunos compreenderem como realizar a leitura deste documento desde a definição da temática, ano, autor, descrição pormenorizada da imagem, sempre procurando contextualizá-la ao tema em discussão em sala de aula. Nesse sentido, Circe Bittencourt conceitua,
Para a História escolar existem algumas investigações voltadas essencialmente para a análise de imagens tecnológicas e para o papel que desempenha na criação de nova relação com o conhecimento histórico e imaginário coletivo. A intenção maior é identificar como o aluno apreende as imagens e suas representações. (BITTENCOUR, 2005, p.365)
 Com o desenvolvimento da atividade pudemos perceber a importância de utilizar imagem sem legenda em sala de aula, para que os alunos possam explorar o máximo a leitura e a interpretação dessas imagens, sem a interferência e o direcionamento dos títulos e legendas. Tal perspectiva favorece o desenvolvimento de um olhar crítico que fortalece as construções e os debates históricos a partir do âmbito visual, Ricardo Barros sustenta:
A análise da imagem na sala de aula nos permitiria educar o olhar de nossos estudantes e, desta maneira, fornece um importante passo rumo à democratização dos meios de comunicação. Somente o olhar crítico nos abre o horizonte da cidadania e da democracia. Caso contrário a predominância da estética irá dispensar a ética, e seremos prisioneiros de um sistema de imagem. (BARROS, 2007 p.8).
Percebemos que antes de apresentar as imagens aos alunos faz-se necessário a contextualização do conteúdo, para que estes não utilizem de forma equivocada, apenas descrevendo aquilo que está visível, mas instigá-los a pensar criticamente acerca das possibilidades da iconografia. Tal perspectiva metodológica parte do pressuposto que antes mesmo de nós professores lermos as imagens para nossos alunos é necessário permitir que estes façam inferências acerca da mesma e a partir daí realizemos conjuntamente sua composição e decomposição.
As imagens utilizadas acerca da Reforma e Contrarreforma foram adquiridas por meio de pesquisas na internet. A partir destas imagens foi possível, junto com os alunos, identificar e problematizar as relações de poder e controle exercidos pela religião na época em tela, facultando, quando possível, uma discussão acerca dos movimentos religiosos na atualidade, desde a pluralidade de crenças até mesmo os conflitos então existentes; os mapas foram excelentes para associar a temporalidade â localização espacial acerca de temática em estudo uma vez que a partir deles observávamos em quais territórios estes tiverem maior influência.
Outra estratégia que utilizamos para fundamentar a nossa prática foi o estudo dos textos de Gilsom Dantas, “A verdadeira história da inquisição” uma vez que apresenta mais uma leitura deste contexto histórico que muitas vezes é pouco discutido no livro didático evitando quando possível deixar lacunas para a compreensão dos alunos; e o de Carolina Oliveira, “Intolerância Religiosa”, este texto foi especialmente importante para trabalharmos essa questão, uma vez que o livro didático não trabalha essa perspectiva.
Após a exploração do conteúdo através das imagens, os alunos foram divididos em cinco grupos e provocados a fazer a leitura das imagens, analisando nas entrelinhas e responder questões, elaboradas e apresentadas por mim sobre a temática proposta.
Nesse sentindo, é necessário que o docente busque novas fontes, desvencilhando-se das tradicionais maneiras de planejar e executar a aula de História, como sustenta Carretero (2006) é chegado o momento de “abrir o marco do espelho de Clio”, possibilitando ao aluno aprender com outros mecanismos e ferramentas que devem ser adotadas no ensino de História. Mas trabalhar em sala de aula com novos recursos didáticos é necessário que o professor/estagiário tenha conhecimento destas relações entre texto e imagem para melhor adequar seu material didático. E pensar de que forma trabalhar com essa metodologia para que não seja somente um passa tempo, mas uma construção de conhecimentos, onde os alunos apreciem as imagens como arte e reconhece-la e interpreta-la dentro do contexto trabalhado.
Nesse sentido, de não somente olhar a imagem como o real, mas fazer a leitura da mesma, compartilhamos as reflexões de Oliveira (2012),
Apresentamos aos nossos alunos as perspectivas contidas na imagem fotográfica tanto se apresenta como um desafio, como uma possibilidade de fazê-lo não somente olhar a imagem e trata-la como demonstração do real, mas também questioná-la e possibilitar que façam outras leituras de uma sociedade ali representado. (OLIVEIRA, ALMEIDA e FONSECA, 2012, p.51-52).
Daí a importância de trabalhar com imagens desde as séries iniciais do Ensino Fundamental. Por estimular as habilidades de observar, descrever, sintetizar, relacionar, entre outras. Além disso, necessário desnaturalizá-la e contextualiza-la. No entanto, para que isso chegue a prática é necessário que os professores ao trabalharem com essas fontes saibam compreendê-las e relacioná-las ao conteúdo desenvolvido.
Nessa ação, identificamos que os alunos sentiram dificuldades de interpretação e de contextualização, ou seja, de relacionar passado e presente. Por isso é necessário o trabalho com iconografia desde as séries iniciais, pois estas nos possibilitam novas formas de compreender a história, como afirma PAIVA,
A iconografia é tomada agora como registro histórico realizado por meio de ícones, de imagens pintadas, desenhadas, impressas ou imaginadas (...). São registros com os quais os historiadores e os professores de História devem estabelecer um diálogo contínuo.  (PAIVA, 2006, p. 17)
Diante dessa discussão de PAIVA (2006), o uso de imagens em sala de aula deve ser continuo, desde as séries iniciais, pois os alunos são bombardeados de imagem a todo momento em seu cotidiano.
Diante do exposto e do que foi trabalhado e vivenciado em sala de aula, foi perceptível que a leitura de imagem contribuiu para a aprendizagem e o desenvolvimento da autonomia dos alunos na medida em que estimulava estes a curiosidade ativa e um nível mais elevado de raciocínio.

Referências bibliográficas
BARROS, Ricardo, O uso de imagem nas aulas de história. Dissertação (Mestrado em Educação) São Paulo, 2007).
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos” São Paulo: Cortez, 2004 – (Coleção docência em formação. Série ensino fundamental / coordenação Antônio Joaquim Severino, Selma Garrido Pimenta). 
BOULOS, Júnior, Alfredo. História sociedade e cidadania- Edição reformulada, (Coleção do Ensino Fundamental II e Médio). – 2.ed.- São Paulo: FTD, 2012. 
CARRETERO, Mario. “Documentos de Identidade: a construção da memória histórica em um mundo globalizado”. 2010.
OLIVEIRA, Regina Soares de História/Regina Soares de Oliveira, Vanusia Lopes Almeida, Vitória Azevedo da Fonseca; Márcio Rogério de Oliveira Cano, coordenador. São Paulo: Blucher,2012. (Coleção a reflexão e a prática no ensino; 6)
PAIVA, Eduardo França. História & imagens – 2 ed. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006).
BARROS, Ricardo, O uso de imagem nas aulas de história. Dissertação (Mestrado em Educação) São Paulo, 2007).
ROMANATTO, Mauro Carlos. O Livro Didático: alcances e limites. Disponível em http://www.sbempaulista.org.br/epem/anais/mesas_redondas/mr19-Mauro.doc.


14 comentários:

  1. Como foi a participação dos alunos na intervenção?
    No momento de grupo, os alunos responderam às questões de maneira escrita?
    Isabele Fogaça de Almeida

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    1. Ola Isabele,
      Os alunos participaram de maneira satisfatória,principalmente porque durante a explanação das imagens, relacionei com o cotidiano deles, dessa forma conseguir promover um dialogo com a turma, e também porque havia religiões que eles tinha certo "preconceito",foi um momento em que eles tirarão as dúvidas, e dismificar visões errôneas sobre algumas religiões, principalmente da matriz africana. No primeiro momento explanei as imagens e dialoguei com os alunos, no segundo momento os alunos interpretaram as imagens em grupo e responderam de maneira escrita.

      Att.
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  2. Apesar da clareza da exposição e dos detalhes de informação, faltaram alguns, que me despertaram curiosidade: qual o livro didático adotado pela escola? E também o mesmo postado acima por Isabele: como foi a participação das/os estudantes?
    Também sugiro repensar a ideia de “aula diferenciada” pois algumas vezes pode parecer para a/o professora/professor regular da turma que as aulas ministradas por elas/es não são atrativas, ou são sempre antiquadas e que não despertam o interesse da turma, enquanto a aula das/os estagiárias/os são “diferenciadas”, “atrativas”, etc... Pode parecer rude para a/o professora/or da turma.

    Grata,
    Aline Ferreira Antunes.

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    1. Ola Aline,
      Concordo com você, a aula diferenciada são mais atrativas e aguça a curiosidade dos alunos. Inclusive no momento da observação do estágio, notei com os alunos tinha pouca interesse pela disciplina, por isso optei durante a regência trabalhar os conteúdos com algum outro recurso que aguçasse o interesse dos alunos( além das iconografias, utilizei filme, músicas, vídeos, objetos expostos, história em quadrinho, charges e dinâmicas). Os alunos participaram questionando, principalmente por que relacionei com o cotidiano deles e trabalhei com religiões que eles pouco conhecia. O livro adotado pela escola é o de Alfredo Boulos Junior.

      Att,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  3. Bom dia!
    Qual foi o retorno que os alunos deram a essa abordagem de aula por iconografias? Eles mostraram um interesse maior em participar das atividades?

    Tiago Mozer de Moura Rangel

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    1. Boa noite Tiago!
      O retorno foi gratificante por ter conseguido proporcionar uma aula bastante participativa com os alunos,e por desmistificar alguns "preconceitos", que eles tinha com algumas religiões, principalmente da matriz africana, eles mostrarão bastante interesse.

      Att,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  4. Carla Cristina
    Bom dia!
    Querida Aline, diante das dificuldades de equipamentos e materiais nas escolas, qual a sugestão de trabalhar com a iconografia no cotidiano escolar? Qual sua sugestão de como trabalhar com as imagens do livro didático na aula de História?

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    1. Boa noite Carla.
      Na verdade eu passei por essas dificuldades dos equipamentos da escola, havia apenas um data show, então já tentando evitar possíveis contratempo. Trabalhei as imagens através de cartolinas, uma outra possibilidade poderia ser também as imagens coladas em papel cartão. A impressão das iconografias possibilita ainda os alunos ter o contato com as mesma.

      Att,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  5. Qual foi o interesse demonstrado pelos alunos durante a aula de iconografia?
    Dulce Casagrande.

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    1. Ola Dulce,
      Por ser uma turma pouca participativa, as iconografias propiciou um ambiente de dialogo, eles mostrarão interesse questionando, interpretando as imagens e as charges.
      Grata,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  6. Olá Aline. Parabéns pela iniciativa. Gostaria de saber se você procurou dialogar com o(a) professor (a) de artes e, se não, se lhe ocorreu que isso ajudaria a ele(a) também, pois enriqueceria a ambos. Vejo que os professores de artes muitas vezes não tem noção de períodos e contextos históricos, enquanto nós, professores de história, muitas vezes precisamos de ajuda para despertar ou olhar estético e crítico nos alunos. Obrigado
    Paulo Henrique Torres Valgas

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  7. Obrigada Paulo, não tive dialogo com professor(a) de artes, mas tiver orientações de como trabalhar com imagens nas séries iniciais com o professor do estágio e também já tive uma experiência no PIBID/Capes, com a minha supervisora, na qual trabalhamos com imagens sobre o Egito. Concordo com você é importante essa interdisciplinaridade e troca de conhecimentos, que realmente nos desperta outras visões.
    Obrigada,
    Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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  8. Boa tarde Aline!

    É fato que o uso de outros meios no ensino de história é algo necessário, visto que a maioria dos alunos são categóricos quanto a premissa de que a História é chata. O uso de artifícios visuais deveria se tornar uma unanimidade entre os professores já formados e os que ainda estão em formação, visto que, estamos lhe dando com uma geração muito rápida no sentido de consumo da informação. Gostaria de saber se algum dos alunos, nessas aulas, apresentou algum conhecimento prévio ou comum à todos, sobre as iconografias apresentadas na aula?

    Jarmeson Melquiades Soares

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  9. Verdade Jarmeson, a aula de história usando artifícios visuais, se torna uma aula mais dinâmica e prazerosa. Um aluno no momento da charge sobre os abusos da igreja fez um breve comentário. No geral,de forma errônea falarão sobre o candomblé, mas foi importante porque como eles opinarão, foi possível intervir e mudar a visão "preceituosa" que eles havia construído no imaginário deles.
    Obrigada,
    Aline dos Santos Oliveira (Graduanda UNEB/Campus VI)

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