Páginas

Aline dos Santos; Luciene Alves

A IMPORTÂNCIA E OS LIMITES DOS LIVROS DIDATICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DO PIBID SOBRE A LEI 10639/03
Aline dos Santos Oliveira
Luciene Alves Fernandes

O presente trabalho consiste em uma pesquisa de análise dos livros didáticos de Alfredo Boulos Júnior, utilizados pelos alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, do Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira, Caetité- BA. A referente pesquisa foi desenvolvida pelos bolsistas de Iniciação à Docência no Subprojeto “A Formação Inicial do Professor de História e sua Atuação na Escola Básica: o ofício do historiador na docência” / PIBID/ Capes.  E tem como objetivo compreender como autor trabalha os conteúdos das temáticas africana e afro brasileira nas duas modalidades de ensino acima citada, analisando as interfaces com a constituição das memórias e das representações relacionando-se com a demanda necessária a partir da obrigatoriedade da Lei 10.639/03 para Educação Básica
A atuação dos bolsistas de Iniciação à Docência, no Projeto PIBID/CAPES, tem sido uma oportunidade aos acadêmicos dos cursos de licenciaturas em adquirir experiência voltadas para a sala de aula a partir da prática da docência acompanhada. No caso mais específico do PIBID de História vale ressaltar o subprojeto: “A Formação Inicial do Professor e sua Atuação na Escola Básica: O Oficio do Historiador” que propicia aos bolsistas participação, experiências metodológicas por meio da prática de caráter inovador e interdisciplinar identificados no processo de ensino à aprendizagem.
Nesse sentido, de identificarmos o processo de ensino aprendizagem, e percebermos a importância do livro didático, partindo da análise de SILVA(2001) e FAGE( 1982)  que criticam os conteúdos eurocêntricos e superficiais da História da África nos livros didático, entrelaçamos o estudo que (Lajolo, 1996), faz quanto a importância dos mesmos no que tange aos mecanismo na homogeneização dos conceitos, conteúdos e metodologia educacionais, no entanto, ela também deixa claro, que ainda há lacunas nos livros didáticos, pois estes “apresenta conteúdos fragmentados para tornar acessível à compreensão do aluno”, e percebemos um agravamento maior ao se tratar dos conteúdos referente continente africano.
 Dessa forma, a reflexão sobre o subprojeto, já citado, tem fomentado nossa inquietação quanto ao papel que devemos desempenhar frente aos mais diversos problemas enfrentados na construção do conhecimento histórico em sala de aula.  É nesse pressuposto que parte a nossa ação – analisar como Alfredo Boulos Júnior trabalha a História da África. Nesse cenário, cabe ao nosso olhar de professor/historiador analisar os conteúdos das temáticas africanas e afro brasileira no âmbito do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, verificando qual a importância e os limites desses conteúdos nos livros de História adotados pelo Colégio Estadual Tereza Borges de Cerqueira. Este trabalho foi realizado em parceria com a supervisora Jumara Carla e as bolsistas de iniciação à docência Aline Santos e Luciene Fernandes.
Ao se debruçar na análise minuciosa da Lei: 10639, de 09 de janeiro de 2003, “Art. 26 A” que torna obrigatório nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, deixando nítida a obrigatoriedade que o ensino passa a ter com os conteúdos sobre a matriz negra africana na constituição da nossa sociedade no âmbito de todo o currículo escolar. Nesse sentido, vale ressaltar que mesmo com a obrigatoriedade muitos dos professores nas mais diversas disciplinas não exploram conteúdos referentes a essa temática, deixando muitas vezes o conteúdo evadir quando o mesmo se encontra embutido no livro didático. Estes apresentam-se cheios de lacunas, distorções e estereótipos de fome, miséria e doenças reforçado as nas imagens dispostas nos conteúdos.
Analisando os livros de história do Ensino Fundamental de autoria de Alfredo Boulos, diagnosticamos que ele aborda várias temáticas do continente africano, no entanto, é muito superficial, não há um aprofundamento e dessa forma deixa algumas lacunas. Como exemplo, o livro do Ensino Fundamental do 6º ano onde ele traz 11 capítulos dentre eles, 3 aborda sobre o continente africano. Já no livro do 7º ano somente um capítulo é destinado a esse conteúdo abordando sobre a África antes dos europeus. No livro do 8º ano uma temática interessante que ele aborda é a relação do presente com o passado, através das máscaras de flanges, comparando a máscara utilizada por uma escrava e atualmente pelos artistas da Banda Didá, no entanto, não explora questionamentos nessa relação. O que pode ser compreendido como uma deixa para que o professor explore outros recursos, utilize de outras metodologias para incitar um debate tão rico ou pode também acontecer o contrário o professor vendo o livro como uma “muleta” deixa passar despercebido essas nuances do continente africano.
Outro fato notório é com relação aos livros do 9º ano, onde os mesmos traz pouca referência sobre a temática do continente africano, ilustrando somente a Independência da África nos dezessete capítulos o que fica também evidenciado em apenas um e o que é pior somente a metade desse capítulo é que contempla os conteúdos do continente africano e em uma mísera folha no capítulo dezesseis menciona o levante popular na África e no Oriente Médio, oportunidade esta que terá o professor de História de associar essas realidades com a brasileira, num período de crise que passamos.
Quantos aos livros de História do Ensino Médio é perceptível que o autor traz nos três volumes questões extremamente importantes sobre a África, que demandam uma enorme discussão sobre o assunto, quando ele traz a questão da formação política africana, os africanos no Brasil: dominação e resistência e a Independência da África faz uma breve referência, na qual cada conteúdo é explorado em um número muito pequeno de páginas com capítulos extremamente sucintos e o que é pior ainda, que no Ensino Médio os alunos são contemplados com apenas duas aulas semanais.
Dessa forma, de um modo geral diagnosticamos nos livros Boulos uma eventual referência da África com temáticas de suma importância e que não eram abordados em volumes anteriores de outros autores, porém é interessante pensar que ele deixa algumas lacunas e temáticas que deveriam ser trabalhadas e exploradas como por exemplo: os sujeitos africanos, o cotidiano, a religiosidade de um povo.
Nessa perspectiva, o livro didático não deve ser um fiel escudeiro do professor, onde nele se apoiam e depende única e exclusivamente de o livro didático para poder compreender e repassar o conteúdo para os alunos, pois, a importância atribuída ao livro didático em toda a sociedade faz com que ele acabe determinando conteúdos e condicionando estratégias de ensino, marcando de forma decisiva o que se ensina e como se ensina, o que se ensina (LAJOLO, 1996, p. 4).
É nesse sentido, que faz necessário uma tomada de consciência por parte dos professores, ao planejar suas aulas buscar outros recursos para que os alunos possam ver o conteúdo de forma diversificada, mas como também possa inserir no ambiente escolar um debate crítico e coerente do mundo que o cerca.
Ao concluirmos o trabalho de análise do livro didático do autor Alfredo Boulos Júnior, percebemos sim, uma preocupação na inserção dos conteúdos africanos, este fato pode estar relacionado as seleções que os livros passam no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) para ser aprovado e comercializado. Outro fator pode estar relacionado a aprovação das leis: 10.639/03 e 11.645/08 que promove a obrigatoriedade do ensino da História Afro brasileira nas instituições escolares. No entanto, mesmo que de forma muito detalhada e pouco problematizada os conteúdos são dados cabendo aos professores um bom planejamento para ampliar, reforçar, problematizar esses assuntos.

Referência bibliográfica:
BARROS, José D’Assunção. A escola dos Annales e a crítica ao positivismo e ao historicismo. In: Revista Territórios e Fronteiras V.3 N.1 – Jan/Jun 2010.
BOULOS, Júnior, Alfredo. História sociedade e cidadania- Edição reformulada, (Coleção do Ensino Fundamental II e  Médio). – 2.ed.- São Paulo: FTD, 2012.
BRASIL. Marcos Legais da Educação Nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2007.
DIRETRIZES Curriculares Nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília, DF: MEC, 2004.
FAGE, J. D (1982). “A evolução da historiografia africana”. In J. Ki-Zerbo (org.), História geral da África: metodologia e pré-História da África. vol. I. São Paulo/Paris, Ática/ Unesco, pp. 43-59.
LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Em Aberto, Brasília, n. 69, v. 16, jan./mar. 1996.
MEGID NETO, J.; FRACALANZA, H. O livro didático de ciências: problemas e soluções. Ciências e Educação, Bauru – SP, v. 9, n. 2, p. 147-157, 2003
SILVA, Maria Aparecida da. Formação de educadores/as para o combate ao racismo: mais uma tarefa essencial. In: CAVALLEIRO, Eliane (Org). Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossas escolas. São Paulo, Summus, 2001.
SILVÉRIO, Valter Roberto. Síntese da coleção História Geral da África: século XVI ao século XX/ coordenação de Valter Roberto Silvério e autoria de Maria Corina Rocha e Muryatan Santana Barbosa.- Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.  



8 comentários:

  1. Olá meninas, sou do Pará, terminei semana passada o meu quinto período de licenciatura em história pela UNIFESSPA, e esse tema foi bastante mastigado e trabalhado nesse semestre, é uma tema da atualidade bastante trabalhado. Sabemos que há uma "cultura" no ensino, onde professores trabalham com os livros didáticos e fazem deles suas "bengalas", sem se preocuparem em buscar alternativas para trabalhar problemática do tema no livro, ou seja, sem aprofundamentos e reflexões. Minha dúvida é com a implementação da lei 10.639/03 que torna obrigatório o ensino da historia afro brasileiro e africano, não seria mais uma questão de tempo para que o ensino de história torne essa questão a ser trabalhada na sala uma "cultura" a ser construida com a passar do tempo? Pois sabemos que não basta apenas uma lei para que tudo funcione coo esperado e sim uma questão de familiarização com o tema e uma "cultura" no ensino a ser trabalhada.
    Vanessa Nascimento Martins Sales

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Vanessa, Acredito que não era necessário uma lei que obrigasse o ensino da cultura africana, mas que fosse uma obrigação no sistema educacional conter um espaço grande para essa temática. Primeiro lugar por que os africanos faz parte de nossa cultura, quanto a africana nos contribuiu? No entanto, o que se era passado e infelizmente ainda continua, é essa história eurocêntrica da África, é preciso de mais espaço nos livros didáticos, nas escolas para se trabalhar com essa temática. Infelizmente em nossa sociedade, ainda há pessoas racistas, sendo necessário nesse fato a implementação dessa lei, para que haja uma sociedade igualitária e que respeite a cultura africana, ou seja, uma parcela da nossa cultura.É necessário para que aconteça uma mudança de fato, um trabalho em conjunto: a lei, a escola, a comunidade e também os professores, não só os docentes de história mais de todas as áreas.
      Obrigada Vanessa, espero ter respondido a sua dúvida.
      Att,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda de História. UNEB/Campus VI)

      Excluir
  2. Boa noite, meu nome é Thaynara curso História na UNESPAR Campus de União da vitória/PR. Também sou bolsista do PIBID, História da África e cultura africana. Então é fato estas problemáticas,fica muito visível como os livros Didáticos abordam os assuntos de maneira rasa, sem se aprofundar na questão do Continente africano e sua cultura. O professor deve utilizar o livro de maneira crítica, sempre procurando suprir as lacunas que os mesmos deixam. é interessante até mesmo, fazer este processo com os próprios alunos,fazendo-os perceberem que por vezes se precisa buscar algo a mais, ir além as informações. Temos diversos autores, e obras de africanos que nós enriquecem ainda mais, por apresentar a nós a sua cultura do ponto de vista deles, e como ela é rica e diversa. Nosso grupo sempre busca debater textos, comparar materiais didáticos, para assim perceber como melhorá-los, tornar a aula mais atrativa, trazer o conhecimento mais "para perto" do aluno, instigando o senso crítico e mostrando relações. Também junto as nossas pesquisas e aulas,temos um grupo de dança, chamado Ekamba que vai além do projeto em si, nele há características diversas, pois a cultura africana é muito vasta. Com danças, teatros, buscamos apresentar de diferentes formas aos nossos alunos o conhecimento sobre o Continente africano, sua cultura e religiosidade, sendo estas diversas. Buscando conscientizar alunos(as), professores(as) e pais, familiares, sobre a importância do ensino e conhecimento sobre a História da África,e sua cultura e religiosidade. Como vocês analisam esta regressão educacional? pois já tendo todas as problemáticas citadas acima, agora a LDB prevê ser revista, um exemplo a lei 10.639/03. E como vocês veem o atual cenário social, sobre o negro no Brasil? Todas as problemáticas são devidas a esse erro, estas lacunas no ensino sobre o tema, que vem de longa data, sendo por vezes mau trabalhado? Obrigada pela partilha de experiência.
    att, Thaynara Morganna de Souza de Lima.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Thaynara, Que lindo projeto vocês estão fazendo na escola e para a comunidade. Concordo com você, por muito tempo a imagem que o Brasil se tem sobre a África é generalizada, folclórica e estereotipada. E nas escolas não havia uma valorização da cultura africana e sim um ensino eurocêntrico, a história mostrava apenas o negro enquanto escravo. No entanto, com a lei 10.639/03, pouco se mudou, nos livros didáticos, ainda a lacunas enquanto a temática africana, principalmente nos livros do ensino médio. Sendo necessário uma intervenção dos professores para que se possa haver de fato um ensino das culturas africanas. Mas ai nos vem a questão, será que o professor esta preparado para trabalhar com essa temática? E agora recentemente, vemos um retrocesso na educação, é lamentável, é vergonhoso, que a lei 10.639/03 esta ameaçada, com essa proposta do governo da reforma do ensino médio. A luta não acabou, é necessário lutar contra o retrocesso da educação. É necessário para que aconteça uma mudança de fato, um trabalho em conjunto: a lei, a escola, a comunidade e também os professores, não só os docentes de história mais de todas as áreas.

      Obrigada,
      Aline dos Santos Oliveira (Graduanda de História. UNEB/Campus VI)

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
  3. Olá, boa noite.
    Gostaria de parabenizar pela escrita, clareza e coerência na produção textual. Concordo com várias informações apresentadas, inclusive, orientei um TCC referente a mesma coleção, todavia, enfatizando os livros didáticos destinados ao ensino médio. Nesta acepção, é possível dizer que, realmente, o autor traz um 'colorido a mais' no tocante a história africana e afro-brasileira, todavia, enquanto pesquisadora, percebo que ainda há algumas simplificações perigosas nestes materiais... Mas, a minha pergunta é mais relacionada a prática pibidiana, sendo assim, qual a postura docente de quem participa das atividades do projeto no sentido de dar atendimento as ditames da Lei e as premissas de um ensino que contemple a diversidade e valorização do legado afro?
    Att.
    Jessica

    ResponderExcluir
  4. Boa noite. Obrigada Jessica, Nos pibidianos juntamente com nossa supervisora tentamos intervir, buscando novos recursos, novas fontes. Neste ano, no período da escrita estávamos atuando no PROEMI, então desenvolvemos uma oficina no evento de Leituras de Africa, levamos para esse evento os nossos alunos. Na oficina "Uma História sem sujeito", buscamos trabalhar temáticas que não contia no livro didáticos, como: os sujeitos africanos, a cultura afro-brasileira, as Irmandades Negras, dentre outros. Nosso papel enquanto bolsista do pibid é levar novas propostas e recursos para trabalhar em sala de aula junto com nossa supervisora. Trabalhar em parceria com a professora estar sendo gratificante e proporcionando trocas de experiências.
    Obrigada,
    Aline dos Santos Oliveira (Graduanda de História. UNEB/Campus VI)

    ResponderExcluir
  5. É visível que os livros didáticos de história não tratam da vida dos negros pos abolição, é como se o negro só vivesse no período da escravidão, o que ocorreram com eles pos este período é completamente ignorado em muitos dos livros didáticos. Quais medidas vocês sugerem para que professores de história possam desmetificar este tabu, e ensinar aos seus alunos a importância da cultura afro e todas as lutas que eles enfrentaram para a sua propia sobrevivencia no pos-abolição ?
    Por: Patrícia Azeredo Souza
    Parabéns pelo trabalho !!

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.