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FOTOGRAFIAS ESCOLARES COMO FONTE: UMA BREVE ANÁLISE DA ARQUITETURA DO IEPPEP
Thiago Rafael de Souza
Mnt. História UEPG

Fotografias escolares como fonte
As fotografias carregam em si um elemento de rememoração capaz de produzir debates acerca de suas representações imagéticas, onde para interpretá-las é preciso um olhar crítico, considerando vários elementos, como por exemplo, a intenção do fotografo, o contexto de produção, o objetivo do registo e a tecnologia empregada na sua produção (SOUZA, 2001, p. 78).
Os estudos e reflexões sobre os usos da fotografia como fonte colaboram para o conhecimento da memória social e para a compreensão das formas de representação do imaginário coletivo, pois produzem conteúdo vivencial e passível de investigação e identificação. Sendo assim, fontes imagéticas possuem um discurso e apresenta-se como uma fonte privilegiada que permite a leitura de um fragmento do tempo histórico, e que se utilizada com o auxilio de outras fontes históricas permitem ampla reflexão (OLIVEIRA; BITTENCOURT JR, 2012, p. 04).
Em particular, Historiadores da educação preocupam-se na salvaguarda e na preservação de acervos escolares, e novas reflexões possibilitaram um interesse maior com relação à pesquisa das instituições educacionais, permitindo olhar para o seu interior, e ainda possibilitaram aos pesquisadores da educação uma reflexão conceitual e metodológica ampla e diversa, desenvolvendo assim um interesse maior com relação à pesquisa das instituições educacionais e seu “funcionamento interno” (CHARTIER, 1990).
Tomada como instrumento de memória, a fotografia serve como fonte ao historiador e possibilita a construção do conhecimento histórico e de múltiplas atividades e práticas sociais. Como fonte discursiva, inscrevem-se no tempo e ainda representam acontecimentos significativos na memória coletiva institucional.
Como a proposta do texto é analisar as imagens da arquitetura escolar do Instituto de Educação do Paraná, podemos observar a composição arquitetônica do prédio centenário do IEPPEP, como um espaço de representação de uma cultura institucional (SOUZA, 2001, p. 87) e um lugar de memória. 
Por lugares de memória, entendemos a partir do conceito de Pierre Nora, que são lugar que têm ou adquiriram a função de manter viva a memória, são lugares simbólicos, onde a memória coletiva se expressa e se revela. São espaços que carregam características de cada conceito, são um vestígio da memória, e uma possibilidade de construção da história. Lugares híbridos, mistos e mutantes (BREFE, 1996, p. 120) e servem para a valorização da tradição e como solução para o problema da perda de identidade dos grupos sociais.
Considerando o IEPPEP um lugar de memória, as fotografias escolares produzidas pela instituição são expressões e representação de uma cultural institucional carregando consigo uma variedade de significados que procuramos compreender através dessa análise.

Breve histórico do Instituto de Educação do Paraná
Conhecido como uma referência no ensino do Estado do Paraná, a instituição foi criada em 12 de abril de 1876 com dois cursos: Escola Normal e Ginásio pelo então Presidente da Província Adolpho Lamenha Lins.
Só em 1922, a Escola Normal teve suas próprias instalações, quando na comemoração do Centenário da Independência do Brasil, o Governador do Estado, Dr. Caetano Munhoz da Rocha, entregou à Escola Normal o Palácio da Instrução, na Rua Aquidaban (Hoje, Rua Emiliano Perneta).
Em 1923, o Instituto de Educação do Paraná, até então denominado Escola Normal Secundária, é separado do Ginásio Paranaense. A Escola Normal passa a oferecer dois cursos, o Fundamental ou Geral e o Profissional. O curso Geral da Escola Normal em 1936 foi transformado em curso ginasial, e em 1938, esse curso foi fundido ao Ginásio Paranaense. Os alunos foram separados, no Ginásio Paranaense passaram a estudar somente rapazes, e na antiga Escola Normal, agora denominada Secção Feminina do Ginásio Paranaense, somente as moças.
Em 1946, aEscola de Professores passou a ter a denominação de Instituto de Educação do Paraná e pela Lei 5692/71 novas alterações à estrutura do Instituto de Educação aconteceram, através da Proposta Organizacional de Complexos de Ensino.
Em 1992, o Instituto de Educação a ser denominado Instituto de Educação Professor Erasmo Pilotto. Fica apenas um ano com essa denominação e no ano seguinte passa a se chamar Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto – IEPPEP.

Arquitetura Escolar do IEPPEP
O Instituto de Educação é uma edificação grande e imponente, uma construção de estilo eclético, fase da arquitetura brasileira pré-moderna, que mistura vários estilos e Neoclássica é a que mais se sobressai na construção referida. Grande parte das características originais, do prédio construído para comemoração do centenário da independência ainda são mantidas.


Imagem do Instituto de Educação do Paraná na década de 1920 ou 1930. Fonte: Acervo digital do Instituto de Educação do Paraná.
O prédio tem como características colunas grandes e janelas imensas com arcos em cima, salas grandes, pé direito alto, uma escadaria grandiosa na entrada sendo destaque da imensa fachada, levando a um saguão digno de um palacete e que reproduz a imponência da sua arquitetura. Há também um vitral ao qual pode ser observado pelo interior do saguão do colégio, um salão nobre, também conservado de maneira original, com uma imagem do governador Dr. Munhoz da Rocha, cadeira com grandes encostos e em ornadas, com muitos detalhes. Nota-se também um grande portão de ferro, cercado por grades, proporcionando a vista da edificação. Realmente uma fachada imponente, uma construção de grande porte para a década de 1920.

Imagem da escadaria central do saguão – ao fundo observa-se o vitral. Fonte: Acervo digital do Instituto de Educação do Paraná.
Como construção das primeiras décadas da República, os grupos escolares tornaram-se símbolo do progresso sociocultural urbano, pois informavam à sociedade os valores sociais, culturais e morais, onde “O edifício escolar torna-se portador de uma identificação arquitetônica que o diferenciava dos demais edifícios públicos e civis ao mesmo tempo em que o identificava como um espaço próprio” (SOUZA, 1998, p. 123).


Imagem da Fachada do Prédio do IEPPEP – 2006. Fonte: Acervo digital do Instituto de Educação do Paraná.
A estrutura do Instituto de Educação são três pavimentos em forma quadrangular, ambos os andares com as portas das salas de aula voltadas para os corredores proporcionando uma interligação entre as salas e uma vista de todo o pátio de grande parte dos corredores – visão panóptica. Corredores com as grandes colunas já citadas anteriormente e voltadas para o interior da escola.


Imagem do Instituto de Educação do Paraná na década de 50. Fonte: Acervo digital do Instituto de Educação do Paraná.
No saguão central é possível se ver nas paredes placas que contam a história da instituição, muitas delas são homenagens recebidas. Nota-se também a riqueza de detalhes nos acabamentos no teto, nas grandes portas e janelas e no corrimão logo na entrada, com alguns entales. Observa-se uma riqueza nesses pequenos detalhes nos acabamentos da construção, e toda essa composição revelam significados múltiplos que envolvem essas instituições de ensino (SOUZA, 2001 p. 81).

Imagem do saguão central do IEP – 2006. Acervo digital do Instituto de Educação do Paraná.

Considerações Finais
Como a função não mudou ao longo da história, ficaram estabelecidos os atributos básicos que caracterizam a edificação escolar: uma sala retangular, com assentos para os alunos e um quadro para o professor; uma parede com janelas, para receber a iluminação e a ventilação externas; um corredor de comunicação entre as classes; um espaço aberto de convívio e relaxamento.
Através das fotografias escolares, que se relevam traços dessa arquitetura voltada para um espaço específico para as atividades de ensino, que são produzidas com diferentes e diversas finalidades, revelando significados múltiplos que envolvem essas instituições de ensino.

Referencias bibliográficas
BORGES, Maria Eliza Linhares. História & Fotografia. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
BREFE, Ana Claudia Fonseca. Pierre Nora: da história do presente aos lugares de memória. História: Questões & Debates, Curitiba, vol. 13, nº 24, jul./dez. 1996, p. 105-125.
 CHARTIER, Roger. A História Hoje: dúvidas, desafios, propostas. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994, p. 97-113.
_____. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel/Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1990.
LE GOFF, Jacques. Memória. In. História e Memória. Leitão, Bernardo...[et. al.] trad. 4ª ed. Campinas, SP. UNICAMP. 1996.
OLIVEIRA, Rosangela Silva; BITTENCOURT JR., Nilton Ferreira. A FOTOGRAFIA COMO FONTE DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: Usos, dimensão visual e material, níveis e técnicas de análise. I ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISAS E PRATICAS EM EDUCAÇÃO. 2012
SOUZA, Rosa Fátima de. Fotografias escolares: A leitura de imagens na história da escola primária.Educar, Curitiba, n.18, 2001, pp.75-101. 



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